Estandartes, batas, turbantes e tambores: muita mística fez do ato ‘Mártires da Floresta Amazônica’, realizado no dia 29 de julho, um encontro inter-religioso e diverso. O auditório do Centro de Eventos Benedito Nunes, na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, foi o espaço escolhido para receber centenas de pessoas que comungam dos ideais dos homens e mulheres que tombaram (foram assassinados/as) em defesa das vidas da região.
O ato contou com a participação de mais de oitocentas pessoas e homenageou vinte mártires dos países da Pan-Amazônia e dos estados da Amazônia brasileira, representando todas as pessoas que dedicaram suas vidas em defesa da floresta e dos povos que a habitam. Foram os/as mártires homenageados/as: Chico Mendes, Irmã Dorothy, Zé Claudio e Maria do Espírito Santo, Dom Pedro Casaldáliga, Bruno Pereira, Dom Phillips e Wilson Pinheiro; Cacique Emyra Wajãpi; Missionária Agostiniana Recoleta, Irmã Cleusa; Paulino Guajajara; Vicente Cañas Costa; Dilma Ferreira Silva; Nilce de Souza Magalhães – Nicinha; Povo Yanomami; Josimo Morais Tavares, Padre Josimo; Nicolasa Nosa de Cuvene; Alcides Jiménez Chicangana, Padre Alcides; Alejandro Labaka e Inés Arango; Irmã Maria Agustina de Jesús Rivas López, Aguchita, além dos povos indígenas, os grandes mártires da Floresta.
Alcidema Magalhães e José Francisco dos Santos Batista, do Comitê Dorothy, apresentaram o evento e trouxeram a importância deste momento no X Fórum Social Pan-Amazônico: “A Amazônia não tem tempo para esperar. A situação da Amazônia é uma emergência global. Portanto, precisamos do esperançar que age, revoluciona e tem esperança por mudar a história da Amazônia. A maior floresta tropical do planeta pede socorro. E nosso esperançar tem que ser revolucionário. Temos que nos unir para lutar em defesa da Amazônia”.
Mam´etu Nangetu, representando o Comitê Inter-religioso do Estado do Pará, fez uma acolhida em nome de todas as representações religiosas e aos/as mártires homenageados/as. Num discurso acalorado sobre a importância da luta dos/as mártires, como inspiração para que todos lutem em defesa dos povos da Amazônia, ela finalizou sua benção dizendo: ”Em nome de nossos Deuses Amazônicos, em nome de Jesus, de Buda, de Jeová, das Senhoras das Águas e dos Senhores da Criação, eu desejo que cada folha das árvores da natureza caia sobre nós, nos dando a vida, a prosperidade, a sorte, a paz e o amor, nesse momento. Que cada pessoa saia daqui fortalecida. Que a gente não tenha armas, mas muita paz e amor no coração”.
Foram exibidos pequenos vídeos sobre a vida dos/as mártires da Pan-Amazônia homenageados/as. O grupo de Dança IAÇÁ, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana e o grupo de Atabaques do terreiro de Mam´etu Nangetu também celebraram a luta dos povos da floresta.
Na data, foi lançado o livreto: Mártires da Floresta Amazônica, uma publicação com breve biografia de cada um/a dos/as mártires homenageados/as e seguiram em cortejo até as margens do Rio Guamá, onde uma celebração inter-religiosa, com uma ampla roda de Carimbó, trouxe o esperançar e a celebração da vida de todos os povos da Pan-Amazônia. Baixe a publicação ” Mártires da Floresta Amazônica” em português AQUI e em espanhol AQUI.
A pastora Sônia Mota, Diretora Executiva da CESE, declarou que o ato foi um momento sagrado de memórias das pessoas que não estão aqui conosco, que infelizmente tombaram por defender suas comunidades, seus territórios: ”Queremos lembrar essas mulheres, homens e comunidades inteiras que foram perseguidas, expulsas, dizimadas. Lembramos também o martírio da natureza ”, afirmou Sônia.
Após o lançamento da publicação, o público entrou em cortejo, entre cantos indígenas, de matriz africana e de igrejas cristãs com estandartes com os nomes daqueles que morreram para defender a floresta e seus povos originários e tradicionais.
Para o padre Dário Bossi, assessor nacional da Repam Brasil, “Os/as mártires nos ensinam muitas coisas, entre elas a indignação. […]Eles/as nos chamam a nos indignarmos contra um sistema que está condenando à morte da Amazônia e de seus povos.”
”Esse foi um ato contra os fundamentalismos políticos e religiosos, um ato de fé e de muito respeito pelo sagrado revelado em cada modo de ser e existir neste chão. De nossa diversidade é possível plantar respeito e colher beleza, esperança e paz. Não falamos de um Sagrado que está acima de tudo e de todos. Ousamos experimentar uma ventania que corre livre entre nós e nos convida a Amar como um ato revolucionário”, salientou Sonia Mota/CESE.
Todo o ato foi organizado pelo Grupo Articulação Ecumênica e inter-religiosa para o X Fospa, formado pelas organizações baseadas na Fé: CESE, FEACT, PAD, CONIC, Rede Igrejas e Mineração, REPAM, Rede Amazonizar, COMIN, CIMI, CAIC, CPT, Comitê Dorothy, Igreja Evangélica de Confissão Luterana /Belém, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil/Belém, CENARAB, Comitê Inter-religioso do Estado do Pará e Koinonia, com apoio da Fundação Ford.
Assista aqui o Ato dos/as Mártires da Floresta Amazônica realizado na Universidade Federal do Pará (UFPA).
Mais fotos do Ato no facebook da CESE
Sobre o X FOSPA: O X Fospa é o principal evento de mobilização, resistência e esperança da Pan-Amazônia, neste ano de 2022 marcado pelo aumento da pobreza no continente latino-americano, a guerra na Europa e, também, a guerra declarada à Amazônia pelo extrativismo predatório, narcotráfico, pesca ilegal, entre outros. E o ano do assassinato de tantos defensores da natureza, como recentemente, do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips. Nesta edição, o Fórum foi dividido por casas temáticas – as Casas dos Saberes e Sentires, construídas coletivamente a partir das linhas centrais dialogadas e aprovadas pelo Comitê Internacional do X Fospa. O nome dado a cada casa já dimensiona a abrangência dos temas em pauta: Casa dos Bens Comuns; Casa dos Povos e Direitos; Casa dos Territórios e Autogoverno e Casa da Mãe Terra.
Sobre o Grupo de Articulação Ecumênica e Inter-religiosa – TAPIRI
Na Casa dos Povos e Direitos, as organizações baseadas na Fé – CESE, FEACT, PAD, CONIC, Rede Igrejas e Mineração, REPAM, Rede Amazonizar, COMIN, CIMI, CAIC, CPT, Comitê Dorothy, Igreja Evangélica de Confissão Luterana /Belém, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil/Belém, CENARAB, Comitê Inter-religioso do Estado do Pará e Koinonia – construíram coletivamente o Tapiri Ecumênico e Inter-religioso. Tapiri é uma palavra indígena que significa “Palhoça onde se abrigam caminheiros/as”. E é a partir deste significado que o grupo propõe o diálogo inter-religioso entre as organizações que atuam na Amazônia legal e na Pan-Amazônia, fortalecendo as lutas pela promoção e garantia dos direitos dos povos da Amazônia e o combate aos fundamentalismos religiosos e políticos.