CESE apoiou a realização do primeiro encontro do movimento desde a pandemia
Renovação das motivações para a luta, reencontro e afirmação da pluralidade das mulheres evangélicas brasileiras. Esse foi o saldo do Encontro Nacional das Mulheres Evangélicas pela Igualdade de Gênero (EIG), realizado de 10 a 13 de dezembro, na CCZL – Comunidade Cristã da Zona Leste, cidade de São Paulo, através do Projeto Vida: Substantivo Feminino, contemplado no Programa de Pequenos Projetos da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE).
“Mulheres EIG é uma pluralidade de mulheres, pluralidade social-racial-de gênero, mas todas inseridas nesse sistema opressor capitalista que é machista, racista, sexista, misógino e que coloca tod@s as mulheres em condições de violências. Umas mais, outras menos, umas mais cedo outras mais tarde, mas todas, em algum momento da vida se reconhece, se reconheceu ou se reconhecerá em situação de violência na casa, na escola, no trabalho, na igreja, pelas mídias, ou seja, se reconhecem em um sistema de opressão e violências que atua sincronizado contra as mulheres. Mas o que nos une é que somos, mulheres de fé”, explica Valéria Cristina Vilhena, Teóloga e Doutoranda em Educação e História pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e fundadora do coletivo EIG.
Seguindo os protocolos de cuidado e segurança das participantes, o encontro permitiu fortalecer os laços entre as mulheres e as bases para as ações futuras do coletivo, reunindo aproximadamente 150 participantes. “Vacinadas, com máscaras e com constante higienização das mãos foi possível nos abraçar, algumas se (re)conhecerem presencialmente; tivemos uma programação que foi desde passear, brincar, confraternizar, trabalhar, exercer amor, cuidado, perdão e a celebração em um culto potente da espiritualidade cristã, inter-religiosa, feminista-antirracista-antipatriarcal-anticapitalista” declarou a liderança do movimento. Além de promover o reencontro entre as integrantes do coletivo, o evento também visou promover o fortalecimento das coordenadoras regionais, seu trabalho Brasil afora e encaminhamentos de organização. Na oportunidade, o coletivo também promoveu a Assembleia de Fundação da Associação Mulheres EIG.
O encontro foi acompanhado pela equipe da cineasta Alice Riff, documentarista, que captou em vídeo as atividades e discussões, além de gravar entrevistas com as dirigentes nacionais e as coordenadoras das regionais e de momentos de culto de espiritualidade feminista. O objetivo da ação foi captar a trajetória da EIG através do audiovisual, mostrar como o coletivo traz atuação prática e teoria feminista, sem desprezar as religiões como importantes construtos da história, cultura e imaginário social. O projeto viabilizou a produção do documentário, que retrata as ações desse coletivo que tem inspirado e transformado tantas vidas, e que vem realizando um debate contra todas as formas de opressões e violências perpetradas pelo sistema religioso hegemônico pecaminoso, patriarcal, misógino, racista e pró-sistema. Por se tratar de um movimento novo e na contramão do que está no poder hoje no Brasil, a existência desse grupo é importante e por isso o interesse em realizar esse documentário.
O Projeto Vida: Substantivo Feminino nasceu a partir do debate do tema que o movimento levaria para as ruas no 8 de março. “No ano de 2021, em meio a uma pandemia tão mal gestada, repleta de negacionismo, obscurantismo, instrumentalização da fé e da religião, especialmente cristã evangélica o tema coletivamente escolhido foi Vida, substantivo feminino” acrescenta a teóloga.
Evangélicas pela Igualdade de Gênero – A Mulheres EIG nasceu em 2015 e se coloca como um movimento nacionalmente estabelecido e conhecido na sociedade brasileira. A EIG se configura como um movimento que vem realizando um trabalho nacional de apoio às mulheres em situação de violência, emancipação polícia e econômica e de base ecumênica. Com objetivo de ecoar as vozes das mulheres, o coletivo atua em nove estados brasileiros Paraná, São Paulo, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
O coletivo EIG encara o debate sobre igualdade de direitos e religião, bem como as teologias feministas (negra, queer, comunitária etc.) como instrumental de luta e prática de fé, através de uma espiritualidade transfeminista, cúltica, celebratativa e formativa. “Como um movimento de mulheres de fé e luta, nós temos uma pastoral do cuidado, da escuta ativa e empática, portanto o reconhecimento da dimensão religiosa das mulheres evangélicas, o que as Redes de Serviços Públicos, em geral, reconhecem, mas na maioria das vezes não sabem e/ou também não podem atuar nessa perspectiva”. O coletivo atende e encaminha mulheres para equipamentos públicos e redes de apoio e atendimento às mulheres em situação de violências.
“Vivemos também ‘em contradições’, porque estamos em um sistema que tem em sua base estrutural racismo-sexismo-misoginia-lgbtfobia, partimos do ponto de que todas nós mulheres estamos em condições de violências, por isso nosso exercício é, sobretudo, pedagógico, contínuo, não cabe agressão, violência verbal, insultos, desrespeito, humilhação, mas a procura constante de fortalecer a sororidade, a dororidade, a diversidade, que está ou deve estar contidos no amor cristão” explica Valéria, sinalizando que o movimento ressalta reconhecer que mulheres evangélicas, em sua pluralidade, também enfrentam violências cotidianas. “Nossa centralidade de valores está no Jesus pobre, periférico, não branco, antissistêmico, que foi perseguido, traído, julgado injustamente, condenado e morto pelo Império romano, que escravizava, empobrecia, oprimia, explorava diferentes povos, especialmente as mulheres; um sistema patriarcal que foi em todo tempo da vida de Jesus, por ele denunciado!” acrescenta a teóloga.
CESE e Mulheres EIG – Propósitos comuns aproximaram CESE e Mulheres EIG: movimento religioso e ecumênico, comprometido com a intolerância e a democracia. “A CESE é organização referência não somente para Mulheres EIG, mas em nosso país, especialmente para movimentos e organizações de cunho religioso, já que CESE foi fundada por igrejas cristãs que entenderam que organizações, movimentos, ações populares em prol de uma democracia com justiça necessitava ser cada vez mais efetivada em nosso país para que de fato houvesse transformações” considera a teóloga. “ Somos gratas por podermos contar com esse precioso apoio, que proporcionou que nosso Encontro Nacional Vida: Substantivo Feminino se tornasse real e, assim, nossa luta, resistência por direitos, especialmente de Mulheres, sem desprezar a dimensão de fé de cada uma delas deu mais um passo firme para continuarmos juntas Mulheres EIG e CESE nas mesmas buscas, nas mesmas (re)construções para libertações” conclui Valéria.