Nota Pública do CEBIC
06 de fevereiro de 2022
Salvador – Bahia 12 de fevereiro de 2022
Deus é espírito importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade (João 4.24)
O Conselho Ecumênico Baiano de Igrejas Cristãs – CEBIC, vem por meio desta nota, solidarizar-se com o povo de matriz africana que sofre mais um ato de racismo religioso, desta vez com a tramitação do projeto de lei 411/2021 que tem o objetivo de mudar o nome das Dunas do Abaeté para “Monte Santo Deus Proverá”, sob a alegação de que aquele é um espaço muito frequentado pelas pessoas Cristãs, principalmente pentecostais e neopentecostais.
Consideramos tratar-se de racismo religioso porque este é um dos poucos espaços públicos de grande visibilidade cujo nome e história está diretamente ligado às tradições religiosas de matriz africana.
Vivemos em uma cidade cujos símbolos religiosos cristãos vão desde o nome da cidade “São Salvador” até crucifixos dependurados em repartições públicas. Sem contar as mais de 365 igrejas católicas e outras tantas evangélicas, espalhadas pela cidade.
Isso significa que as religiões de matriz africana têm infinitamente menos espaços que façam alusão à sua história, cultura e tradições. Porque queremos mais, quando já temos tanto?
Sim, a lagoa e suas dunas é um espaço público, e qualquer pessoa tem o direito de desfrutar de suas águas escuras e de sua areia branca. O que não nos é permitido na condição de pessoas Cristãs é comungarmos com esse ato desrespeitoso e racista.
Mudar o nome das Dunas do Abaeté sob o argumento de que este é um local frequentado por pessoas Cristãs, é o mesmo que querer mudar o nome da cidade de “São Salvador” alegando que aqui não moram apenas pessoas Cristãs. Ou seja, mudar
o nome das Dunas do Abaeté é mais uma tentativa de apagar a memória do povo das religiões de matriz africana, e por isso, denunciamos como racismo religioso.
Por fim, declaramos que o Deus que adoramos é espírito e os que o adoram, o fazem em espírito e em verdade. Não precisamos mudar o nome de nenhum lugar para dar testemunho da fé que professamos.
Toda nossa solidariedade e apoio na luta contra o racismo religioso.
Assinam esta nota:
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
Igreja Evangélica de Confissão Luterana
Igreja Presbiteriana Unida do Brasil
Igreja Católica Apostólica Romana – Arquidiocese de Salvador-Ba
Igreja Batista de Nazareth
Comunidade de Jesus
Comunidade da Trindade
Comunidade dos Focolares
Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE
Centro de Estudos Bíblicos – CEBI – Bahia
VEJA O
QUE FALAM
SOBRE NÓS
Somos herdeiras do legado histórico de uma organização que há 50 anos dá testemunho de uma fé comprometida com o ecumenismo e a diaconia profética. Levar adiante esta missão é compromisso que assumimos com muita responsabilidade e consciência, pois vivemos em um país onde o mutirão pela justiça, pela paz e integridade da criação ainda é uma tarefa a se realizar.
Minha história com a CESE poderia ser traduzida em uma palavra: COMUNHÃO! A CESE é uma Família. Repito: uma Família! Nos dois mandatos que estive como presidente da CESE pude experimentar a vivência fraterna e gostosa de uma equipe tão diversificada em saberes, experiências de fé, histórias de vida, e tão unida pela harmonia criada pelo Espírito de Deus e pelo único desejo de SERVIR aos mais pobres e vulneráveis na conquista e defesa dos seus direitos fundamentais. Louvado seja Deus pelos 50 anos de COMUNHÃO e SERVIÇO da CESE! Gratidão por tudo e para sempre!
Ao longo desses 50 anos, fomos presenteadas pela presença da CESE em nossas comunidades. Nós somos testemunhas do quanto ela tem de companheirismo e solidariedade investidos em nossos territórios. E isso tem sido fundamental para que continuemos em luta e em defesa do nosso povo.
A CESE não está com a gente só subsidiando, mas estimulando e fortalecendo. São cinquenta anos possibilitando que as ditas minorias gritem; intervindo realmente para que a gente transforme esse país em um lugar mais igualitário e fraterno, em que a gente possa viver como nos quilombos: comunidades circulares, que cabe todo mundo, respirando liberdade e esperança. Parabéns, CESE. Axé e luz para nós!
Viva os 50 anos da CESE. Viva o ecumenismo que a organização traz para frente e esse diálogo intereclesial. É um momento muito especial porque a CESE defende direitos e traz o sujeito para maior visibilidade.
Celebrar os 50 anos da CESE é reconhecer uma caminhada cristã dedicada a defesa dos direitos humanos em todas as suas dimensões, comprometida com os segmentos mais vulnerabilizados da população brasileira. E valorizar cada conquista alcançada em cada luta travada na busca da justiça, do direito e da paz. Fazer parte dessa caminhada é um privilégio e motivo de grande alegria poder mais uma vez nos regozijar: “Grande coisas fez o Senhor por nós, e por isso estamos alegres!” (Salmo 126.3)
Eu preciso de recursos para fazer a luta. Somos descendentes de grupos muito criativos, africanos e indígenas. Somos na maioria compostos por mulheres. E a formação em Mobilização de Recursos promovida pela CESE acaba nos dando autonomia, se assim compartilharmos dentro do nosso território.
Parabéns à CESE pela resistência, pela forte ancestralidade, pelo fortalecimento e proteção aos povos quilombolas. Onde a política pública não chega, a CESE chega para amenizar os impactos e viabilizar a permanência das pessoas, das comunidades. Que isso seja cada vez mais potente, mais presente e que a gente encontre, junto à CESE, cada vez mais motivos para resistir e esperançar.
Há vários anos a CESE vem apoiando iniciativas nas comunidades quilombolas do Pará. A organização trouxe o empoderamento por meio da capacitação e formação para juventude quilombola; tem fortalecido também o empreendedorismo e agricultura familiar. Com o apoio da CESE e os cursos oferecidos na área de incidência política conseguimos realizar atividades que visibilizem o protagonismo das mulheres quilombolas. Tudo isso é muito importante para a garantia e a nossa permanência no território.
A CESE completa 50 anos de testemunho de fé ativa no amor, faz jus ao seu nome. Desde o início, se colocou em defesa dos direitos humanos, denunciou atos de violência e de tortura, participou da discussão de grandes temas nacionais, apoiou movimentos sociais de libertação. Parabéns pela atuação profética, em prol da unidade e da cidadania. Que Deus continue a fazer da CESE uma benção para muitos.