Fogo no Museu Nacional: um crime contra o Brasil
04 de agosto de 2018A FASE, assim como todo o país, vive o luto após o Museu Nacional, localizado na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, ruir em chamas
O mais antigo museu do país foi afetado neste domingo (2) por um incêndio que destruiu grande parte de seu acervo de cerca de 20 milhões de itens. Lamentamos profundamente o episódio, que não pode ser descolado do contexto de golpe vivenciado no Brasil. A educação, a ciência e a cultura estão sendo cada vez mais atacadas e o fogo que fez a história ruir na Quinta da Boa Vista ilustra essa grave situação. Prestamos toda solidariedade aos funcionários e funcionárias, aos pesquisadores e pesquisadoras e aos estudantes do Museu Nacional, que integra a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A própria sede da instituição, um palacete imperial de 200 anos, é um grande patrimônio. Além de se destacar nas áreas de etnologia biológica, paleontologia e antropologia, lembramos que o Museu Nacional foi um importante polo de resistência aos períodos de chumbo da ditadura civil-militar. O local também abrigava parte da história de luta do campesinato, dos povos indígenas e de diversas outras populações tradicionais. Mesmo com toda essa importância, a instituição não recebia seu orçamento de R$520 mil anuais desde 2014.
A FASE é grata pela oportunidade de ter participado de pesquisas desenvolvidas no Museu Nacional, como as que investigaram os hábitos alimentares de populações empobrecidas e a situação do emprego no Brasil, e por já ter tido o antropólogo Otávio Velho, pesquisador emérito da instituição, na presidência da nossa organização. Atualmente, José Sérgio Lopes Leite, professor do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, integra o Conselho da FASE e dá seguimento aos diálogos visando fortalecer tanto a sociedade civil como a luta por uma universidade pública, gratuita e de qualidade.
A crise no Rio de Janeiro e os cortes orçamentários decretados para os próximos 20 anos em todo o país só fazem colaborar para o apagamento da nossa memória, colocando ainda mais em risco o futuro da sociedade brasileira. Mas os conhecimentos resultantes de trabalhos como os desenvolvidos pelo Museu Nacional nunca virarão cinzas. Sigamos em resistência.
VEJA O
QUE FALAM
SOBRE NÓS
A gente tem uma associação do meu povo, Karipuna, na Terra Indígena Uaçá. Por muito tempo a nossa organização ficou inadimplente, sem poder atuar com nosso povo. Mas, conseguimos acessar o recurso da CESE para fortalecer organização indígena e estruturar a associação e reorganizá-la. Hoje orgulhosamente e muito emocionada digo que fazemos a Assembleia do Povo Karipuna realizada por nós indígenas, gerindo nosso próprio recurso. Atualmente temos uma diretoria toda indígena, conseguimos captar recursos e acessar outros projetos. E isso tudo só foi possível por causa da parceria com a CESE.
Parabéns à CESE pela resistência, pela forte ancestralidade, pelo fortalecimento e proteção aos povos quilombolas. Onde a política pública não chega, a CESE chega para amenizar os impactos e viabilizar a permanência das pessoas, das comunidades. Que isso seja cada vez mais potente, mais presente e que a gente encontre, junto à CESE, cada vez mais motivos para resistir e esperançar.
Comecei a aproximação com a organização pelo interesse em aprender com fundo de pequenos projetos. Sempre tivemos na CESE uma referência importante de uma instituição que estava à frente, na vanguarda, fazendo esse tipo de apoio com os grupos, desde antes de outras iniciativas existirem. E depois tive oportunidade de participar de outras ações para discutir o cenário político e também sobre as prioridades no campo socioambiental. Sempre foi uma troca muito forte.
A CESE não está com a gente só subsidiando, mas estimulando e fortalecendo. São cinquenta anos possibilitando que as ditas minorias gritem; intervindo realmente para que a gente transforme esse país em um lugar mais igualitário e fraterno, em que a gente possa viver como nos quilombos: comunidades circulares, que cabe todo mundo, respirando liberdade e esperança. Parabéns, CESE. Axé e luz para nós!
Ao longo desses 50 anos, fomos presenteadas pela presença da CESE em nossas comunidades. Nós somos testemunhas do quanto ela tem de companheirismo e solidariedade investidos em nossos territórios. E isso tem sido fundamental para que continuemos em luta e em defesa do nosso povo.
Há vários anos a CESE vem apoiando iniciativas nas comunidades quilombolas do Pará. A organização trouxe o empoderamento por meio da capacitação e formação para juventude quilombola; tem fortalecido também o empreendedorismo e agricultura familiar. Com o apoio da CESE e os cursos oferecidos na área de incidência política conseguimos realizar atividades que visibilizem o protagonismo das mulheres quilombolas. Tudo isso é muito importante para a garantia e a nossa permanência no território.
Somos herdeiras do legado histórico de uma organização que há 50 anos dá testemunho de uma fé comprometida com o ecumenismo e a diaconia profética. Levar adiante esta missão é compromisso que assumimos com muita responsabilidade e consciência, pois vivemos em um país onde o mutirão pela justiça, pela paz e integridade da criação ainda é uma tarefa a se realizar.
Conheço a CESE desde 1990, através da Federação de Órgãos para Assistência Social (FASE) no apoio a grupos de juventude e de mulheres. Nesse sentido, foi uma organização absolutamente importante. E hoje, na função de diretor do Programa País da Heks no Brasil, poder apoiar os projetos da CESE é uma satisfação muito grande e um investimento que tenho certeza que é um dos melhores.
A CESE foi criada no ano mais violento da Ditadura Militar, quando se institucionalizou a tortura, se intensificaram as prisões arbitrárias, os assassinatos e os desaparecimentos de presos políticos. As igrejas tiveram a coragem de se reunir e criar uma instituição que pudesse ser um testemunho vivo da fé cristã no serviço ao povo brasileiro. Fico muito feliz que a CESE chegue aos 50 anos aperfeiçoando a sua maturidade.
A luta antirracista é o grande mote das nossas ações que tem um dos principais objetivos o enfrentamento ao racismo religioso e a violência, que tem sido crescente no estado do Maranhão. Por tanto, a parceria com a CESE nos proporciona a construção de estratégias políticas e de ações em redes, nos apoia na articulação com parcerias que de fato promovam incidência nas políticas públicas, proposições institucionais de enfrentamento a esse racismo religioso que tem gerado muita violência. A CESE nos desafia na superação do racismo institucional, como o grande vetor de inviabilização e da violência contra as religiões de matrizes africanas.