Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5.24)
Nos dias 03 a 04 de outubro, no oeste baiano, nós, representações de diferentes expressões de fé, provocados e provocadas pela Coordenadoria Ecumênica de Serviço com o apoio do Fórum Ecumênico ACT-Brasil, realizamos a V Missão Ecumênica com o objetivo de dar visibilidade nacional e internacional aos conflitos relacionados à água.
Nossa missão realizou-se nos dias em que lembramos e celebramos o carisma de Francisco de Assis que reconhecia na Mãe Terra, nossa Pachamama, um ser vivo merecedor de afetos, cuidados e amor. Esta espiritualidade que compreende o ser humano como a parte menor de uma complexa teia de vida é a força que sustenta nossa caminhada missionária.
Fomos impactados e impactadas pelas profecias de denúncia realizadas na audiência pública por mulheres e homens que sofrem os impactos de um sistema capitalista antidemocrático que nega o direito à existência de comunidades tradicionais.
Os clamores que ouvimos denunciaram a expansão dos tentáculos de um sistema explorador que transforma a terra e a água em mercadorias, aniquilando estas duas forças que são expressões do sagrado para os povos tradicionais.
“Todos e todas nós temos a cor da terra na pele” – lembrou-nos uma das mulheres impactadas pelo projeto de desenvolvimento que nega o direito à existência das muitas culturas que formam o cerrado baiano. Todos e todas temos a cor da terra em nossa pele, remete-nos à nossa ancestralidade primordial – ADAM – aquele que é da cor da terra.
Pistolagem, grilarem, assédio moral, manipulação de informações, restrição do direito de ir e vir, pressão para deixar suas terras são algumas das violências denunciadas. Identificamos em Barreiras, Correntina, São Desidério, Serra Dourada e outros municípios como o agronegócio age na região e em tantos territórios do país, de modo autoritário, agressivo e incapaz de conviver com a diversidade da criação.
A dignidade dos lutadores e lutadoras das comunidades geraizeiras, pescadores e pescadoras artesanais e de fundo e fecho de pasto é a força propulsora da capacidade de resistência destas comunidades.
Nós não queremos esmola. Queremos nosso direito à água e o de manter nosso modo de vida tradicional. Esta reivindicação contrastou com as tentativas de agentes públicos darem respostas às demandas apresentadas em um contexto de ausência do Estado democrático de direito e de prevalência da opção por uma política agrária que não reconhece modos tradicionais de vida.
De tudo o que ouvimos e aprendemos cabe-nos compartilhar alguns desafios fundamentais para a região:
- Que o poder público garanta a titularidade da terra dos povos tradicionais impedindo que o agronegócio e suas milícias privadas se apropriem indevidamente de um território sagrado para os povos tradicionais;
- Que os órgãos competentes realizem pesquisa sobre o impacto do agrotóxico nos peixes e nos alimentos consumidos pelas comunidades;
- Garantir mecanismos de efetivo controle social nos processos de outorga;
- Urgência em reunir diferentes comunidades para a elaboração de uma agenda de ação comum;
Nosso clamor é o clamor de um dos camponeses presentes na audiência pública: Tenha compaixão do camponês e tenha compaixão da Terra e das Águas!
“Das nascentes ao São Francisco, águas para a vida”.
Correntina, outubro de 2019.