Injustiças: 55 anos do golpe militar
29 de março de 2019‘Ai dos que decretam leis injustas e dos escrivães que escrevem perversidades,
para prejudicarem os pobres em juízo, e para arrebatarem o direito
dos aflitos do meu povo, e para despojarem
as viúvas, e para roubarem os órfãos!’ (Isaías 10,1-2)
Em 2014, nas atividades que relembravam os 50 anos do golpe militar, dizíamos sem tanta convicção, que estávamos vivendo o período mais longo de nossa frágil democracia – algo a comemorar e aprofundar. Falávamos de ‘entulhos autoritários’ – como a cultura violenta de nossas polícias ou a sobrevivência da justiça militar – como sendo restos insepultos, renitentes, mas que com o tempo, camadas de novas conquistas sociais e participação popular fatalmente iriam aplainar o horizonte, dando margem para uma sociedade mais justa e igualitária.
A Constituinte de 88 foi uma miragem. Passando a limpo os remendos e injustiças históricas da nação, parecia o amálgama para a consolidação democrática, até porque reconhecia novos sujeitos e identidades coletivas que estavam invisíveis e fora do sistema de justiça.
Contudo, a permanência dos elementos estruturantes do racismo, do sexismo e enormes diferenças de classe e de concentração de renda, mostraram o quanto a sociedade brasileira só aparentemente convivia ‘cordialmente’. Vivemos uma situação de apartheid social, exploração predatória de nossas riquezas, populações tradicionais e da juventude negra sendo dizimadas.
No plano político, a sociedade sofre um estado de exceção desde o impeachment, passando pela insustentável prisão política de Lula e pelo processo midiático eleitoral imbricado ao fundamentalismo religioso, culminando com a progressiva militarização do poder e, na onda neoliberal, à subserviência ao império do Norte. Desfaçatez tamanha fez Bolsonaro determinar que os militares comemorem o golpe militar no dia 31 de março.
Em nota pública, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão-PFDC, juntamente como Ministério Público Federal – MPF lembram que “É incompatível com o Estado Democrático de Direito festejar um golpe de Estado e um regime que adotou políticas de violações sistemáticas aos direitos humanos e cometeu crimes internacionais”.
A mesa está posta, assim como nossos corpos.
Mas nesses 55 anos que nos separam do golpe, a CESE – organização ecumênica inspirada nos princípios da fé cristã, reafirma o seu compromisso com a radicalidade democrática e se alinha com quem exige a “democratização da democracia” para se alcançar um projeto de nação onde todos e todas estejam verdadeiramente contemplados/as. Resistir e esparançar são palavras que nos sustentam em tempos sombrios.
Ditadura nunca mais! Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!
VEJA O
QUE FALAM
SOBRE NÓS
Somos herdeiras do legado histórico de uma organização que há 50 anos dá testemunho de uma fé comprometida com o ecumenismo e a diaconia profética. Levar adiante esta missão é compromisso que assumimos com muita responsabilidade e consciência, pois vivemos em um país onde o mutirão pela justiça, pela paz e integridade da criação ainda é uma tarefa a se realizar.
A gente tem uma associação do meu povo, Karipuna, na Terra Indígena Uaçá. Por muito tempo a nossa organização ficou inadimplente, sem poder atuar com nosso povo. Mas, conseguimos acessar o recurso da CESE para fortalecer organização indígena e estruturar a associação e reorganizá-la. Hoje orgulhosamente e muito emocionada digo que fazemos a Assembleia do Povo Karipuna realizada por nós indígenas, gerindo nosso próprio recurso. Atualmente temos uma diretoria toda indígena, conseguimos captar recursos e acessar outros projetos. E isso tudo só foi possível por causa da parceria com a CESE.
Nós, do SOS Corpo, mantemos com a CESE uma parceria de longa data. Temos objetivos muito próximos, queremos fortalecer os movimentos sociais porque acreditamos que eles são sujeitos políticos de transformação. Seguiremos juntas. Um grande salve aos 50 anos. Longa vida à CESE
A família CESE também faz parte do movimento indígena. Compartilhamos das mesmas dores e alegrias, mas principalmente de uma mesma missão. É por um causa que estamos aqui. Fico muito feliz de poder compartilhar dessa emoção de conhecer essa equipe. Que venham mais 50 anos, mais pessoas comprometidas com esse espírito de igualdade, amor e fraternidade.
Celebrar os 50 anos da CESE é reconhecer uma caminhada cristã dedicada a defesa dos direitos humanos em todas as suas dimensões, comprometida com os segmentos mais vulnerabilizados da população brasileira. E valorizar cada conquista alcançada em cada luta travada na busca da justiça, do direito e da paz. Fazer parte dessa caminhada é um privilégio e motivo de grande alegria poder mais uma vez nos regozijar: “Grande coisas fez o Senhor por nós, e por isso estamos alegres!” (Salmo 126.3)
Minha história com a CESE poderia ser traduzida em uma palavra: COMUNHÃO! A CESE é uma Família. Repito: uma Família! Nos dois mandatos que estive como presidente da CESE pude experimentar a vivência fraterna e gostosa de uma equipe tão diversificada em saberes, experiências de fé, histórias de vida, e tão unida pela harmonia criada pelo Espírito de Deus e pelo único desejo de SERVIR aos mais pobres e vulneráveis na conquista e defesa dos seus direitos fundamentais. Louvado seja Deus pelos 50 anos de COMUNHÃO e SERVIÇO da CESE! Gratidão por tudo e para sempre!
Eu preciso de recursos para fazer a luta. Somos descendentes de grupos muito criativos, africanos e indígenas. Somos na maioria compostos por mulheres. E a formação em Mobilização de Recursos promovida pela CESE acaba nos dando autonomia, se assim compartilharmos dentro do nosso território.
Viva os 50 anos da CESE. Viva o ecumenismo que a organização traz para frente e esse diálogo intereclesial. É um momento muito especial porque a CESE defende direitos e traz o sujeito para maior visibilidade.
Parabéns à CESE pela resistência, pela forte ancestralidade, pelo fortalecimento e proteção aos povos quilombolas. Onde a política pública não chega, a CESE chega para amenizar os impactos e viabilizar a permanência das pessoas, das comunidades. Que isso seja cada vez mais potente, mais presente e que a gente encontre, junto à CESE, cada vez mais motivos para resistir e esperançar.
A CESE completa 50 anos de testemunho de fé ativa no amor, faz jus ao seu nome. Desde o início, se colocou em defesa dos direitos humanos, denunciou atos de violência e de tortura, participou da discussão de grandes temas nacionais, apoiou movimentos sociais de libertação. Parabéns pela atuação profética, em prol da unidade e da cidadania. Que Deus continue a fazer da CESE uma benção para muitos.