Utilização e acesso a água é tema de debate no Fórum Mundial Social

Debater sobre o acesso água, contrapor o modelo de desenvolvimento que causa o estresse hídrico, e discutir as alternativas pela soberania nacional foram os objetivos da Roda de Diálogo “Contrapondos-se à apropriação da água pela agricultura (de exportação) – Pelo direito dos povos à água e a alimentação”, durante o Fórum Social Mundial 2018.

A roda aconteceu na tarde desta quarta-feira (14) e contou com a mediação de Rafael Oliveira de KOINONIA e exposição dialogada de: Andrea Müller-Frank, representando a agência Pão Para o Mundo; Ramesh Sharma/Ekta Parishad  movimento social envolvido com comunidades locais em 14 estados da Índia;  Luis Muchanga da UNAC: A União Nacional de Camponeses de Moçambique; Valquíria Lima da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA); e Moisés Borges do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB).

Andrea Müller-Frank deu início ao debate trazendo dados alarmantes sobre a necessidade preservação da água: “Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), 70% de toda a água disponível no mundo está sendo  utilizada para a atividade de irrigação, provocando o estresse hídrico.”. Esse tema tem sido colocado como prioridade na agenda internacional no que se refere às políticas de controle racional desse recurso natural: “Países industrializados devem observar sua produção e consumo, e reduzir o consumo de países secos. Podemos dizer que somos parte da crise global e por isso temos convidados e outras partes do mundo.”

Trazendo a temática de utilização desse bem para agricultura de exportação, Ramesh Sharma e Luis Muchanga compartilharam as experiências de seus países. Sharma aponta que a Índia está em primeiro em exportação de água através da monocultura do algodão e da cana- de- açúcar: “Através desses produtos estamos exportando água virtual, utilizando muita água subterrânea e diminuindo os lençóis freáticos.”. Já Muchanga aponta o eucalipto e a produção de banana como os principais causadores da crise da água em Moçambique: “Apesar da riqueza hidrográfica e da biodiversidade que há no país, temos como desafio discutir o direito a soberania alimentar e questionar o modelo de produção agroecológico que nos é imposto”.

Valquíria Lima apresentou a experiência da ASA, informando à plenária que inicialmente a articulação começou a defender a proposta de convivência com o Semiárido pela defesa do direito à água: “Embora  tenhamos experiências positivas  e importantes da garantia de direitos de acesso a água na grande seca, estamos lidando também com modelos que prejudicam a permanência dessas famílias em seus territórios.” Ela afirma que hoje a ASA tem atuando principalmente com a questão da monocultura do eucalipto e, mais atualmente com a questão da mineração. E completa: “É importante continuar mobilizando, organizando a sociedade civil, se relacionando com diversos parceiros de luta pela água, para ganhar mais força e contrapor essa política de desenvolvimento que tem intensificado a crise hídrica no Brasil e no semiárido.”.

Já Moisés Borges, trouxe à tona a forma como as multinacionais apropriaram-se da água dos rios, secaram nascentes e suprimiram a vegetação de Corretina, município localizado no oeste da Bahia. “Correntina e outras cidades da região vivem o conflito de disputa por água.” E relata o conflito que ganhou grande visibilidade e criminalização dos movimentos: “A empresa Igarashi destruiu o Cerrado e passou a consumir mais do que toda população da cidade. Fizemos denúncias e relatórios com parceiros para mudar a situação. Mas, diante da omissão do Governo do Estado, a população ficou revoltadaEssa revolta foi de indignação e legitima. E  resposta do Governo foi através de abusos da Polícia Militar.”

Para Moisés, a conjuntura política de Golpe está diretamente ligada aos interesses do capital e exploração por parte das grandes empresas e empreendimentos. E denuncia: “As milícias rurais nunca acabaram. São exportadores de água virtual, água enviada através de alimentos e muito sangue.”  , o representante do MAB afirma que a situação de Correntina anima o movimento: “Se não fosse a pressão, as coisas estariam piores. Apesar dos riscos, estamos seguindo com força e ousadia. Vamos à Brasília, nos somar com outras organizações para o FAMA.”

 A Roda de Diálogo foi uma iniciativa do PAD – Articulação e Diálogo Internacional; CESE; Articulação para o Monitoramento dos DH no Brasil; Movimento Nacional de Direitos Humanos -MNDH e o FEBRASIL – Fórum Ecumênico.