Por Carolina Borges Zanetti: Obrigada, pai!
06 de março de 2022
São 16:22 dia 25/02/2022.
A Ucrânia foi invadida pela Rússia.
Meu pai tá no Hospital. Ele esta morrendo.
Estamos nos revezando, para estar com ele, com amor, com cuidado.
As plantas da minha casa estão crescendo. Estão bonitas.
Eu estou bebendo uma cerveja, mais uma…escrevo, olho para o mar.
O mundo, a natureza, continuam… ele vai, ela vai…a gente vai.
E a gente vai e nem vê direito, nem entende direito…nem se entende…e já foi.
Meu pai, a melhor pessoa que eu conheço. Ele está indo.
Ele quis mudar o mundo.
Ele não mudou o mundo, mas mudou a vida de muitas pessoas.
Mudou acreditando num lugar mais igual. Igual pra pretos, brancos, indígenas, lgbtqis, católicos, protestantes, evangélicos, religiosos de matrizes africanas… ele mudou amando o mundo, apoiando projetos, mudou como uma criança muda seu entorno quando chega…
Ele não mudou o mundo.
A fome tá aí.
Bolsonaro tá aí.
O guri da Elza tá aí.
A guerra tá aí.
A Amazônia tá queimando.
O homem tá querendo sempre mais.
O homem, ele não mudou.
Meu pai tá morrendo.
Ele é meu herói.
A maré tá enchendo,
Ou vazando.
A lua tá enchendo,
Ou minguando.
Meu pai tá indo.
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.
Ele sempre acreditou…e acredita.
Ele devaneia, está exausto.
Mas ele sabe.
Ele vem do lugar dos que sabem.
Eu queria aprender mais, Desfrutar mais,
Subir com ele as escadas da minha casa.
Ver as nuvens, o por do sol e mostrar as amoras nascendo no vaso.
Meu pai tá morrendo.
Eu o amo como filha…mas é maior. Eu o admiro…ele é o melhor ser humano que conheço.
Que sorte a minha.
Ele é meu pai.
Uma hora eu vou…todos vão…daqui a pouco ele vai. E eu queria mais.
Eu quero acreditar que pode ser. Mas não consigo.
Eu tenho medo. Eu nunca perdi um pai. Ainda mais um pai assim.
O mundo vai.
Eu bebo um gole.
Amargo.
O mundo gira, a guerra mata tanta gente única e amada.
A fome mata.
A pobreza mata.
O feminicídio mata.
O racismo mata.
O capitalismo mata.
O linfoma mata.
Pai. Eu te amo. Eu tenho medo de sofrer.
Mas tenho mais medo de você sofrer.
Logo você…a melhor pessoa que muitos conhecem.
Que sorte a minha ter você.
Que azar essa doença. Porquê?
Fica pai!
E se não for ficar, vai em paz…
Quem sabe é algo superior querendo te levar pra não ver a tristeza que estamos construindo no mundo.
Você que sempre acreditou, espero que esteja certo.
Espero que seja mesmo azar… que o mundo um dia seja como você idealizou.
Espero que você não esteja indo tão cedo para ser poupado.
E que aqui seja um lugar melhor para seus netos e para os netos de todos.
Você não estará aqui. Mas estará em paz.
Obrigada, pai.
Carolina Borges Zanetti
VEJA O
QUE FALAM
SOBRE NÓS
Viva os 50 anos da CESE. Viva o ecumenismo que a organização traz para frente e esse diálogo intereclesial. É um momento muito especial porque a CESE defende direitos e traz o sujeito para maior visibilidade.
A CESE foi criada no ano mais violento da Ditadura Militar, quando se institucionalizou a tortura, se intensificaram as prisões arbitrárias, os assassinatos e os desaparecimentos de presos políticos. As igrejas tiveram a coragem de se reunir e criar uma instituição que pudesse ser um testemunho vivo da fé cristã no serviço ao povo brasileiro. Fico muito feliz que a CESE chegue aos 50 anos aperfeiçoando a sua maturidade.
Somos herdeiras do legado histórico de uma organização que há 50 anos dá testemunho de uma fé comprometida com o ecumenismo e a diaconia profética. Levar adiante esta missão é compromisso que assumimos com muita responsabilidade e consciência, pois vivemos em um país onde o mutirão pela justiça, pela paz e integridade da criação ainda é uma tarefa a se realizar.
Há muito a celebrar e agradecer! Nestes anos todos, a CESE tem sido uma parceira importantíssima dos movimentos e organizações populares e pastorais sociais. Em muitos casos, o seu apoio foi e é decisivo para a luta, para a vitória da vida. Faz as exigências necessárias para os projetos, mas não as burocratiza nem as excede. O espírito solidário e acolhedor de seus agentes e funcionários faz a diferença. O testemunho de verdadeiro ecumenismo é uma das suas marcas mais relevantes! Parabéns a todos e todas que fazem a CESE! Vida longa!
Conheço a CESE desde 1990, através da Federação de Órgãos para Assistência Social (FASE) no apoio a grupos de juventude e de mulheres. Nesse sentido, foi uma organização absolutamente importante. E hoje, na função de diretor do Programa País da Heks no Brasil, poder apoiar os projetos da CESE é uma satisfação muito grande e um investimento que tenho certeza que é um dos melhores.
Eu preciso de recursos para fazer a luta. Somos descendentes de grupos muito criativos, africanos e indígenas. Somos na maioria compostos por mulheres. E a formação em Mobilização de Recursos promovida pela CESE acaba nos dando autonomia, se assim compartilharmos dentro do nosso território.
A relação de cooperação entre a CESE e Movimento Pesqueiro é de longa data. O apoio político e financeiro torna possível chegarmos em várias comunidades pesqueiras no Brasil para que a gente se articule, faça formação política e nos organize enquanto movimento popular. Temos uma parceria de diálogos construtivos, compreensível, e queremos cada vez mais que a CESE caminhe junto conosco.
Há vários anos a CESE vem apoiando iniciativas nas comunidades quilombolas do Pará. A organização trouxe o empoderamento por meio da capacitação e formação para juventude quilombola; tem fortalecido também o empreendedorismo e agricultura familiar. Com o apoio da CESE e os cursos oferecidos na área de incidência política conseguimos realizar atividades que visibilizem o protagonismo das mulheres quilombolas. Tudo isso é muito importante para a garantia e a nossa permanência no território.
A relação de cooperação entre a CESE e Movimento Pesqueiro é de longa data. O apoio político e financeiro torna possível chegarmos em várias comunidades pesqueiras no Brasil para que a gente se articule, faça formação política e nos organize enquanto movimento popular. Temos uma parceria de diálogos construtivos, compreensível, e queremos cada vez mais que a CESE caminhe junto conosco.
Parabéns à CESE pela resistência, pela forte ancestralidade, pelo fortalecimento e proteção aos povos quilombolas. Onde a política pública não chega, a CESE chega para amenizar os impactos e viabilizar a permanência das pessoas, das comunidades. Que isso seja cada vez mais potente, mais presente e que a gente encontre, junto à CESE, cada vez mais motivos para resistir e esperançar.