Projeto Favela Revela forma agentes culturais no Subúrbio Ferroviário de Salvador

Iniciativa do Quilombo Aldeia Tubarão recebeu apoio do Programa de Pequenos Projetos da CESE para promover a qualificação profissional de jovens

A riqueza e efervescência cultural do Subúrbio Ferroviário de Salvador motivou o Quilombo Aldeia Tubarão (QUIAL) a desenvolver uma iniciativa de formação de jovens do território com foco na sustentabilidade, arte e cultura. Foi assim que nasceu o projeto “Favela Revela: Ciclo de Oficinas para Agentes Culturais”, voltado para a promoção do desenvolvimento intelectual e profissional de jovens suburbanos/as, por meio de metodologias e recursos embasados no contexto socioeconômico e em valores culturais do território. Realizada nos meses de abril e maio de 2022, a iniciativa recebeu apoio do Programa de Pequenos Projetos da CESE.

O projeto buscou viabilizar a autonomia financeira para o aproveitamento integral do ciclo de oficinas, que envolveram temas como Arte e Cultura, Patrimônio, Territórios e Identidades, Cultura e Sustentabilidade, Administração e Educação Financeira, Processos Criativos, Elaboração de Projetos, Imagem Digital, Marketing Digital, Produção Cultural, Produção Audiovisual e Produção de Eventos. A formação foi voltada para jovens com idades entre 18 e 29 anos, residentes no Subúrbio Ferroviário de Salvador e com atuação nos coletivos culturais do território.

Com um total de 12 oficinas, as atividades do Favela Revela compartilharam instrumentos junto aos jovens, que poderão levar os aprendizados para aos seus grupos e coletivos culturais, além de serem estimulados para atuação no mercado cultural. As oficinas também trouxeram conteúdos que incentivam o protagonismo dos/as jovens agentes locais na produção cultural do Subúrbio, além de contribuir para o aquecimento da economia da cultura na região do Subúrbio Ferroviário e incluir os/as jovens formados nos circuitos criativos da cidade.

Qualificação do fazer – De acordo com uma das idealizadoras da iniciativa, a multiartista, gestora e educadora Natureza França,  o Favela Revela é uma plataforma multimídia e um espaço de estímulo à autonomia financeira. “Porque uma vez que você promove artistas, cantoras e cantores, poetisas, produtoras e produtores audiovisuais e outras categorias e linguagens, você está mostrando para as pessoas que aquele trabalho existe e que ele pode ser levado para qualquer lugar. Nós fazemos isso também a partir da qualificação”.

Para alavancar ainda mais esse processo, o projeto trouxe momentos de valorização da produção dos/as jovens, com uma premiação interna para os destaques e visa realizar em breve uma mostra de arte. “A ideia é também fazer eventos em que esses e essas jovens possam, além de participar, mostrando o seu trabalho, também ter recurso financeiro para isso”, acrescenta a coordenadora do projeto.

Segundo ela, o Favela Revela faz uma intermediação dos/as jovens, através de indicações para parceiros e contribui para que aqueles e aquelas mais dedicados/as e comprometidos/as no projeto possam conquistar mais experiências profissionais. “A gente tenta encaixar esses jovens no mercado cultural, através dos circuitos que nós alcançamos, estimulando que eles possam circular”, conta Natureza. Outra forma de contribuir para divulgação do trabalho dos/as jovens voluntários/as é a partir das postagens no Instagram, através da ficha técnica e marcação de todas as pessoas integrantes da equipe. “Convidamos os jovens que já participaram do ciclo de oficinas para estar com a gente em projetos, qualificando, reconhecendo o seu trabalho e inserindo nos trabalhos que a gente produz. Desse modo, estamos promovendo o seu trabalho de todas as formas possíveis” afirma a educadora.

Os nove jovens do Subúrbio Ferroviário participaram do ciclo de oficinas de qualificação para agentes culturais, sendo encaminhados agora para a fase em que vão colaborar com a produção do Favela Revela, de modo comprometido com a valorização e a sustentabilidade do território. Essa turma já vinha de uma vivência com as linguagens artísticas e agora ganhou mais ferramentas para dar impulsionamento às suas produções, bem como conhecer melhor a história do território e ampliar seu horizonte profissional. Na formação, além de Agentes Culturais, eles/as vivenciam o reconhecimento do território, da memória, da cultura e das suas próprias identidades. “Nós entendemos o jovem como um agente cultural suburbano, que deve atuar na sua área, se desenvolver e qualificar tecnicamente. Também é papel desse jovem agente cultural atuar no desenvolvimento do território, de valorização e de promoção da atuação em rede nesse território, em prol da sua própria sustentabilidade e daquele espaço” acrescenta.

Horizontalidade – Segundo Natureza, a importância da parceria com a CESE é tornar viável o projeto. “Sem esse apoio, ele não poderia acontecer. Na primeira edição, as oficinas aconteceram dentro da modalidade virtual e a maior parte das aulas fui em quem dei, dada a falta de recursos para remuneração de equipe. Dessa vez, a parceria da CESE possibilitou fazer tudo acontecer no formato presencial, com as condições adequadas”. A segunda edição do Favela Revela pôde garantir auxílio para transporte e lanches às/aos  participantes, oferecendo as condições necessárias para frequência no curso.

“O apoio da CESE nos permitiu ter acesso ao recurso e distribuí-lo de forma carinhosa, cuidadosa, de forma que a gente acredita que nossa comunidade, nosso território merece”, compartilha Natureza. A gestora priorizou montar uma equipe de profissionais com histórico de compromisso com o território do Subúrbio Ferroviário: o artista, produtor e apresentador Fabrício Cumming; o fundador e gestor do Museu Casa Escola Acervo da Laje, o professor José Eduardo Santos; bem como as oficineiras Karine Wakanda, Udi Santos, Carolina Barreto; a artista Pólen Acácio; e dos poetas Cláudio Aguiar e Marina Brag. O Favela Revela absorveu dois jovens que participaram da edição anterior do projeto e que hoje são oficineiros/as do novo grupo, além de contar com voluntários/as que colaboram diretamente nas oficinas, mas também estreitam os aprendizados.

Para ela, esse cuidado representa um exemplo para os/as jovens de como é importante dar retorno à comunidade: “A gente fez o que a gente ensinou para eles. Não adianta você dizer como fazer, se você não faz. Nós mostramos para eles que a gente pode, sim, ser sustentável e ter sustentabilidade financeira dentro no nosso território. A gente pode fazer isso pensando não só na gente – porque quando a gente pensa só na gente, a gente entra numa lógica que não é a nossa. É uma lógica que estamos reproduzindo do opressor, do dominador. A nossa dinâmica é a distribuição” explica a gestora.

Natureza conclui nos lembrando as potências que territórios como Tubarão e sua juventude pulsante trazem: “o Favela Revela é uma rede de afeto e trabalho feita por pessoas e iniciativas que revelam diariamente um Subúrbio cheio de potências que só precisa de oportunidades para mostrar como se faz a arte da verdade, em um contexto de adversidades, vivendo e criando a partir das dores e belezas da realidade do lado de cá”.

Imagmático: O Filme – O Favela Revela busca seguir com o compromisso de gerar movimento, fazer circular ideias, formação e recursos, promover a horizontalidade próprios de um quilombo e da própria lógica da comunidade de Tubarão, onde as ações aconteceram. Depois de concluído o processo formativo, a turma iniciou o desenvolvimento de um filme junto a equipe do QUIAL Tubarão. Imagmático – O Filme encerrou a promoção do ciclo formativo e foi lançado no dia 11 de junho, na sede da organização.

O filme é uma produção coletiva realizada por jovens agentes culturais do Subúrbio Ferroviário de Salvador, através do projeto. A obra propõe uma série de reflexões acerca de histórias, memórias e dos “corres” protagonizados pelas juventudes nas periferias, revelando beleza, luta, força e desejo de juventudes conscientes em territórios potentes. A intenção é que a película possa ser exibida em outros espaços de arte e cultura do Subúrbio e da cidade de Salvador.