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Mais de 3,5 milhões de pessoas já foram diagnosticadas com a SARS-CoV-2, causadora da COVID-19, no mundo. Temos acompanhado perplexos o impacto da pandemia na China, Itália, Espanha, Equador e Estados Unidos. O avanço da doença também chega no Brasil, paralelo a uma crise sanitária e humanitária, cada vez mais agravada por uma grande crise política.

Essa pandemia não afetará as pessoas do mesmo modo. Ela tem a potencialidade de exterminar indígenas, quilombolas, população em situação de rua, moradores de periferia, refugiados/as, entre outro. Isso deixará marcas profundas e revelará ainda mais as desigualdades sociais geradas por decisões políticas e econômicas.

A partir dessa inquietação a CESE tem atuado em parceria com os movimentos sociais e as organizações populares que estão na linha de frente do enfretamento ao novo vírus, ampliando campanhas de arrecadação de alimentos e produtos de higiene e limpeza, promovendo informação e orientando pessoas com os cuidados com a saúde, como a Central de Movimentos Populares do Rio de Janeiro (CMPRJ).

Ocupação Chiquinha Gonzaga, na região central do Rio de Janeiro, localizada central do Brasil. Antigo prédio do INCRA – ocupado há 15 anos

Na noite de ontem (19/05), o Rio de Janeiro atingiu nova marca com 227 mortes em 24 h. É o segundo estado do Brasil mais atingido pela epidemia da coronavírus e registra 22 mil casos da COVID-19, com 3.079 mortes, 27.805 casos, 22.953 recuperados/as da doença e 994 óbitos em investigação. As redes de saúde público estão com mais de 90% de taxa de ocupação e faltam equipamentos de proteção individual (EPIs). Com isso, o sistema de saúde da cidade poderá entrar em colapso nos próximos dias por conta do avanço da pandemia.

Esses números são parte de dados oficiais da Secretaria de Saúde do Estado. No entanto, essa contagem pode ser inferior e não refletir a realidade de infectadas/os, uma vez que nem todas as pessoas, sobretudo moradores/as das comunidades, têm acesso aos testes para COVID-19. “Não existe acompanhamento oficial nas favelas, quanto mais testagem.”, revela Marcelo Braga Edmundo, Coordenador da CMPRJ e membro da coordenação nacional.

Para o representante da organização os números oficiais estão bem abaixo da realidade “Há mais de um mês, tenho conhecimento de pessoas morrendo nos barracos, sem nenhum atendimento, nem mesmo para retirar o corpo. Na Providência, por exemplo, um corpo ficou por três dias dentro de casa, esperando a retirada. Infelizmente, muitos favelados/as que estão à frente da organização das comunidades também estão pegando a doença, posso falar do Cosme da Providência e o André Constantine da Babilônia, entre outros.”, denuncia Marcelo.

Dona Zica Oliveira, membro da coordenação estadual do CMPRJ, também alerta sobre as subnotificações e chama atenção dos setores executivo e legislativo do Rio de Janeiro: “Acredito que os números sejam bem mais elevados, a exemplo da Comunidade onde moro em Vilela Aliança Bangu. Nesse momento tão difícil, os governos, tanto em nível estadual quanto municipal, têm tratado a população com total descaso com falta de atenção política social e emergencial que atenda às necessidades básicas.”, afirma dona Zica.

Em entrevista cedida para TV PUC-Rio: O impacto da COVID-19 nas favelas do Rio de Janeiro, Davison Coutinho, doutorando da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), um dos coordenadores do Núcleo de Apoio de Estudos e Ação sobre o Menor (NEAM) e morador da Rocinha,  explica que o novo vírus é considerado novo “caveirão” [símbolo de morte que retrata a repressão sofrida pelas comunidades] que entra nas favelas e revela a histórica ausência do Estado nesses espaços, que já completaram mais de um século e permanece com os mesmos problemas. “Meu sentimento é de tristeza e denuncia sobre o descaso e o massacre que está acontecendo dentro das comunidades. Além dos problemas sociais de seguir o isolamento da forma correta, as pessoas não têm opção do home office. Porteiros, caixas de mercado, domésticas e motoristas, que fazem a cidade acontecer, não estão em isolamento. A rocinha, por exemplo, está bastante movimentada com pessoas nas ruas.”, afirma Coutinho.

Apoio emergencial ao projeto “Comida para quem precisa e tem pressa”

Marcelo Braga explica que a desigualdade se faz mais contunde nas comunidades periféricas da capital fluminense. Para o representante da CMPRJ, existe uma “não cidade” dentro da cidade, que não tem acesso a direitos básico, como saneamento, água e moradia, e o confinamento para essa população é quase impraticável: “Esta população que vive na “não cidade” não está nas estatísticas, muitas vezes, nem mesmo nos programas sociais. Ela não está no mercado informal, não tem informação, sms, conta, não consegue acessar os apoios emergenciais, enfim, não tem nada! Além disso, vivem num território sem nenhuma ação do Estado, a não ser, a ação violenta das polícias que continua mesmo com a pandemia.”, afirma Marcelo.

Diante das dificuldades impostas à população para o acesso ao auxílio governamental e da falta de políticas públicas efetivas e permanentes nas áreas sociais, a Central de Movimentos Populares do Rio de Janeiro tem dado uma resposta concreta, principalmente, no que é mais doloroso ao ser humano: a fome! Através do projeto “Comida para quem precisa e tem pressa”, a CESE colaborou na ampliação da campanha de arrecadação alimentos e produtos de limpeza e higiene para 200 famílias de favelas, bairros periféricos e ocupações da cidade do Rio de Janeiro.

As comunidades atendidas foram as ocupações da “Pequena África”: Vito Giannotti, Chiquinha Gonzaga,  Quilombo da Gamboa, Morada da Conquista e Cortiços da Zona Portuária do Rio de janeiro. Além da Vila aliança em Bangu – Zona Oeste e o Morro do Sossego no Município de Duque de Caxias na Baixada Fluminense.

Dona Zica Oliveira fala sobre a importância do apoio da CESE nesse período de crise epidêmica: “A CESE vem praticando o maior ato de solidariedade nesse momento em que muitas famílias em nossas Comunidades sofrem por não possuírem pelo menos o básico para sua sobrevivência, pois a fome não espera.”, explica a coordenadora do movimento. E Marcelo complementa: O apoio foi importante não somente para matar a fome, mas para dar um pouco de dignidade as famílias”, relata.

Campanha “Quem tem fome tem pressa”:

A Central de Movimentos Populares do Rio de Janeiro lançou em março uma campanha emergencial diante da crise epidêmica da Covid-19 que tem vem causando uma enorme tragédia humana e social no estado do Rio de Janeiro.  Com o tema ”Quem tem fome tem pressa!” a iniciativa espera arrecadar produtos de limpeza e higiene pessoal, cestas básicas, álcool gel e/ou recursos financeiros e gêneros alimentícios em favelas, bairros da periferia e ocupações da capital fluminense. Com esta campanha a organização conseguiu distribuir 400 cestas e pretende continuar o trabalho contando com colaboração e solidariedade dos/as parceiros/as de luta por um mundo justo, igualitário e sem exploração.