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Diante da situação da pandemia Covid-19 que assola o mundo em 2020, o Brasil tem sido fortemente atingido, ampliando as desigualdades existentes e impactando grupos e populações que já enfrentam as desigualdades socioeconômicas e raciais e que vivem em constante vulnerabilidade. Em março, os dados apontavam para mais de 5 mil casos e 200 mortes. Em menos de três meses, o Brasil atingiu em junho mais de 1 milhão de casos confirmados e quase 53 mil mortes (dados do Ministério da Saúde e do consórcio de veículos de imprensa a partir de dados das secretarias estaduais de saúde).

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) e de especialistas da área, a melhor política para conter o avanço do novo coronavírus pelo mundo é isolamento social para prevenir novas infecções, além das medidas de higiene pessoal e utilização de máscaras. No entanto, seguir as recomendações da quarentena e lavar as mãos com frequência é um privilégio em país tão desigual como o Brasil, pois ficar em casa para quem vive em ocupações dos centros urbanos é um grande desafio.

Um levantamento realizado pelo DataFavela e pelo Instituto Locomotiva, em comunidades de todos os estados brasileiros, mostrou que a falta de água, de comida e de acesso a produtos de higiene e limpeza estão entre os principais empecilhos de combate a SARS-CoV-2, causadora da COVID-19.  56% dos/as moradores/as só conseguiriam ter suprimentos para as famílias por mais uma semana – após esse período, seria necessário buscar alternativas de trabalho e ajuda.

Compreendendo esse contexto como uma das maiores crises humanitárias da atualidade, a CESE recoloca outra vez no centro das discussões o tema dos direitos humanos e a defesa da vida, apoiando a ação emergencial do Movimento Sem Teto da Bahia.

Somos trabalhadoras e trabalhadores urbanos que lutam por moradia e condições dignas para viver com educação, saúde e transporte. O surto do coranavírus veio para piorar as condições sub-humanas que as famílias vivem dentro das periferias. Como vamos pautar a higienização se não temos condições mínimas de acesso a água e saneamento básico, por exemplo?”, explica Rita de Cássia Ferreira, da coordenação estadual do movimento e moradora da ocupação Quilombo do Paraíso, em Colinas de Periperi (Salvador).

Em um país desigual como Brasil, em que extrema pobreza atinge 13,5 milhões de pessoas e chega ao maior nível em 7 anos – segundo uma recente pesquisa do IBGE, a pandemia expõe pessoas mais vulnerabilizadas, como moradores/as de espaços pequenos e precários, como favelas, ocupações e palafitas.

Maura Cristina, da Articulação dos Movimentos e Comunidades do Centro Antigo de Salvador e também da coordenação estadual do movimento, traz a discussão racial e o impacto do covid19 na vida das mulheres negras: “O impacto para nós mulheres negras é muito cruel. O enfrentamento por trabalho e renda, saúde, mobilidade, segurança e combate ao genocídio da juventude negra se agrava, para que possamos nos manter com casa limpa, filhos/as dentro de casa, em cubículos com várias pessoas, sem TV e sem alimentação adequada. Como faremos isso? O impacto é genocida.”, afirma Maura.

A iniciativa apoiada pela CESE ocorre em numa situação de racismo estrutural onde uma parcela significativa da população negra não tem moradia, – ou quando possui, não há saneamento básico, regularização no fornecimento de água, energia elétrica e condições propícias de distanciamento.

Diante desse contexto, foi apoiado o projeto “Em tempos sombrios tecemos a esperança – A resistência das ações solidárias frente a pandemia” com o objetivo de garantir a alimentação, através da doação de cestas básicas, para moradores/es que estão em maior situação de vulnerabilidade social, como também distribuir produtos de higiene e realizar doações de máscaras confeccionadas pelas “Guerreiras Sem Teto” – mulheres que compõe o movimento.

Além disso, o recurso recebido pela CESE está viabilizando a realização de uma campanha educacional de combate a pandemia para as famílias assentadas, com divulgação de cartazes informativos e distribuição de cadernos pedagógicos sobre prevenção e cuidados com a higiene. “Não existe aula online para crianças que não têm chinelo para calçar. Sem falar de acesso à internet e celular. Então, produzimos esse material lúdico em parceria com a CESE para conscientização das crianças e também das famílias sobre o covid-19, o que tem favorecido bastante a comunicação dentro das ocupações.” relata Juliana Santos, militante há dezesseis anos do Movimento Sem Teto da Bahia.

Ana Laura Azevedo e Letícia Conceição – Ocupação Marielle Franco

As comunidades atendidas são ocupações localizadas no centro histórico de Salvador (IPAC I, IPAC II e IPAC III), Flores, Liberdade e Pelourinho. Também incluem as ocupações Quilombo Paraiso e Toster, na região do subúrbio ferroviário da capital baiana.  Além da ocupação Manuel Faustino, situada na Estrada do Derba-BA528, ocupações Guerreira Maria Felipa e Guerreira Dandara, localizadas em Cassange, e a ocupação Marielle Franco, divisa entre as cidades Salvador e Simões Filho.

Mulheres na linha de frente

Na linha de frente estão as mulheres do movimento, principalmente as que compõe o grupo “Guerreiras Sem Teto”, que surge em 2006 pra enfrentamento do machismo e da violência conta a mulher. “Estamos disputando nosso espaço dentro da sociedade, principalmente nesse momento de pandemia. As famílias que vivem em periferias são chefiadas por mulheres negras, que trabalham no mercado informal. Como vamos ficar em quarentena se trabalhamos hoje para comer hoje? Muitas nem são registradas nas prefeituras, fizeram o cadastro e ainda estão em análise”, relata Rita de Cássia.

Entre os dias 26 e 27 de março, a DataFavela e o Instituto Locomotiva realizaram um novo levantamento sobre o cenário da pandemia nas comunidades do Brasil. De acordo com a pesquisa, 92% das mães entrevistadas terão dificuldade para alimentar os/as filhos/as caso o programa de distribuição de renda não as alcance. Para 34% delas, a escassez de comida já é uma realidade

A situação se complica pelo corte da renda. “Guardadoras de carro, diaristas, domésticas, vendedora de frutas, ambulantes e baianas de acarajé são as mulheres que levam o pão para casa e cuidam das suas crianças sozinhas. Como a cidade está vazia, não podem trabalhar e estão sem recursos para viver. O isolamento é necessário, mas não garante o mínimo de sobrevivência dessas pessoas.” explica Juliana Santos que é oriunda da ocupação Guerreira Zeferina e atualmente contemplada no Programa Minha Casa Minha Vida, do governo Federal, hoje praticamente extinto.

Juliana explica que apesar da situação, a atuação das guerreiras tem sido essencial para enfrentamento da pandemia. “Estamos na linha de frente mobilizando recursos, produzindo máscaras e também criando métodos de sobrevivência dentro das comunidades. Na ocupação Paraíso colocamos tanques de águas, torneiras e pias para lavar as mãos, já que em casa não há água. E pretendemos expandir para outras ocupações.”, informa a integrante do movimento.

Se por um lado, assegurar a vida das pessoas que moram em situações precarizadas é um desafio, por outro, muitas ações solidárias estão surgindo para amenizar as dificuldades. “A luta não para, nem em tempo de quarentena. Somos muito gratas a CESE e todas as parcerias e doações recebidas. Esses recursos se transformam em esperança. Compreendemos que não estamos sozinhas, porque o mais difícil nesse momento é a sensação de solidão.”, afirma, Juliana.

Campanha “O pior vírus é a indiferença com a vida!”

O Movimento do Sem Teto da Bahia lançou no mês de março uma campanha de emergência diante da crise sanitária causada pelo Covid-19.  Com o tema ”O pior vírus é a indiferença com a vida!” a iniciativa espera arrecadar produtos para alimentação, higiene pessoal, cestas básicas, álcool gel e/ou recursos financeiros e gêneros alimentícios para ocupações que carecem de saneamento básico e de fornecimento de água regular. Os produtos estão sendo estocados na Ocupação Quilombo do Paraíso, ao lado do Hospital do Subúrbio, em Salvador.  As moradoras e moradores, em sua maioria, estão no mercado informal e com a crise do Coronavírus e a quarentena não têm como ganhar o seu sustento. Veja na imagem abaixo como contribuir: