CESE e Cáritas realizam Painel Ecumênico com Nancy Cardoso e Marcelo Barros
09 de novembro de 2018
O Museu de Arte da Bahia recebeu centenas de pessoas para ouvirem as inspirações proféticas do monge beneditino Marcelo Barros e da pastora metodista e filósofa feminista Nancy Cardoso. Barros e Nancy se reuniram no dia 08 de novembro, em Salvador (BA), no Painel Ecumênico “Escutar os clamores: A resistência popular tece a esperança!”. Realizado em parceria entre a CESE e Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3, a ideia do evento foi propiciar um momento de reflexão diante dos retrocessos em curso no Brasil.
“O país não mudou, o que mudou foram as correlações de força”, anunciou Nancy Cardoso, na tentativa de jogar luz sobre o cenário pós-eleições. O avanço na garantia de direitos por parte de movimentos feministas, de mulheres, de populações tradicionais, indígenas, LGBTQI, entre tantos outros, é apontado pela teóloga como a causa do revanchismo das elites. Estas últimas, nesse sentido, rearticularam-se e correlacionaram forças com alas conservadoras de outros setores – como político, militar, do agronegócio, bancada religiosa. “E se voltaram contra nós”, detalha Nancy.
Focando no campo das confissões de fé, Nancy aborda o poder do fundamentalismo – o qual tem o poder de paralisar o processo interpretativo e, assim, a capacidade de intervir (colocando essa interpretação no ideário do mercado). “Vamos precisar de muitos espaços para refazer as perguntas e as respostas. “Vamos ter que disputar a palavra de Deus e reaprender a fazer a leitura da Bíblia”, aponta a pastora para a necessidade de rearticulações populares para a disputa dessas narrativas fundamentalistas, a fim de caminhar na direção da radicalização da democracia e da garantia de direitos.
A rediscussão da dimensão de lutas de classes dentro das identidades (por exemplo, negras, feministas, indígenas, quilombolas) será o ponto de virada para a criação de uma maioria trabalhadora, na visão da teóloga. “Precisamos retomar nossa capacidade de nos entendermos como classe trabalhadora. Vamos ter que nos reencantar”.
Devemos contar com as instituições religiosas para atravessar esse momento de disseminação de ódios e intolerâncias? Para o monge beneditino, Marcelo Barros, o voto expressivo de fieis de igrejas cristãs no presidente eleito encontra respaldo institucional nas igrejas.
A aposta é constituir nos próprios grupos populares células de resistência e não esperar pelas instituições, orienta Marcelo Barros. A gente tem que descobrir a sinergia do amor para reorganizar a esperança, retomar fé revolucionária para libertar Deus, vivendo amor solidário, amor universal na luta de classes.”
Apresentações musicais e expressões poéticas também permearam o painel, que integra a programação da Semana da Solidariedade, realizada em parceria entre a Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 e a Coordenadoria Ecumênica de Serviço. As entidades celebram 30 e 45 anos, respectivamente, na luta pela defesa e garantia de direitos.
VEJA O
QUE FALAM
SOBRE NÓS
Conheço a CESE desde 1990, através da Federação de Órgãos para Assistência Social (FASE) no apoio a grupos de juventude e de mulheres. Nesse sentido, foi uma organização absolutamente importante. E hoje, na função de diretor do Programa País da Heks no Brasil, poder apoiar os projetos da CESE é uma satisfação muito grande e um investimento que tenho certeza que é um dos melhores.
A família CESE também faz parte do movimento indígena. Compartilhamos das mesmas dores e alegrias, mas principalmente de uma mesma missão. É por um causa que estamos aqui. Fico muito feliz de poder compartilhar dessa emoção de conhecer essa equipe. Que venham mais 50 anos, mais pessoas comprometidas com esse espírito de igualdade, amor e fraternidade.
A CESE completa 50 anos de testemunho de fé ativa no amor, faz jus ao seu nome. Desde o início, se colocou em defesa dos direitos humanos, denunciou atos de violência e de tortura, participou da discussão de grandes temas nacionais, apoiou movimentos sociais de libertação. Parabéns pela atuação profética, em prol da unidade e da cidadania. Que Deus continue a fazer da CESE uma benção para muitos.
Quero muito agradecer pela parceria, pelo seu histórico de luta com os povos indígenas. Durante todo o tempo que fui coordenadora executiva da APIB e representante da COIAB e da Amazônia brasileira, nós tivemos o apoio da CESE para realizar nossas manifestações, nosso Acampamento Terra Livre, para as assembleias locais e regionais. Tudo isso foi muito importante para fortalecer o nosso protagonismo e movimento indígena do Brasil. Deixo meus parabéns pelos 50 anos e seguimos em luta.
Viva os 50 anos da CESE. Viva o ecumenismo que a organização traz para frente e esse diálogo intereclesial. É um momento muito especial porque a CESE defende direitos e traz o sujeito para maior visibilidade.
A relação de cooperação entre a CESE e Movimento Pesqueiro é de longa data. O apoio político e financeiro torna possível chegarmos em várias comunidades pesqueiras no Brasil para que a gente se articule, faça formação política e nos organize enquanto movimento popular. Temos uma parceria de diálogos construtivos, compreensível, e queremos cada vez mais que a CESE caminhe junto conosco.
A gente tem uma associação do meu povo, Karipuna, na Terra Indígena Uaçá. Por muito tempo a nossa organização ficou inadimplente, sem poder atuar com nosso povo. Mas, conseguimos acessar o recurso da CESE para fortalecer organização indígena e estruturar a associação e reorganizá-la. Hoje orgulhosamente e muito emocionada digo que fazemos a Assembleia do Povo Karipuna realizada por nós indígenas, gerindo nosso próprio recurso. Atualmente temos uma diretoria toda indígena, conseguimos captar recursos e acessar outros projetos. E isso tudo só foi possível por causa da parceria com a CESE.
A CESE foi criada no ano mais violento da Ditadura Militar, quando se institucionalizou a tortura, se intensificaram as prisões arbitrárias, os assassinatos e os desaparecimentos de presos políticos. As igrejas tiveram a coragem de se reunir e criar uma instituição que pudesse ser um testemunho vivo da fé cristã no serviço ao povo brasileiro. Fico muito feliz que a CESE chegue aos 50 anos aperfeiçoando a sua maturidade.
Há vários anos a CESE vem apoiando iniciativas nas comunidades quilombolas do Pará. A organização trouxe o empoderamento por meio da capacitação e formação para juventude quilombola; tem fortalecido também o empreendedorismo e agricultura familiar. Com o apoio da CESE e os cursos oferecidos na área de incidência política conseguimos realizar atividades que visibilizem o protagonismo das mulheres quilombolas. Tudo isso é muito importante para a garantia e a nossa permanência no território.
A relação de cooperação entre a CESE e Movimento Pesqueiro é de longa data. O apoio político e financeiro torna possível chegarmos em várias comunidades pesqueiras no Brasil para que a gente se articule, faça formação política e nos organize enquanto movimento popular. Temos uma parceria de diálogos construtivos, compreensível, e queremos cada vez mais que a CESE caminhe junto conosco.