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Marcha Nacional das Mulheres Negras: mobilização histórica pela Reparação e pelo Bem Viver

01 de dezembro de 2025

CESE cumpre missão e impulsiona organizações de mulheres negras em marcha pelo fim do racismo

Dez anos depois da primeira mobilização, cerca de 300 mil mulheres negras de todo o país e de mais de 30 países participaram em Brasília, no dia 25 de novembro, da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver. O momento histórico é fruto de uma articulação nacional de três anos, que culminou na capital do país na maior mobilização de mulheres negras da América Latina.

“Há 10 anos estávamos nós, mulheres negras, marchando em Brasília em busca de reparação, contra a violência pelo bem viver. Dez anos depois estamos aqui novamente para exigir do Estado Brasileiro nossos direitos e acabar com o racismo, as desigualdades raciais, sociais, econômicas”, destacou Rosana Fernandes, assessora de projetos e formação da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE).

Em toda a sua pluralidade, mulheres negras quilombolas, de terreiro, do campo, das florestas, das águas, urbanas marcharam na Esplanada dos Ministérios exigindo do Estado brasileiro o fim do racismo, das desigualdades raciais, sociais e econômicas.

“Dez anos depois, ocupar a praça, ocupar as ruas de Brasília significa trazer à tona que não vamos mais suportar esse racismo estrutural, esse racismo ambiental, esse racismo fundiário. Nós, mulheres negras, estamos aqui para dizer: basta, chega, queremos uma outra sociedade, queremos nossos filhos vivos, queremos as mulheres com pleno direito ao trabalho, com pleno direito a viver em paz, com dignidade. É só isso que queremos”, reforçou Rosana Fernandes. 

Assim como na primeira Marcha em 2015, a CESE também apoiou organizações de mulheres negras como forma de incentivo para participação na mobilização. “Apoiamos projetos, participamos de discussões, tanto na área urbana como na área rural, e dialogamos com as mulheres no sentido de construir e incentivar a participação dessas mulheres”, observa Fernandes.

Por meio de uma chamada específica de apoio, a CESE contribuiu para que 19 organizações participassem da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras em Brasília. A mobilização permitiu a unificação de diversos grupos e a expansão de suas narrativas e apoiou projetos de mulheres negras de todas as regiões do país

Fortalecimento

Um dos apoios foi para a Rede Tumulto, coletivo de comunicação periférica nordestino baseado em Recife (PE), que atua em emergências e quer ocupar o debate sobre o clima.

“Estar na marcha, com o apoio da CESE, é de fato um lugar de expansão das nossas narrativas. Esse apoio contribui para um processo de construir imaginários, de sonhos para as meninas negras jovens das favelas de Recife. Estar na marcha é a reafirmação e a certeza do que vivemos aqui vai construir história para muitas e muitas décadas à frente”, ressaltou a coordenadora da Rede Tumulto, Flora Rodrigues, jovem negra de 22 anos.

Outro projeto apoiado pela CESE foi o Mulheres em Marcha: Corpos, Vozes e Movimento, realizado pelo Centro de Arte e Meio-Ambiente de Salvador (Cama) em conjunto com mais três organizações, Associação das Comunidades Paroquiais de Mata Escura e Calabetão (Acopamec), Movimento de Cultura Popular do Subúrbio e Fórum de Lixo de Cidadania.

O projeto fortaleceu as vozes de mulheres que são beneficiárias dos projetos desenvolvidos por cada instituição, como catadoras de materiais recicláveis, mulheres de alagados e jovens aprendizes, como explica Cristiane Lopes, coordenadora geral do Cama: “o apoio da CESE foi de fundamental importância, porque garantiu tanto a alimentação quanto o translado dessas mulheres e também uniformizadas com camisa, vestindo essa bandeira que é lutar pelo direito da mulher negra no Brasil”.

A marcha também contou com a participação de um coletivo de 14 mulheres negras que trabalham na CESE. Tamires Ventura, destacou a importância de participar pela primeira vez da mobilização. “Estamos aqui hoje para mais uma vez lutar por reparação e contra todos os tipos de violência que nós mulheres sofremos”.

Momento histórico

Há 10 anos, a primeira marcha de 2015 já era uma denúncia em razão do racismo estrutural no país. Agora, as mulheres negras voltaram para exigir reparação histórica e bem viver. E para ecoar essas pautas a comunicação tem papel crucial. Durante a marcha, diversos coletivos de comunicação e mídia independente reportaram sobre a Marcha em seus veículos e canais de comunicação, um desses exemplos é a Revista Afirmativa, que é um coletivo de jovens comunicadores/as negros/as que organiza um veículo (impresso e online) de mídia livre, independente e de abrangência nacional, auto declarado como mídia negra.

“Tem sido um exercício que mostra na prática a importância da comunicação para a gente produzir a memória sobre o movimento de mulheres negras e sobre o dia histórico que a gente está vivenciando aqui, a semana histórica, a construção histórica que foi a marcha e sem dúvidas o apoio da CESE foi fundamental para produzirmos isso”, ressaltou Andressa Franco da Revista Afirmativa.

“As mulheres negras têm um projeto de país, então nós conseguimos ouvir essas mulheres, suas demandas, suas reivindicações, mas principalmente as suas propostas para um Brasil que é um mundo onde a reparação e o bem viver sejam possíveis e estamos conseguindo registrar tudo isso em tempo real, é histórico”, destacou Franco.

Do Tocantins, o coletivo Feminista de Mulheres Negras Ajunta Preta também marcou presença na Marcha. “O apoio da CESE para estarmos aqui foi fundamental, principalmente porque esse é um momento histórico para nós mulheres negras nessa luta por reparação e bem viver, lutamos por justiça e queremos que nossas vozes ocupem os espaços de poder para que possamos acessar essas transformações que tanto almejamos”, afirmou Jéssica Rosane, integrante do coletivo.

Manifesto

Além de fortalecer as organizações de mulheres negras de todo o país, a Marcha Nacional das Mulheres Negras intensificou a incidência política para que todas as mulheres negras tenham uma vida digna, sem racismo e sem violência.

No manifesto político, a Marcha denuncia que não há democracia possível enquanto persistirem as violências estruturais do colonialismo, do racismo, do patriarcado e da crise climática. A marcha reivindica protagonismo político e a responsabilização de Estados, elites econômicas, igrejas e instituições que historicamente lucraram com a escravidão, a expropriação de terras e a violação das humanidades negras.

“Marchar por Reparação e Bem Viver exige a adoção de um amplo programa que se distancie das propostas desenvolvimentistas em curso, algumas indisfarçavelmente bélicas, e de uma visão que nos exclui do exercício do comum. Nosso projeto político é constituído de outras matrizes, de outros saberes e fazeres, de outras cosmopercepções e filosofias, o que significa a luta constante contra o racismo patriarcal”, diz trecho do manifesto lançado na abertura da mobilização.

Para Terlúcia Silva, do comitê organizador da Marcha, a mobilização atingiu o objetivo que era mobilizar mulheres em sua diversidade. “A marcha foi esse momento histórico, enquanto culminância de um processo de três anos, mas ela não se encerra por aqui. Nós continuamos na luta, é preciso fortalecer a incidência política e acreditamos que o grande legado da marcha é o fortalecimento das organizações das mulheres negras, do movimento de mulheres negras e sobretudo da incidência política para que todas tenhamos uma vida digna, sem racismo, sem violência e com bem viver”.

“Nada sobre o clima sem as mulheres negras”

Além das pautas gerais por reparação e bem viver, durante a Marcha a CESE colocou novamente nas ruas a campanha Nada sobre o clima sem as mulheres negras, que foi lançada na COP 30, durante a Cúpula dos Povos, em meados de novembro em Belém (PA).

A campanha denuncia que a crise climática aprofunda desigualdades e atinge com mais força as populações vulnerabilizadas, especialmente mulheres negras, principais afetadas pelo racismo ambiental. Mesmo sobrecarregadas pelo abandono do Estado, elas também são líderes de resistência nos territórios urbanos, rurais, quilombolas e ribeirinhos.

Um dia antes da Marcha Nacional, projeções da campanha ocuparam prédios e espaços públicos de Brasília. As luzes que tomaram Brasília anunciaram o chamado das mulheres negras que defendem seus territórios, denunciam o racismo ambiental e reivindicam justiça climática. “Agora esta campanha vai voltar para todos os estados junto com as bandeiras de luta para que não haja nenhuma decisão sobre o clima sem a participação das mulheres negras”, observou Rosana Fernandes.


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