O Agosto das Juventudes é um período simbólico de mobilização e resistência das juventudes brasileiras, Ao longo desse mês, são realizados diversos encontros, debates e ações que buscam fortalecer as vozes jovens e ampliar a visibilidade de suas causas.
O Encontro de Juventudes promovido pela CESE, com apoio da DKA/Austria e Pão para o Mundo, foi um desses importantes espaços de diálogo, trazendo o tema “Estratégias de Resistência no Enfrentamento à Violência em Territórios do Campo e da Cidade”. Realizado no dia 13 de agosto, o evento virtual reuniu juventudes de diferentes movimentos sociais nordestinos para discutir desafios e construir alternativas.
Com mediação de lideranças como Camylla Santiago, da Juventude Quilombola do Cumbe (Ceará), Flora Rodrigues, coordenadora da Rede Tumulto (Recife/Pernambuco), Leandra Arruda, do Coletivo Força Tururu (Paulista/Pernambuco), e Rozalia Alencar, do GT de Juventudes da Rede de Agroecologia do Maranhão, o encontro começou com uma apresentação das políticas referenciais da CESE pelas assessoras de projetos Vanessa Pugliese e Marcella Gomez.
Ambas destacaram a importância das juventudes na construção de um futuro mais justo. Vanessa ressaltou o papel dos encontros “Cá Entre Nós”, que desde 2023 vem costurando diálogos entre as juventudes do campo, das cidades e das águas, com ações previstas até 2026.
Juventudes: A pluralidade da violência
Um ponto central nas falas foi a pluralidade das vivências e lutas, o que ficou evidente nas contribuições de lideranças como Leandra Arruda e Flora Rodrigues. Leandra, do Coletivo Tururu, falou sobre a violência estrutural enfrentada por jovens em territórios marginalizados, e como a comunicação popular pode ser uma ferramenta poderosa para combater estereótipos e dar visibilidade aos aspectos positivos de suas comunidades. Ela mencionou o surgimento do Coletivo Tururu, criado para lutar contra a violência policial, e destacou iniciativas como o projeto “Medos das Juventudes”, que aborda questões como saúde emocional, violência e desemprego em escolas de Paulista, região metropolitana de Recife, Pernambuco.
Flora Rodrigues, coordenadora da Rede Tumulto, ampliou o debate ao trazer a intersecção entre juventude e raça. Ela afirmou que a negritude muitas vezes define os desafios enfrentados pela juventude, que é forçada a amadurecer mais cedo devido à violência e à exclusão social. Flora também destacou que o Nordeste, apesar de estar na linha de frente de muitas lutas, é frequentemente visto como um laboratório, e que é preciso valorizar as metodologias próprias desenvolvidas pelas juventudes da região. Ela reforçou a importância das trocas de saberes entre gerações, que podem potencializar as resistências e construir soluções mais eficazes.
Um consenso entre os participantes foi a falta de recursos e a invisibilidade das juventudes nordestinas em relação ao eixo Sul-Sudeste. Flora apontou que, enquanto jovens do Sul e Sudeste têm acesso facilitado a recursos e são vistos como “revolucionários”, os jovens nordestinos muitas vezes lutam pela própria sobrevivência, enfrentando precariedade e falta de apoio. Ainda assim, as juventudes do Nordeste continuam construindo soluções inovadoras em seus territórios.
Marcella Gomez reforçou o protagonismo das juventudes na construção de contranarrativas e na criação de projetos próprios. Ela ressaltou que, apesar das dificuldades, essas juventudes acumulam grande potência e são referências em suas comunidades. No entanto, destacou que é urgente ampliar o acesso a recursos para garantir a continuidade dos projetos propostos por esses coletivos.
resistência
Para enfrentar esses desafios, os participantes do encontro sugeriram uma série de estratégias que visam fortalecer as juventudes e transformar suas realidades. O autocuidado foi destacado como uma prática essencial, criando redes de apoio. O intercâmbio de experiências e formações, por meio de rodas de conversa e trocas de saberes, fortalece o conhecimento coletivo, enquanto a troca de sementes promove a soberania alimentar e práticas agroecológicas. Festivais e eventos culturais, como saraus, aulas de música e teatro, foram lidos como importantes para fortalecer a identidade comunitária e criar espaços de convivência.
A incidência política também foi apontada como uma estratégia central, com ações como escrachos para cobrar das autoridades respostas efetivas. A participação ativa das juventudes na gestão de espaços públicos, como centros culturais, e em espaços de decisão, como conselhos e grupos de trabalho, foi considerada fundamental para garantir a representatividade.
Além disso, o trabalho de base e a comunicação offline e a comunicação popular, por meio de postagens, vídeos e campanhas, amplia o alcance das lutas das juventudes. A educação, com iniciativas como cursinhos preparatórios, e a produção de alimentos tanto no campo quanto na cidade também foram destacadas como formas de garantir a autonomia das juventudes e promover a soberania alimentar.
Essas estratégias mostram que as juventudes nordestinas têm construído alternativas autônomas e potentes para transformar suas realidades. A luta pela participação ativa nas decisões políticas é crucial para que essas juventudes possam continuar avançando em suas conquistas e contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva.