Ação exige justiça pela militante do MST assassinada pelo ex-marido em GO

“Dona Neura era uma defensora histórica do Cerrado e da reforma agrária, com uma profunda paixão pelas florestas e plantas”, relembra Amélia Franz, assentada do município de Palmeiras de Goiás, da companheira de luta brutalmente assassinada pelo ex-marido, Neurice Torres, em 2022.

Carinhosamente chamada por dona Neura, era beneficiária da reforma agrária, tinha três filhos, defensora do Cerrado e da agricultura familiar. A agricultora, militante do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST-GO), estava no assentamento onde morava, na cidade de Minaçu (GO), quando o crime aconteceu.  

Dona Neura foi encontrada seminua, com sinais de violência em seu corpo e a cabeça afundada em uma caixa d’água. O crime bárbaro teve ampla repercussão, comovendo e mobilizando a base do MST e mulheres camponesas, que reivindicaram reparação e justiça neste caso.

O caso foi julgado somente neste ano no Fórum da cidade de Minaçu (GO). Na ocasião, militantes do MST, familiares, amigos e amigas de dona Neura montaram um acampamento com o objetivo de sensibilizar as pessoas sobre a misoginia e os crimes de ódio contra as mulheres.


Com o apoio do Programa de Pequenos Projetos, o MST realizou um acampamento popular pedagógico, com vigília, rodas de conversa, distribuição de panfletos, em frente ao Fórum de Minaçu (GO). “O clima estava tão tenso; muitos dos nossos companheiros nunca tinham entrado em um plenário. Conseguimos garantir transporte para as pessoas que foram ao plenário, com o apoio da CESE”, relembra Amélia.

A ação de incidência também culminou para outras atividades, como a ocupação de uma área que era utilizada para tráfico internacional de pessoas, segundo Amélia: “Realizamos vários debates sobre a questão da violência contra a mulher e fizemos uma ocupação no município de Hidrolândia (GO), uma área que era usada para tráfico internacional de pessoas, inclusive de mulheres, para a Europa. A partir da nossa mobilização, o fazendeiro perdeu essa área. Chegamos a ser despejadas pelo governador do estado de Goiás, mas voltamos para a mesma área; o nome do acampamento é dona Neura”, conta Amélia.

As mulheres e o movimento articulado também realizaram uma ação de incidência junto a outras organizações, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT/GO). A ação coletiva demonstrou a força dos camponeses, sendo fundamental para a condenação do acusado, mesmo em um cenário de forças conservadoras. “Se não tivéssemos feito a mobilização, provavelmente o assassino de dona Neura teria sido absolvido”, comenta Amélia.

Somente em 2023, foram registradas 1.467 mulheres vítimas de feminicídio no Brasil, o maior número desde que o feminicídio foi tipificado como crime na Lei nº 13.104/2015, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 

O feminicídio enraizado nas estruturas sociais brasileiras, é uma problemática que impacta duramente mulheres e meninas, mas afetando de maneira diferenciada negras, camponesas e indígenas. O assassinato de dona Neura não é algo isolado, o perfil das mulheres vítimas de morte violenta é de 66% para mulheres negras; existem raça e idade muito comuns entre as vítimas, conforme os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Vale destacar que o perfil das vítimas não são homogêneas em todo o território nacional; os marcadores sociais de raça, classe e gênero geram diferenciações e especificidades nos crimes. Dona Neura, além de ser mulher e negra, também era agricultora. O Brasil ainda carece de dados oficiais sobre feminicídio entre mulheres das florestas e do campo; a falta de informações sobre esse grupo demonstra a invisibilidade à qual as mulheres camponesas estão submetidas.

Programa de Pequenos Projetos

Desde a sua fundação, a CESE definiu o apoio a pequenos projetos como a sua principal estratégia de ação para fortalecer a luta dos movimentos populares por direitos no Brasil.

Quer enviar um projeto para a CESE? Aqui uma lista com 10 exemplos de iniciativas que podem ser apoiadas:

1. Oficinas ou cursos de formação

2. Encontros e seminários

3. Campanhas

4. Atividades de produção, geração de renda, extrativismo

5. Manejo e defesa de águas, florestas, biomas

6. Mobilizações e atos públicos

7. Intercâmbios – troca de experiências

8. Produção e veiculação de materiais pedagógicos e informativos como cartilhas, cartazes, livros, vídeos, materiais impressos e/ou em formato digital

9. Ações de comunicação em geral

10. Atividades de planejamento e outras ações de fortalecimento da organização

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