Em entrevista, o Monge Beneditino Marcelo Barros fala sobre a participação das Igrejas no enfrentamento à crise climática, o papel das juventudes e outros pontos
Na última quinta-feira, 20, a CESE sediou uma Roda de Diálogo sobre Fraternidade e Ecologia Integral, tema da Campanha da Fraternidade 2025. O evento contou com a presença do teólogo e biblista Marcelo Barros, que compartilhou suas reflexões sobre a relação entre fraternidade e o cuidado com a Casa Comum. Nesta edição, o lema da campanha é “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).
Marcelo Barros é um monge beneditino, teólogo e biblista brasileiro, reconhecido por sua atuação em movimentos sociais e pelo diálogo inter-religioso. Nascido em Camaragibe, Pernambuco, em 27 de novembro de 1944, ingressou no Mosteiro de Olinda aos 18 anos e foi ordenado presbítero em 1969 por Dom Hélder Câmara. É um dos fundadores do Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos (CEBI) e membro da Comissão Teológica da Associação Ecumênica dos Teólogos do Terceiro Mundo (ASETT), que reúne teólogos da América Latina, África, Ásia e minorias negras e indígenas da América do Norte.
Confira abaixo a entrevista com Marcelo Barros

Marcelo, a Campanha da Fraternidade 2025 coloca no centro da reflexão quaresmal o tema da ecologia integral. Quais são os sentimentos e ações a igreja pretende despertar nas pessoas a partir dessa temática?
Ecologia integral significa que tudo está interligado e que, portanto, o cuidado com o ambiente deve se ligar ao cuidado com as pessoas e a interioridade. Penso que é muito importante nessa Campanha da Fraternidade a urgência da crise climática e as igrejas se comprometerem com a mudança, nesse mundo em que o dinheiro – o lucro – permite o ser humano explorar a natureza como se fosse dono, ‘em nome de Deus’. Então tem que mudar esse paradigma, tem que haver uma conversão ecológica, acho que esse é o propósito da Campanha da Fraternidade.
E de que modo o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso podem contribuir para o enfrentamento à crise climática que se abate sobre o Brasil e no mundo?
A crise climática é geral e a resposta tem de ser ecumênica, tem que ser geral, tem que ser de todas as igrejas, de todas as religiões. Acredito que essa Campanha sobre ecologia integral deveria ser ecumênica, entre as igrejas cristãs, mas também com outras religiões. E espero que isso possa acontecer.
O que você diria à juventude do Brasil sobre o compromisso ético com a Casa Comum?
O compromisso ético com a Casa Comum é um apelo no qual lideranças de juventude tem tido uma força, um papel preponderante, no mundo. Por exemplo, lembrem da Greta, uma menina com 16, 17 anos, que liderou greves estudantis, que liderou movimentos ecológicos. E é muito importante que a juventude possa assumir isso como uma causa que é sua, porque a poluição, a destruição da natureza prejudica um mundo em que os primeiros prejudicados são a juventude. E é, portanto, importante que essa parcela da população reaja nos conduzindo, nos guiando, nos liderando no mundo. Nessa luta de resistência.
Você gostaria de deixar uma pequena mensagem para a reflexão desse tempo tão importante, que é a Quaresma?
Quando a gente fala de Quaresma, a gente fala de preparação para a Páscoa. E aí, normalmente, a impressão, a cultura vigente ainda é muito de individualidade, de conversão individual. Essa Campanha da Fraternidade nos diz que a conversão tem que ser ecológica e tem que ser comunitária, tem que ser sistêmica, quer dizer, todo o sistema do mundo. A conversão, sem deixar de ser interior, tem que ser uma transformação da nossa forma de nos relacionar com a mãe-terra e com toda a natureza.
A celebração da Quaresma é a preparação para a festa da Páscoa, que celebra a ressurreição de Jesus. Hoje, a ressurreição de Jesus aparece para nós como a revitalização da natureza, da terra, da vida e do sistema do bem-viver. Por isso é importante celebrar uma ressurreição que não seja apenas corporal, mas seja cósmica e ecológica.

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Campanha da Fraternidade 2025
A Campanha da Fraternidade 2025 tem como tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Esta edição convida à reflexão sobre a relação entre fraternidade e o cuidado com a criação, enfatizando a necessidade de uma conversão integral diante da crise socioambiental atual, à luz da COP 30, que será realizada em Belém do Pará.
A identidade visual da campanha destaca São Francisco de Assis, reconhecido por sua reverência à natureza, e elementos da biodiversidade brasileira, simbolizando a riqueza e a fragilidade do meio ambiente.
Para aprofundar-se no tema, a CNBB disponibilizou um vídeo explicativo: