Sussuarana: identidade, cultura e memória negra na periferia de Salvador

Sussuarana: identidade, cultura e memória negra na periferia de Salvador

Sussuarana, bairro da periferia da capital Salvador (BA), foi palco do “Projeto Afrocultura” e da “22º Caminhada da Consciência Negra em Sussuarana”. Realizado em novembro e com apoio da CESE, as iniciativas buscaram resgatar as raízes afro-brasileiras e fortalecer os laços de comunidade no território.

“Nosso objetivo principal é fortalecer nossa identidade, preservar a cultura afro-brasileira e criar espaços onde as comunidades possam se reconhecer e se valorizar. Queremos que nossas crianças e jovens saibam que suas raízes são ricas, poderosas e cheias de história”, explica Antonia Elita Santos, presidenta do Centro de Direitos Humanos Franco Pellegrini (Cedhu), um dos organizadores do projeto.

Antonia explica que este foi o primeiro ano do Projeto Afrocultura, que promoveu oficinas de estética negra, dança afro, percussão e capoeira, tudo isso aliado à formação em direitos humanos e equidade racial para a comunidade, em especial para a juventude. Com mais de 130 inscritos, o ciclo de formação teve encerramento com a Noite Afrocultural, que reuniu um público de cerca de 150 pessoas com apresentação de diversos artistas locais. Para a presidenta, iniciativas como essa exaltam o que o bairro tem de melhor: uma juventude viva e talentosa.

“Sussuarana é um território de resistência e potência negra, além de ser um verdadeiro ‘celeiro cultural de Salvador’. A juventude daqui enfrenta muitos desafios, mas também possui um potencial incrível. Debater questões raciais e exaltar nossa cultura é uma forma de combater o racismo estrutural, fortalecer a autoestima e mostrar para os jovens que eles são herdeiros de uma história de luta e conquistas. As juventudes precisam se ver como protagonistas do presente e construtores de um futuro melhor”, ressalta.

Sussuarana: povo nas ruas, mulheres negras na história

Outra iniciativa composta pelo projeto foi a realização da 22ª Caminhada da Consciência Negra em Sussuarana, tradicional manifestação que lota as ruas do bairro no mês de novembro. Com o tema “A Mulher Negra Tem História”, a proposta dessa edição foi provocar a comunidade a refletir sobre os apagamentos e desafios enfrentados pelas mulheres na sociedade.

“É nosso dever lembrar ao mundo que as mulheres negras sempre estiveram na linha de frente das lutas por justiça, igualdade e liberdade. Somos professoras, líderes comunitárias, artistas, mães, guerreiras. Ao trazer esse tema, provocamos a sociedade a reconhecer essas histórias que muitas vezes são apagadas e a refletir sobre o que ainda precisamos e merecemos conquistar”, explica Antonia.

A programação da Caminhada contou com shows, apresentações de capoeira, danças afro e com o desfile do Reinado Odara. Com muita energia, o povo tomou as ruas do bairro nesta celebração, que é também um manifesto de luta e de vida.

“Foi lindo ver tantas pessoas, grupos culturais e escolas ocupando as ruas com alegria, força e resistência. Cada rosto ali mostrava que nossa mensagem está sendo ouvida e que nossa luta continua viva”, destaca Antonia, animada.

A presidenta salienta a importância do apoio da CESE para a realização dessas atividades. “O apoio da CESE foi essencial. Agradecemos por acreditarem no nosso projeto e nos ajudarem a transformar uma ideia em realidade. Valorizar a cultura negra faz toda a diferença para Sussuarana e para toda Salvador”. Com empolgação, ela também anuncia que os próximos passos já estão sendo dados.

“Foi emocionante ver o impacto que essas ações têm na comunidade e em toda a cidade. Já estamos pensando nas próximas edições, porque entendemos que esses espaços são fundamentais para manter viva nossa cultura e continuar fortalecendo nossa gente”.