‘Bem Viver: Esperança, Resistência e Profecia” é tema de Roda de Diálogo Ecumênica
25 de outubro de 2019
A Cáritas Brasileira Regional Nordeste 3 – Bahia e Sergipe e CESE promoveram na última sexta, 25, uma Roda de Diálogo Ecumênica com a presença de Graciela Chamorro, teóloga, doutora em antropologia e professora de História Indígena na Universidade Federal da Grande Dourados (Mato Grosso do Sul) e o professor Rafael Silva, da Universidade Federal do Ceará e doutorando em Sociologia pela Universidade de Coimbra (Portugal).
A Roda teve como tema o ”Bem Viver: Esperança, Resistência e Profecia” e aconteceu no Auditório do Convento São Francisco, Pelourinho. A atividade fez parte da programação da 3a Feira de Sabores e Saberes, promovida anualmente pela Cáritas, com apoio da CESE, que aconteceu de 24 a 27 de outubro.

A teóloga Graciela Chamorro apresentou o conceito do bem viver como uma concepção de vida proveniente dos povos indígenas andinos, da Bolívia e do Equador, além dos povos Guarani do Brasil e do Paraguai: Suma Qamaña em aimara, Sumak Kawsay em quechua, Teko Porã em guarani. Segundo esta concepção, não existe de um lado o ser humano e de outro a natureza, mas todos – seres humanos e demais seres – fazem parte da natureza. Com ela devemos viver de forma harmoniosa: para a perspectiva do Viver Bem, a natureza não é um objeto; não é uma fonte de recursos e matérias primas; é um ser vivo. Esta dimensão ecológica da realidade reconhece que a natureza é indivisível e intrinsecamente imbricada à vida dos seres humanos, parte da natureza. “O bem viver é direito de todos os seres. Não apenas aos direitos humanos. Faz resistência a tudo que coloca em risco a sobrevivência dos seres na Terra. É completa: “A Terra é a base que o sustenta. É o elemento sagrado onde se vive e se ancora.”, afirmou a teóloga.

Rafael Vieira salientou as dimensões da esperança e da resistência como expressões do bem viver. Segundo Vieira, a expansão do bem viver exige uma transformação profunda de condutas pessoais e sociais, bem como uma mudança profunda na economia global, na atuação dos estados, mas é um caminho a ser percorrido a partir de condutas pessoais, de consumo consciente no nosso dia a dia e da organização social, que deve ser um instrumento de disputa política. O que eu preciso de fato? o que é supérfluo? A valorização da agroecologia e da economia solidária, como essa feira promovida em Salvador pela Cáritas, são exemplos concretos de iniciativas de um modelo de produção coletiva, que envolvem ”os sabores e saberes” e dialogam e respeitam nossa casa comum.
“Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”, a famosa frase atribuída à Conceição Evaristo foi trazida pelo professor como a resistência é um instrumento de disputa coletiva na dimensão do bem viver.

VEJA O
QUE FALAM
SOBRE NÓS
Celebrar os 50 anos da CESE é reconhecer uma caminhada cristã dedicada a defesa dos direitos humanos em todas as suas dimensões, comprometida com os segmentos mais vulnerabilizados da população brasileira. E valorizar cada conquista alcançada em cada luta travada na busca da justiça, do direito e da paz. Fazer parte dessa caminhada é um privilégio e motivo de grande alegria poder mais uma vez nos regozijar: “Grande coisas fez o Senhor por nós, e por isso estamos alegres!” (Salmo 126.3)
Quero muito agradecer pela parceria, pelo seu histórico de luta com os povos indígenas. Durante todo o tempo que fui coordenadora executiva da APIB e representante da COIAB e da Amazônia brasileira, nós tivemos o apoio da CESE para realizar nossas manifestações, nosso Acampamento Terra Livre, para as assembleias locais e regionais. Tudo isso foi muito importante para fortalecer o nosso protagonismo e movimento indígena do Brasil. Deixo meus parabéns pelos 50 anos e seguimos em luta.
A relação de cooperação entre a CESE e Movimento Pesqueiro é de longa data. O apoio político e financeiro torna possível chegarmos em várias comunidades pesqueiras no Brasil para que a gente se articule, faça formação política e nos organize enquanto movimento popular. Temos uma parceria de diálogos construtivos, compreensível, e queremos cada vez mais que a CESE caminhe junto conosco.
A CESE completa 50 anos de testemunho de fé ativa no amor, faz jus ao seu nome. Desde o início, se colocou em defesa dos direitos humanos, denunciou atos de violência e de tortura, participou da discussão de grandes temas nacionais, apoiou movimentos sociais de libertação. Parabéns pela atuação profética, em prol da unidade e da cidadania. Que Deus continue a fazer da CESE uma benção para muitos.
A gente tem uma associação do meu povo, Karipuna, na Terra Indígena Uaçá. Por muito tempo a nossa organização ficou inadimplente, sem poder atuar com nosso povo. Mas, conseguimos acessar o recurso da CESE para fortalecer organização indígena e estruturar a associação e reorganizá-la. Hoje orgulhosamente e muito emocionada digo que fazemos a Assembleia do Povo Karipuna realizada por nós indígenas, gerindo nosso próprio recurso. Atualmente temos uma diretoria toda indígena, conseguimos captar recursos e acessar outros projetos. E isso tudo só foi possível por causa da parceria com a CESE.
A CESE não está com a gente só subsidiando, mas estimulando e fortalecendo. São cinquenta anos possibilitando que as ditas minorias gritem; intervindo realmente para que a gente transforme esse país em um lugar mais igualitário e fraterno, em que a gente possa viver como nos quilombos: comunidades circulares, que cabe todo mundo, respirando liberdade e esperança. Parabéns, CESE. Axé e luz para nós!
Parabéns à CESE pela resistência, pela forte ancestralidade, pelo fortalecimento e proteção aos povos quilombolas. Onde a política pública não chega, a CESE chega para amenizar os impactos e viabilizar a permanência das pessoas, das comunidades. Que isso seja cada vez mais potente, mais presente e que a gente encontre, junto à CESE, cada vez mais motivos para resistir e esperançar.
Eu preciso de recursos para fazer a luta. Somos descendentes de grupos muito criativos, africanos e indígenas. Somos na maioria compostos por mulheres. E a formação em Mobilização de Recursos promovida pela CESE acaba nos dando autonomia, se assim compartilharmos dentro do nosso território.
Ao longo desses 50 anos, fomos presenteadas pela presença da CESE em nossas comunidades. Nós somos testemunhas do quanto ela tem de companheirismo e solidariedade investidos em nossos territórios. E isso tem sido fundamental para que continuemos em luta e em defesa do nosso povo.
A CESE foi criada no ano mais violento da Ditadura Militar, quando se institucionalizou a tortura, se intensificaram as prisões arbitrárias, os assassinatos e os desaparecimentos de presos políticos. As igrejas tiveram a coragem de se reunir e criar uma instituição que pudesse ser um testemunho vivo da fé cristã no serviço ao povo brasileiro. Fico muito feliz que a CESE chegue aos 50 anos aperfeiçoando a sua maturidade.