Não poderia ser em outro lugar. A “Celebração da Alegria e do Compromisso”, momento inter-religioso na Igreja da Santíssima Trindade na noite desta terça-feira (13) para marcar os 50 anos da CESE, reforça o lugar que a organização sempre ocupou ao longo dessas cinco décadas: ao lado daqueles e daquelas que são marginalizados/as pela sociedade.
O lugar que acolhe pessoas em situação de rua recebeu também lideranças de religiões de matrizes africanas, das espiritualidades indígenas, de movimentos populares, parceiros e parceiras de caminhada da CESE para, unidos/as em sua mais ampla diversidade, celebrarem juntos/as essa trajetória. Em sua fala de abertura, Sônia Mota, diretora executiva da CESE, reforçou a importância de marcar este momento na Trindade.
“Não poderia ser outro lugar a acolher essa celebração da alegria e do compromisso. A Trindade sempre nos acolhe de braços abertos. Aqui nós encontramos aconchego e as nossas energias se renovam. Para uma organização que trabalha com a defesa dos direitos e foi fundada na Ditadura Militar, conseguir chegar a 50 anos de trabalho é motivo de agradecer a Deus.”, afirmou a diretora.
A celebração contou com a presença de representantes das igrejas membro da CESE, amigos e amigas que fazem parte da trajetória dos 50 anos da instituição, organizações parceiras, a equipe executiva, diretoria institucional, ex-funcionários (as), ex-diretores (as) e as organizações da sociedade civil que integram o público beneficiário da instituição.
No início da celebração, lideranças dos movimentos sociais e integrantes da CESE entraram na igreja segurando cartazes com frases que representam a luta por direitos: reforma agrária, antirracismo, agroecologia, proteção às mulheres, ecumenismo e diálogo inter-religioso, dentre outras.
“Em nome da Divindade Sagrada que na tradição Cristã age de forma Trinitária nos chamando para partilhar dons, aqui nos reunimos para celebrar os 50 anos da CESE, expressão da diaconia de serviço em defesa dos direitos humanos”, afirmou a presbítera Eleni Rangel, da Igreja Presbiteriana Independente e presidenta da CESE, na invocação que deu início à celebração.
O Pastor Cláudio Rebouças, da Igreja Presbiteriana Unida e primeiro secretário da CESE, destacou que aquele momento também reivindicava um olhar para a ancestralidade. “A esses homens e mulheres, a nossa gratidão a Deus. O avivamento da memória é pra gente não se perder no caminho, é pra gente saber quais os eixos, as identidades, os processos que a gente não pode abrir mão.”
Todo a celebração foi marcada pela simbologia dos movimentos, do respeito à liberdade religiosa e da resistência. Mantendo os pés fincados onde sempre esteve, a CESE celebrou seus 50 anos com parceiros e parceiras que caminharam lado a lado com a organização nessas cinco décadas, renovando seu compromisso com a luta em defesa dos direitos humanos e sua esperança em tempos de justiça com democracia.
Diálogo, articulação e inter-religiosidade
O momento inter-religioso foi aberto pelo pastor Renato Küntzer, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e segundo tesoureiro da CESE, em uma oração por respeito à diversidade. As religiões de matriz africana foram representadas por Mãe Jaciara de Oxum, Iyá Márcia de Ogum e Egbon d’ Osun do ILê Axé Ofá Omi Layó Ana Gualberto, diretora executiva de Koinonia – Presença Ecumênica e Serviço. Parceira histórica da CESE, Mãe Jaciara parabenizou a organização pelo seu impacto nas comunidades.
“Essa presença em nossos terreiros, a partir de oficinas, de caminhadas contra intolerância religiosa, a partir do acolhimento, do auto-cuidado às mulheres, a partir de sementes – porque a gente faz projetos em que plantamos nossas ervas sagradas, em que plantamos nossa ancestralidade.”
Representando as espiritualidades indígenas, Beatriz Tuxá, que também faz parte da equipe CESE, trouxe para a celebração um canto que é entoado em sua terra, a Aldeia Tuxá Kiniopará, durante o Toré, um ritual realizado pelo seu povo. O canto se chama Lêlaindôa.
Outra parceira histórica da organização presente na celebração foi Marizelha Lopes, quilombola e pescadora de Ilha de Maré que integra a Articulação Nacional das Pescadoras (ANP). “Essa semente não é uma semente qualquer. É uma semente orgânica, crioula, que é aquela que a gente vai passando de comunidade em comunidade. Essa semente que é a CESE é a notícia de quem tem essa organização que lembra que tem povo que precisa ser acolhido. Essa semente tem se multiplicado e trazido muitos frutos na resistência.”
Encerramento
A celebração também contou com a participação dos Reverendos Áureo Bispo e Celso Dourado, ambos fundadores da CESE, e do Padre Joãozinho, liderança marcante da Igreja da Santíssima Trindade, que, juntos, concederam a benção aos/às presentes.
No ofertório do povo, foram distribuídos alimentos oriundos da agricultura familiar produzidos por organizações sociais, que têm projetos apoiados pela CESE. A celebração foi encerrada com a partilha da sopa, tradição da comunidade da Trindade, e também pelo acender das velas, em um momento coletivo de compartilhamento de luz.
Veja mais fotos da celebração inter-religiosa “Celebração da Alegria e do Compromisso” aqui
Assista a celebração na íntegra no youtube da CESE:
50ª Assembleia
Ainda nesta sequência de eventos que marcaram a semana dos 50 anos da CESE, a nossa Diretoria Institucional veio a Salvador para participar da 50ª Assembleia Anual da organização. Dentre debates, avaliações e partilhas, foram votados o relatório de atividades e o relatório financeiro, os quais foram aprovados por unanimidade.
A sra Josileide dos Santos, da Aliança de Batistas do Brasil e integrante do Conselho Fiscal da CESE, destaca uma fala que sempre gosta de trazer para este momento. “Os relatórios da CESE não nos mostram apenas números. São vidas, comunidades e transformação de realidade. Nestas cinco décadas, em períodos difíceis como os últimos 4 anos, é louvável a sua determinação em manter o seu foco e sua posição ao lado dos marginalizados e ainda ampliar o seu alcance para mais pessoas”.