Ecumenismo: o que é, conceitos e ponto de vista bíblico

Você já se perguntou o que é ecumenismo? Esse termo, que muitas pessoas confundem seu real sentido, pode soar como algo distante ou abstrato para muitas pessoas, mas sua importância e significado vão muito além de uma simples palavra de origem grega. 

Neste artigo, vamos apresentar o que é o ecumenismo, sua relevância em um mundo cada vez mais dividido por conflitos sociais e religiosos, seus objetivos, práticas, os desafios que o movimento ecumênico precisa enfrentar e sua relação com o diálogo inter-religioso.

Vem com a gente e boa leitura.

O que significa a palavra ecumenismo?

Originado do termo grego oikoumene, que denota o conceito de mundo habitado, o ecumenismo, historicamente, evoca a visão de uma comunidade cristã que caminha em unidade, apesar de sua diversidade. Isso tem a ver com a passagem de João 17:21.

No entanto, sua interpretação contemporânea pode, em alguns casos, ir além das fronteiras do cristianismo, abraçando um ideal de convivência pacífica e colaborativa entre todas as pessoas. Aqui neste artigo, nosso foco será tratar o ecumenismo do ponto de vista da unidade cristã.

Iniciativas ecumênicas modernas

Mundo afora, o ecumenismo engloba uma vasta gama de iniciativas e práticas voltadas para fomentar a compreensão e o respeito mútuo entre as diferentes denominações cristãs. Anualmente, por exemplo, é realizada a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC), uma iniciativa que reúne igrejas de todo o mundo para reflexões e orações pela unidade.

Promovida mundialmente pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Mundial de Igrejas (CMI), a SOUC acontece em períodos diferentes nos dois hemisférios. No hemisfério Norte, o período tradicional para a Semana é de 18 a 25 de janeiro. Essas datas foram propostas em 1908, por Paul Watson, pois cobriam o tempo entre as festas de São Pedro e São Paulo, e tinham, portanto, um significado simbólico. No hemisfério Sul, as Igrejas celebram a Semana de Oração no período de Pentecostes (como foi sugerido pelo movimento Fé e Ordem, em 1926), também um momento simbólico para a unidade da Igreja.

No Brasil, o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), em parceria com seus Regionais, lidera e coordena as iniciativas para a celebração da Semana de Oração em diversos estados. 

Saiba mais sobre a SOUC em www.conic.org.br.

Qual é a importância do ecumenismo hoje?

Em um mundo cada vez mais interconectado, onde as fronteiras geográficas se tornam menos relevantes e as interações entre diferentes culturas se multiplicam, o ecumenismo emerge como um farol de esperança e compreensão mútua. Sua importância reside não apenas na promoção da paz e cooperação entre comunidades cristãs, mas, também, na construção de pontes de entendimento que transcendem diferenças doutrinárias e culturais. Ao oferecer uma plataforma para o diálogo, o ecumenismo desafia preconceitos arraigados e estereótipos nocivos, promovendo uma maior valorização da diversidade cristã.

Quais são os objetivos do ecumenismo?

Em linhas gerais, podemos dizer que os objetivos do ecumenismo refletem:

1) a aspiração de construir uma sociedade mais justa, inclusiva e solidária, onde a diversidade religiosa é celebrada e respeitada. Ao buscar a unidade cristã, em última análise, o ecumenismo espalha o exemplo da reconciliação não apenas entre as denominações cristãs, mas também em comunidades de fé que, com este exemplo, se inspiram para a unidade.

2) promover a justiça e a paz em um mundo marcado por desigualdades e conflitos, mobilizando pessoas e igrejas para agir em solidariedade com os mais vulneráveis e marginalizados. Por meio desse diálogo, da colaboração em projetos sociais e do serviço aos necessitados, o ecumenismo traduz seus ideais em ações concretas que contribuam para o bem-estar de todo o “mundo habitado” (lembram desse termo, lá no início do artigo?).

3) e, claro, promover a unidade cristã – não criando uma única igreja, mas fazendo com que essas denominações consigam desenvolver ações conjuntas, dando testemunho de unidade.

Mas o ecumenismo não quer fundir todas as igrejas em uma?

Definitivamente, não. E veremos isso mais adiante.

Como o ecumenismo é praticado?

O ecumenismo pode se manifestar em uma variedade de formas, abrangendo desde iniciativas de diálogo teológico até ações concretas de transformação social e defesa dos direitos humanos. Essas práticas do ecumenismo são conduzidas por uma ampla gama de indivíduos, grupos e organizações, cada qual contribuindo para promover diálogos e reconciliação.

CESE e CONIC podem ser exemplos disso. Juntas, essas organizações ecumênicas realizam uma série de ações que, em última análise, fortalecem a caminhada ecumênica a nível de Brasil.

Vejamos alguns exemplos de como o ecumenismo sai “da palavra à ação”:

Diálogo teológico e inter-religioso

Uma das formas mais fundamentais de prática ecumênica é o diálogo teológico e inter-religioso, que envolve o encontro respeitoso e aprofundado entre teólogos e líderes religiosos de diferentes tradições. Esses diálogos buscam explorar pontos de convergência nas crenças e práticas religiosas, promovendo uma maior compreensão mútua. Além disso, o diálogo inter-religioso busca construir pontes de cooperação e solidariedade entre diferentes comunidades de fé, enfrentando desafios comuns e trabalhando juntas para promover a paz e a justiça.

Celebrações e eventos comunitários

Outra forma importante de prática ecumênica são as celebrações e eventos comunitários, que reúnem pessoas de diferentes igrejas cristãs para celebrar sua diversidade e compartilhar suas experiências. Esses encontros proporcionam oportunidades para cultivar amizades, fortalecer laços de solidariedade e construir comunidades mais inclusivas e acolhedoras para todos.

Projetos de desenvolvimento comunitário e ações sociais

Além do diálogo e da celebração, o ecumenismo se manifesta em projetos práticos de desenvolvimento comunitário e ações sociais, que buscam enfrentar desafios concretos e promover o bem-estar de todos os membros da sociedade. Esses projetos podem incluir programas de assistência social, educação, saúde, habitação e desenvolvimento econômico, muitas vezes realizados em colaboração com organizações religiosas e comunitárias locais. Por meio dessas iniciativas, o ecumenismo se torna uma força transformadora na vida das pessoas, contribuindo para o enfrentamento à superar a pobreza, a injustiça e a exclusão social nas comunidades.

O Programa de Pequenos Projetos da CESE é um exemplo disso.

Advocacy por direitos humanos e justiça social

Por fim, o ecumenismo se manifesta através do advocacy por direitos humanos e justiça social, que envolve o engajamento político e social em questões de importância pública, como a promoção da paz, a proteção do meio ambiente, a defesa dos direitos das minorias e o combate à discriminação e violência. Historicamente, no Brasil, organizações ecumênicas desempenham um papel vital nesse trabalho, mobilizando comunidades de fé para agir. Na Ditadura Militar, essas organizações tiveram papel fundamental ao denunciar o regime

Em resumo, o ecumenismo é praticado não apenas em palavras, mas também em ações concretas que buscam transformar o mundo em um lugar mais justo para todos.

Quais são os desafios do ecumenismo?

Nos tempos atuais, marcados pelo crescimento dos fundamentalismos religiosos e pela polarização ideológica, o movimento ecumênico se depara com desafios ainda mais complexos. Enquanto as diferenças teológicas e doutrinárias persistem como obstáculos à unidade entre diferentes tradições religiosas, o aumento do fundamentalismo exacerbou essas divisões, alimentando a desconfiança e o antagonismo entre comunidades de fé.

Um dos principais desafios do ecumenismo é, portanto, enfrentar o fundamentalismo religioso, que tende a promover uma visão exclusivista e intolerante da verdade religiosa, dificultando o diálogo e a cooperação inter-religiosa. O fundamentalismo, muitas vezes, se manifesta como uma rejeição dogmática das crenças e práticas dos outros, promovendo uma mentalidade do “nós versus eles” que mina os esforços pela reconciliação e harmonia entre pessoas de fé.

Além disso, o movimento ecumênico enfrenta o desafio de lidar com a resistência ao diálogo dentro das próprias igrejas. Muitas vezes, as estruturas e lideranças religiosas estabelecidas resistem à ideia de dialogar com o “diferente”, preferindo manter o status quo. Há, em alguns lugares, a noção de que conversar com irmãos e irmãs de outras igrejas pode enfraquecer o testemunho de fé daquela comunidade. Quando, por experiência, acontece o contrário: comunidades ecumênicas tendem a ser mais conscientes de sua vivência religiosa, valorizando a própria teologia-práticas-costumes, mas ciente de toda diversidade que há ao redor.

Além disso, dos pontos já citados, há a desconfiança mútua entre diferentes confissões cristãs, alimentada por séculos de conflito e disputas, discriminação e incompreensão. Essa desconfiança pode minar os esforços de cooperação e diálogo ecumênico, criando barreiras à construção de relações de confiança e solidariedade entre as comunidades de fé. Superar essas divisões requer um compromisso renovado com os princípios do amor, compaixão e reconciliação, assim como uma disposição para se engajar em um diálogo honesto e construtivo sobre questões de fé, prática religiosa e valores compartilhados.

Qual é a relação entre ecumenismo e diálogo inter-religioso?

A relação entre ecumenismo e diálogo inter-religioso é complexa, marcada por uma interação dinâmica entre as tradições religiosas distintas, e um compromisso comum com a paz, a justiça e a compreensão mútua. Embora o ecumenismo tenha suas raízes históricas no contexto do cristianismo e se concentre principalmente na busca pela unidade entre diferentes denominações cristãs, sua visão inclusiva e abrangente o conecta naturalmente ao diálogo inter-religioso, que busca promover a cooperação e o entendimento.

Em sua essência, tanto o ecumenismo quanto o diálogo inter-religioso compartilham o objetivo comum de superar divisões e conflitos religiosos, promovendo uma cultura de paz. Ambos os movimentos reconhecem a riqueza da diversidade religiosa e valorizam as contribuições únicas de cada tradição espiritual para a construção de um mundo mais justo e compassivo.

No entanto, é importante reconhecer que o ecumenismo e o diálogo inter-religioso não são idênticos, mas, sim, complementares. Enquanto o ecumenismo se concentra especificamente na busca pela unidade dentro do cristianismo e no diálogo entre diferentes denominações cristãs, o diálogo inter-religioso abrange uma gama mais ampla de tradições religiosas, incluindo as de matrizes africanas, o judaísmo, o islamismo, o hinduísmo, o budismo, entre outras.

Apesar dessas diferenças, o ecumenismo e o diálogo inter-religioso muitas vezes se entrelaçam e se fortalecem mutuamente. Por exemplo, os líderes e organizações envolvidas no movimento ecumênico frequentemente participam de iniciativas de diálogo inter-religioso, contribuindo com suas perspectivas e experiências únicas para promover uma compreensão mais profunda entre as diferentes tradições religiosas. Da mesma forma, os princípios de respeito mútuo, solidariedade e cooperação que fundamentam o diálogo inter-religioso são fundamentais para o ethos ecumênico, inspirando os cristãos a buscarem a unidade com todas as pessoas.

O ecumenismo quer criar uma única igreja?

O texto a seguir é uma cortesia do CONIC. Decidimos compartilhar ele aqui, pois ele ajuda-nos a romper muitos paradigmas. O principal deles: que o ecumenismo quer criar uma única igreja.

Será que quer criar mesmo? 

A resposta está abaixo:

Algumas lideranças cristãs e membros de comunidades “torcem o nariz” quando ouvem o termo Ecumenismo. Na visão deles, o Ecumenismo tem por objetivo juntar as igrejas e, no fim, formar uma Única Igreja, mesclando ritos, costumes, hinos, diaconias e tudo mais, de modo que não exista mais tantas denominações cristãs como hoje, mas sim uma única e Toda Poderosa Igreja. Quem pensa assim precisa urgentemente rever os conceitos.

Dentro do movimento ecumênico não há qualquer interesse parecido com isso. Muito pelo contrário! Enfatiza-se que as diferenças enriquecem a prática cristã do diálogo. Por exemplo: se na sua igreja as pessoas cantam mais animadamente e na minha tudo é mais formal, a ideia não é criarmos um “meio termo” para juntar ambas; mas sim que você compreenda que Deus está tanto nas “coisas formais”, quanto nas “coisas mais animadas”. E assim caminhamos – ecumenicamente – com a consciência de que Deus se manifesta nessa diversidade.

Para criticar o ecumenismo, alguns citam documentos antigos, muitas vezes escritos por um grupo de religiosos que não falavam em nome de toda a denominação, nos quais defendiam que o objetivo do ecumenismo era “promover conversões para a religião dominante”.

Além de equivocado, esse argumento está ultrapassado. 

No movimento ecumênico, a ideia é que católicos, evangélicos, protestantes, ortodoxos, anglicanos e muitos outros grupos cristãos se sentem à mesa para debater sobre temas que a eles são comuns, por exemplo: o testemunho cristão em terras distantes; os trabalhos sociais que se podem fazer juntos; a produção acadêmica; liberdade religiosa; entre outros.

Tendo um pouco de boa vontade, fica fácil perceber que todo cristão pode – e deve – praticar mais o diálogo ecumênico. O objetivo nunca será “mostrar que a sua igreja está mais certa do que a minha”. Se começar assim, é melhor nem começar! O objetivo primaz do diálogo ecumênico é ver “o que temos em comum” e, a partir disso, caminhar lado a lado em questões que podem envolver desde temas teológicos até serviços voluntários.

Maior é o que nos une do que aquilo que nos separa – diz um adágio popular. 

Jesus nos une em torno de uma certeza: “eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10:10). E essa certeza é comum a todos os grupos cristãos, do Oriente ao Ocidente. De Norte a Sul. Sem exceções! Portanto, aqueles argumentos de que “não podemos nos sentar com eles” em função de pontos secundários da fé cristã pode, em última análise, ser um pouco de vaidade. Ou medo de perder “mercado”. Sim, pois enquanto as igrejas se comportarem como “concorrentes” umas das outras, daí realmente será difícil estabelecer diálogos.

Tem uma passagem bíblica que fala sobre isso. Ela é muito significativa e deveria ser melhor estudada, compreendida e vivida dentro das igrejas. Trata-se de Marcos 9:38-41:

38 – Mestre, vimos um que em teu nome expulsava demônios, o qual não nos segue; e nós lho proibimos, porque não nos segue.

39 – Jesus, porém, disse: Não lho proibais; porque ninguém há que faça milagre em meu nome e possa logo falar mal de mim.

40 – Porque quem não é contra nós, é por nós.

41 – Porquanto, qualquer que vos der a beber um copo de água em meu nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos digo que não perderá o seu galardão.

Veja a sutileza com que Jesus lida com a situação! 

Trazendo para os dias de hoje, podemos fazer um exercício rápido e transformar o texto da seguinte maneira:

38 – Jesus, vimos um que em teu nome um pastor/padre/reverendo expulsava demônios, mas esse líder religioso não é da nossa igreja; e nós lho proibimos, porque não frequenta nosso templo, não canta nossos hinos, não comunga como nós.

Qual seria a resposta de Jesus? 

Não lho proibais, “porque quem não é contra nós, é por nós”.

Muitas vezes, o diálogo cristão (ecumenismo) não acontece porque os grupos tendem a querer fazer valer suas verdades (práticas e doutrinas) em detrimento das verdades do outro. Quando compreendemos que o mais importante é o nosso testemunho seja UNO (João 17:21), daí podemos dar um passo a mais para “caminhar a segunda milha” com aquele meu irmão e com aquela minha irmã que pensa diferente de mim, canta e cultua diferente de mim, mas dá o mesmo testemunho do que eu: porque Deus amou o mundo de tal maneira… (João 3:16).

A caminhada ecumênica não quer, nem nunca quis, formar uma Supra-Religião. É engano daqueles que não compreenderam o ecumenismo. O ecumenismo pressupõe que você permaneça na sua igreja e eu na minha. Mas que possamos, juntos, caminhar no testemunho de Cristo e fazer com que esse testemunho se transforme em algo de útil para a sociedade.

Imagine, por exemplo, católicos e evangélicos organizando juntos grandes campanhas de doação de sangue? Ou realizando momentos de reflexão e diálogo sobre fé e caridade? Imagine o poder que isso não teria frente aos desafios que um país como o Brasil tem? Poderia ser transformador. Mas para isso, as igrejas precisam se despir da ideia de “concorrência”.

Agora você já sabe responder, quando alguém perguntar, o que é ecumenismo?

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