Contra o fascismo e a opressão, 8M reúne centenas de mulheres em Salvador
09 de março de 2020

Atos públicos, manifestações, passeatas e rodas de conversa aconteceram neste último domingo, 8 de março, em várias cidades do Brasil como parte da luta das mulheres. Em Salvador, o grupo 8M, articulação composta por diversos movimentos e organizações de mulheres, se uniram com objetivo de realizar ações para potencializar e fortalecer a representatividade das mulheres na política e nas eleições de 2020. Reunidas no Cristo da Barra, as instituições dos diversos setores organizados trouxeram o tema “Política: Palavra Feminina – Representatividade das Mulheres no espaço de Poder” propondo uma reflexão sobre as mulheres e o mundo da política.
Com o céu nublado, as trabalhadoras saíram às ruas com palavras de ordem cartazes, faixas, músicas, danças e outras ferramentas para passar mensagem à população contra o machismo, o racismo, a LGBTQfobia e todo tipo de opressão sofrida pelas mulheres. Foi um ato construído pelo movimento autônomo de mulheres, sobretudo, pelo movimento de mulheres negras, mas também se somaram ao ato movimentos de juventude, organizações de direitos humanos, universidades e centrais sindicais.


Além do tema oficial, as manifestantes levaram suas bandeiras pelo direito aos seus corpos, combate ao racismo religioso, direito à educação e saúde e contra a gestão do presidente Jair Bolsonaro. A justiça pelo assassinato vereadora Marielle Franco também foi cobrada na manifestação, que no dia 14 deste mês completa-se dois anos.


O descontentamento com atual governo brasileiro foi expressamente apresentado pelas mulheres, sejam nas suas falas, nas estampas das camisetas e nos instrumentos de comunicação impressos. Para Lindinalva de Paula, da Rede de Mulheres Negras da Bahia, há uma percepção de que a unidade a partir da organização e estruturação dos movimentos de mulheres e das mulheres negras é uma das saídas para combater o fascismo: “ Só vamos conseguir derrubar o fascismo desse governo retrógrado, que diminui os direitos, caça a nossa liberdade e, incita a violência e o ódio a partir da nossa afetividade. Estamos discutindo e reconfigurando o movimento organizado de mulheres para garantir e manter a democracia. ”, afirmou Lindinalva.


As trabalhadoras da CESE juntaram-se as centenas de militantes para clamar contra todas violações de direitos sofridas pelas mulheres. Para Viviane Hermida, assessora de Projetos e Formação, a participação direta da organização no ato é de grande importância: “Para a CESE, o entendimento é de que não há direitos humanos e democracia sem a plena participação e garantia de direitos das mulheres. O 8M é umas das datas mais importantes de lutas das mulheres. Além de apoiar essa marcha e várias outras ações de fortalecimento por todo o país, estamos todas aqui para afirmar que não podemos mais aceitar retrocessos de direitos, discurso de ódio, misoginia que é inclusive incentivado pelo presidente da República. ”, informou Viviane. E completou: “Também a forte presença de mulheres negras e dos setores populares na frente dessa organização que reforça papel da CESE de apoiar essa movimentação. ”.
VEJA O
QUE FALAM
SOBRE NÓS
A CESE foi criada no ano mais violento da Ditadura Militar, quando se institucionalizou a tortura, se intensificaram as prisões arbitrárias, os assassinatos e os desaparecimentos de presos políticos. As igrejas tiveram a coragem de se reunir e criar uma instituição que pudesse ser um testemunho vivo da fé cristã no serviço ao povo brasileiro. Fico muito feliz que a CESE chegue aos 50 anos aperfeiçoando a sua maturidade.
Somos herdeiras do legado histórico de uma organização que há 50 anos dá testemunho de uma fé comprometida com o ecumenismo e a diaconia profética. Levar adiante esta missão é compromisso que assumimos com muita responsabilidade e consciência, pois vivemos em um país onde o mutirão pela justiça, pela paz e integridade da criação ainda é uma tarefa a se realizar.
Viva os 50 anos da CESE. Viva o ecumenismo que a organização traz para frente e esse diálogo intereclesial. É um momento muito especial porque a CESE defende direitos e traz o sujeito para maior visibilidade.
Comecei a aproximação com a organização pelo interesse em aprender com fundo de pequenos projetos. Sempre tivemos na CESE uma referência importante de uma instituição que estava à frente, na vanguarda, fazendo esse tipo de apoio com os grupos, desde antes de outras iniciativas existirem. E depois tive oportunidade de participar de outras ações para discutir o cenário político e também sobre as prioridades no campo socioambiental. Sempre foi uma troca muito forte.
Eu preciso de recursos para fazer a luta. Somos descendentes de grupos muito criativos, africanos e indígenas. Somos na maioria compostos por mulheres. E a formação em Mobilização de Recursos promovida pela CESE acaba nos dando autonomia, se assim compartilharmos dentro do nosso território.
Quero muito agradecer pela parceria, pelo seu histórico de luta com os povos indígenas. Durante todo o tempo que fui coordenadora executiva da APIB e representante da COIAB e da Amazônia brasileira, nós tivemos o apoio da CESE para realizar nossas manifestações, nosso Acampamento Terra Livre, para as assembleias locais e regionais. Tudo isso foi muito importante para fortalecer o nosso protagonismo e movimento indígena do Brasil. Deixo meus parabéns pelos 50 anos e seguimos em luta.
A CESE completa 50 anos de testemunho de fé ativa no amor, faz jus ao seu nome. Desde o início, se colocou em defesa dos direitos humanos, denunciou atos de violência e de tortura, participou da discussão de grandes temas nacionais, apoiou movimentos sociais de libertação. Parabéns pela atuação profética, em prol da unidade e da cidadania. Que Deus continue a fazer da CESE uma benção para muitos.
A gente tem uma associação do meu povo, Karipuna, na Terra Indígena Uaçá. Por muito tempo a nossa organização ficou inadimplente, sem poder atuar com nosso povo. Mas, conseguimos acessar o recurso da CESE para fortalecer organização indígena e estruturar a associação e reorganizá-la. Hoje orgulhosamente e muito emocionada digo que fazemos a Assembleia do Povo Karipuna realizada por nós indígenas, gerindo nosso próprio recurso. Atualmente temos uma diretoria toda indígena, conseguimos captar recursos e acessar outros projetos. E isso tudo só foi possível por causa da parceria com a CESE.
Nós, do SOS Corpo, mantemos com a CESE uma parceria de longa data. Temos objetivos muito próximos, queremos fortalecer os movimentos sociais porque acreditamos que eles são sujeitos políticos de transformação. Seguiremos juntas. Um grande salve aos 50 anos. Longa vida à CESE
A CESE não está com a gente só subsidiando, mas estimulando e fortalecendo. São cinquenta anos possibilitando que as ditas minorias gritem; intervindo realmente para que a gente transforme esse país em um lugar mais igualitário e fraterno, em que a gente possa viver como nos quilombos: comunidades circulares, que cabe todo mundo, respirando liberdade e esperança. Parabéns, CESE. Axé e luz para nós!