CESE realiza 2ª Etapa do Curso sobre Incidência Política
03 de dezembro de 2019


Entre os dias 25 e 29 de novembro, movimentos sociais e organizações populares de várias localidades do país participaram da 2ª Etapa do Curso sobre Incidência Política, realizada na sede da CESE, em Salvador (BA). Estiveram presentes movimento ecumênico e de mulheres negras, juventude negra, e populações tradicionais como povos indígenas, comunidades quilombolas, catadoras de mangada e fundo e fecho de pasto.
Compuseram a programação deste segundo momento de formação: aprimoramento de marcos legais no campo de direitos, limites e possibilidades da comunicação para luta por direitos, estratégias de monitoramento e avaliação das ações de incidência.
“Essa etapa do curso foi muito importante, pois nos alerta para o que está acontecendo no nosso país e como podemos utilizar as leis ao nosso favor. Pude conhecer as experiências das outras organizações e refletir que o aquilombamento é uma das estratégias de proteção. ”, conta Sheyla Klícia Silva da Rede de Mulheres Negras da Bahia.


A formação contou com a participação de organizações parceiras para colaborar na facilitação do curso. A Associação de Advogados/as de Trabalhadores/as Rurais da BAHIA (AATR-BA) contribuiu com a partilha de conteúdo sobre a diversidade de instâncias dos órgãos municipais, estaduais e federais em que se pode fazer incidência e os instrumentos legais cabíveis em cada uma delas. Houve também atividades práticas e utilização de ferramentas com foco na elaboração de instrumentos como habeas corpus, por exemplo.
O Odara – Instituto da Mulher Negra e o Coletivo Baiano Pelo Direito à Comunicação (CBCOM) contribuíram na formação com a discussão sobre importância de construir estratégias de comunicação, disputar narrativas com a grande mídia e utilizar os recursos alternativos para se fazer ouvir.
Alane Reis, comunicadora do Odara e também integrante da Revista Afirmativa, descreve que apesar das dificuldades de quebra da hegemonia da mídia, grupos historicamente oprimidos vêm traçando estratégias de comunicação: “A comunicação é um traço cultural humano e mesmo com o controle de quem pode falar e do que pode ser falado, mulheres negras escravizadas de Minas Gerais e da Bahia se articulavam na luta através do Correio Nagô”. E completa: “Apesar da conjuntura genocida, continuamos na resistência colocando em pauta nossas culturas e identidades locais, porque somos especialistas da nossa própria comunicação e produzimos nossas próprias narrativas.”.


Para entender a importância da mobilização de parceiros/as para o êxito de ações de incidência, os/as participantes visitaram o Parque São Bartolomeu, localizado no subúrbio ferroviário de Salvador (local onde organizações populares, grupos de cultura e de juventude resistem para preservação e manutenção da área). O momento foi de vivência com riquezas naturais da região, repleta de matas e cachoeiras, mas também de debate e troca de experiência sobre as formas de resistir para permanecer em seus territórios.
A formação integra o “Virando o Jogo”, programa de apoio ao fortalecimento de organizações nas áreas de mobilização de recursos locais e incidência política, incluindo atividades de formação presenciais e a distância. “Virando o Jogo” é uma iniciativa da agência de cooperação holandesa Wilde Ganzen, em conjunto com Smile Foundation (Índia), KCDF (Quênia) e CESE (Brasil), com o apoio do governo holandês.
VEJA O
QUE FALAM
SOBRE NÓS
Nós, do SOS Corpo, mantemos com a CESE uma parceria de longa data. Temos objetivos muito próximos, queremos fortalecer os movimentos sociais porque acreditamos que eles são sujeitos políticos de transformação. Seguiremos juntas. Um grande salve aos 50 anos. Longa vida à CESE
Há vários anos a CESE vem apoiando iniciativas nas comunidades quilombolas do Pará. A organização trouxe o empoderamento por meio da capacitação e formação para juventude quilombola; tem fortalecido também o empreendedorismo e agricultura familiar. Com o apoio da CESE e os cursos oferecidos na área de incidência política conseguimos realizar atividades que visibilizem o protagonismo das mulheres quilombolas. Tudo isso é muito importante para a garantia e a nossa permanência no território.
A gente tem uma associação do meu povo, Karipuna, na Terra Indígena Uaçá. Por muito tempo a nossa organização ficou inadimplente, sem poder atuar com nosso povo. Mas, conseguimos acessar o recurso da CESE para fortalecer organização indígena e estruturar a associação e reorganizá-la. Hoje orgulhosamente e muito emocionada digo que fazemos a Assembleia do Povo Karipuna realizada por nós indígenas, gerindo nosso próprio recurso. Atualmente temos uma diretoria toda indígena, conseguimos captar recursos e acessar outros projetos. E isso tudo só foi possível por causa da parceria com a CESE.
A CESE completa 50 anos de testemunho de fé ativa no amor, faz jus ao seu nome. Desde o início, se colocou em defesa dos direitos humanos, denunciou atos de violência e de tortura, participou da discussão de grandes temas nacionais, apoiou movimentos sociais de libertação. Parabéns pela atuação profética, em prol da unidade e da cidadania. Que Deus continue a fazer da CESE uma benção para muitos.
Viva os 50 anos da CESE. Viva o ecumenismo que a organização traz para frente e esse diálogo intereclesial. É um momento muito especial porque a CESE defende direitos e traz o sujeito para maior visibilidade.
Celebrar os 50 anos da CESE é reconhecer uma caminhada cristã dedicada a defesa dos direitos humanos em todas as suas dimensões, comprometida com os segmentos mais vulnerabilizados da população brasileira. E valorizar cada conquista alcançada em cada luta travada na busca da justiça, do direito e da paz. Fazer parte dessa caminhada é um privilégio e motivo de grande alegria poder mais uma vez nos regozijar: “Grande coisas fez o Senhor por nós, e por isso estamos alegres!” (Salmo 126.3)
Eu acho extraordinário o trabalho da CESE, porque ela inaugurou outro tipo de ecumenismo. Não é algo que as igrejas discutem entre si, falam sobre suas doutrinas e chegam a uma convergência. A CESE faz um ecumenismo de serviço que é ecumenismo de missão, para servir aos pobres, servir seus direitos.
A CESE não está com a gente só subsidiando, mas estimulando e fortalecendo. São cinquenta anos possibilitando que as ditas minorias gritem; intervindo realmente para que a gente transforme esse país em um lugar mais igualitário e fraterno, em que a gente possa viver como nos quilombos: comunidades circulares, que cabe todo mundo, respirando liberdade e esperança. Parabéns, CESE. Axé e luz para nós!
Conheço a CESE desde 1990, através da Federação de Órgãos para Assistência Social (FASE) no apoio a grupos de juventude e de mulheres. Nesse sentido, foi uma organização absolutamente importante. E hoje, na função de diretor do Programa País da Heks no Brasil, poder apoiar os projetos da CESE é uma satisfação muito grande e um investimento que tenho certeza que é um dos melhores.
Quero muito agradecer pela parceria, pelo seu histórico de luta com os povos indígenas. Durante todo o tempo que fui coordenadora executiva da APIB e representante da COIAB e da Amazônia brasileira, nós tivemos o apoio da CESE para realizar nossas manifestações, nosso Acampamento Terra Livre, para as assembleias locais e regionais. Tudo isso foi muito importante para fortalecer o nosso protagonismo e movimento indígena do Brasil. Deixo meus parabéns pelos 50 anos e seguimos em luta.