Nota: Conselho Ecumênico Baiano de Igrejas Cristãs (CEBIC) contra o Racismo Religioso
25 de outubro de 2019
Nós, Igrejas membros do Conselho Ecumênico Baiano de Igrejas Cristãs (CEBIC), temos a alegria de nos reconhecermos como participantes do Corpo de Cristo em terras baianas e, em específico, soteropolitanas. Sendo, pois, agraciados(as) em poder viver em tão bela terra, de um povo lutador, belo e acolhedor, nos sentimos indignados(as) com mais um ato de racismo religioso dirigido a nossas irmãs e irmãos baianos de religião de matriz africana.
O crime de racismo foi cometido pela assim intitulada “organização cristã OM Ships International”, que é a responsável pelo empreendimento comercial do navio “Logos Hope”, que, segundo foi noticiado, teria pedido orações antes de aportar em nossa Baía de Todos os Santos, pois esta seria uma cidade “conhecida pela crença do povo em espíritos e demônios”. Covardemente, certamente por temerem as repercussões financeiras e outras, o grupo retirou sua postagem, mas o crime já tinha sido flagrado e estampado em diversos meios de comunicação.
Nós do CEBIC reiteramos nosso repúdio a esse crime de racismo religioso e, mesmo não tendo ligações com a mencionada organização, humildemente pedimos desculpas a todas e todos os baianos(as), a todas e todos os religiosos(as) de matriz africana por mais esta agressão. Afirmamos isto ao reconhecer que, no passado, o cristianismo, ao qual pertencemos, também foi promotor de injúrias e ofensas contra pessoas e espaços religiosos de Candomblé, Umbanda etc. Nossos antepassados já traziam essa estranha acusação de que essas religiões seriam “do Diabo” e de que as pessoas que a praticassem estariam “possuídas de demônios”. As igrejas filiadas ao CEBIC têm forte compromisso com a promoção da Diversidade Religiosa, com a denúncia e combate ao racismo, bem como com a busca por reparação, mas reconhecemos que ainda há muitas igrejas que fazem uso indevido do santo nome do Cristo para camuflar seu racismo que repudiamos. Entendemos que estas igrejas cometem blasfêmia, pois Jesus de Nazaré anunciou que a forma verdadeira de se amar a Deus é amar ao próximo como a si mesmo.
Por fim, serve como triste metáfora do presente-passado: mais uma vez os “demônios” chegam a essas terras de navio. Há quinhentos anos, os “demônios” vieram de Portugal “para roubar, matar e destruir” os povos desta terra. Mais uma vez, as estruturas do sectarismo e do ódio – que certamente não vêm de Deus, nem do céu – se aproximam de nosso porto. Nós, moradores(as) da Cidade do Salvador, não iremos juntar-nos a quem espalha ódio, dor e morte. Ficamos, entre nós, celebrando as belezas de ser e viver nesta terra.
Salvador, 26 de outubro de 2019
Assinam pelo CEBIC:
Igreja Batista Nazareth;
Igreja Presbiteriana Unida;
Igreja Evangélica de Confissão Luterana;
Comunidade de Jesus;
Igreja Católica Apostólica Romana;
Igreja da Trindade;
Coordenadoria Ecumênica de Serviço;
Centro de Estudos Bíblicos;
Comunidade Cristã Inclusiva do Salvador;
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil;
Igreja Presbiteriana Independente de Fazenda Grande, Salvador- BA;
Igreja Ortodoxa Bielorrússia Eslava no Estrangeiro.
Apóiam a Nota:
Rede FALE;
Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito – Núcleo Salvador;
Educafro SP;
Comunidade Batista de São Gonçalo RJ;
Movimento Negro Evangélico Brasil;
FEACT Brasil;
Paz e Esperança Brasil.
Nota para impressão: CEBIC Denúncia de Racismo Logos Hope 26 10 19 (1)
VEJA O
QUE FALAM
SOBRE NÓS
Celebrar os 50 anos da CESE é reconhecer uma caminhada cristã dedicada a defesa dos direitos humanos em todas as suas dimensões, comprometida com os segmentos mais vulnerabilizados da população brasileira. E valorizar cada conquista alcançada em cada luta travada na busca da justiça, do direito e da paz. Fazer parte dessa caminhada é um privilégio e motivo de grande alegria poder mais uma vez nos regozijar: “Grande coisas fez o Senhor por nós, e por isso estamos alegres!” (Salmo 126.3)
A luta antirracista é o grande mote das nossas ações que tem um dos principais objetivos o enfrentamento ao racismo religioso e a violência, que tem sido crescente no estado do Maranhão. Por tanto, a parceria com a CESE nos proporciona a construção de estratégias políticas e de ações em redes, nos apoia na articulação com parcerias que de fato promovam incidência nas políticas públicas, proposições institucionais de enfrentamento a esse racismo religioso que tem gerado muita violência. A CESE nos desafia na superação do racismo institucional, como o grande vetor de inviabilização e da violência contra as religiões de matrizes africanas.
A gente tem uma associação do meu povo, Karipuna, na Terra Indígena Uaçá. Por muito tempo a nossa organização ficou inadimplente, sem poder atuar com nosso povo. Mas, conseguimos acessar o recurso da CESE para fortalecer organização indígena e estruturar a associação e reorganizá-la. Hoje orgulhosamente e muito emocionada digo que fazemos a Assembleia do Povo Karipuna realizada por nós indígenas, gerindo nosso próprio recurso. Atualmente temos uma diretoria toda indígena, conseguimos captar recursos e acessar outros projetos. E isso tudo só foi possível por causa da parceria com a CESE.
Viva os 50 anos da CESE. Viva o ecumenismo que a organização traz para frente e esse diálogo intereclesial. É um momento muito especial porque a CESE defende direitos e traz o sujeito para maior visibilidade.
Parabéns à CESE pela resistência, pela forte ancestralidade, pelo fortalecimento e proteção aos povos quilombolas. Onde a política pública não chega, a CESE chega para amenizar os impactos e viabilizar a permanência das pessoas, das comunidades. Que isso seja cada vez mais potente, mais presente e que a gente encontre, junto à CESE, cada vez mais motivos para resistir e esperançar.
Nós, do SOS Corpo, mantemos com a CESE uma parceria de longa data. Temos objetivos muito próximos, queremos fortalecer os movimentos sociais porque acreditamos que eles são sujeitos políticos de transformação. Seguiremos juntas. Um grande salve aos 50 anos. Longa vida à CESE
A relação de cooperação entre a CESE e Movimento Pesqueiro é de longa data. O apoio político e financeiro torna possível chegarmos em várias comunidades pesqueiras no Brasil para que a gente se articule, faça formação política e nos organize enquanto movimento popular. Temos uma parceria de diálogos construtivos, compreensível, e queremos cada vez mais que a CESE caminhe junto conosco.
Quero muito agradecer pela parceria, pelo seu histórico de luta com os povos indígenas. Durante todo o tempo que fui coordenadora executiva da APIB e representante da COIAB e da Amazônia brasileira, nós tivemos o apoio da CESE para realizar nossas manifestações, nosso Acampamento Terra Livre, para as assembleias locais e regionais. Tudo isso foi muito importante para fortalecer o nosso protagonismo e movimento indígena do Brasil. Deixo meus parabéns pelos 50 anos e seguimos em luta.
Minha história com a CESE poderia ser traduzida em uma palavra: COMUNHÃO! A CESE é uma Família. Repito: uma Família! Nos dois mandatos que estive como presidente da CESE pude experimentar a vivência fraterna e gostosa de uma equipe tão diversificada em saberes, experiências de fé, histórias de vida, e tão unida pela harmonia criada pelo Espírito de Deus e pelo único desejo de SERVIR aos mais pobres e vulneráveis na conquista e defesa dos seus direitos fundamentais. Louvado seja Deus pelos 50 anos de COMUNHÃO e SERVIÇO da CESE! Gratidão por tudo e para sempre!
A CESE foi criada no ano mais violento da Ditadura Militar, quando se institucionalizou a tortura, se intensificaram as prisões arbitrárias, os assassinatos e os desaparecimentos de presos políticos. As igrejas tiveram a coragem de se reunir e criar uma instituição que pudesse ser um testemunho vivo da fé cristã no serviço ao povo brasileiro. Fico muito feliz que a CESE chegue aos 50 anos aperfeiçoando a sua maturidade.