O Prêmio Zanetti de Direitos Humanos marcou o encerramento das celebrações pelos 50 anos da CESE, comemorados ao longo de todo o ano de 2023.
A noite da última sexta-feira (13) foi marcada pela premiação das experiências vencedoras do Prêmio Zanetti de Direitos Humanos. Diversas organizações, defensores e defensoras dos DH se reuniram na sede da CESE para prestigiar as quatro organizações responsáveis por iniciativas marcantes e que reforçam a importância da luta por direitos no Brasil. O resultado final do Prêmio Zanetti foi divulgado no último dia 28/11.
Representando a Associação Indígena Apinajé Pyka Mex, do Tocantins, esteve presente Diana Apinajé. Pela Frente de Luta por Moradia Digna do Ceará, Laíssa Limeira. Herton Fabrício Rodrigues representou a Organização de Lideranças Indígenas Mura do Careiro da Várzea, do Amazonas. E Risalva Souza recebeu a premiação pela Associação dos Agricultores Familiares de Vila dos Pauzinhos, da Bahia.
Pela Cooperativa Ujamaa, que recebeu menção honrosa no Prêmio Zanetti, vieram o jovem antropólogo Pedro Maia e a urbanista e educadora comunitária Apoena Ferreira.
Além do prêmio em dinheiro para as vencedoras, todas as cinco organizações receberam uma estatueta simbólica, em alusão a José Carlos Zanetti. Ambientalista ferrenho, o Amoroso Revolucionário tinha como maior meio de deslocamento a sua bicicleta. O ‘troféu’ foi confeccionado por Edna Nascimento e Wiliam Deivis Nascimento Pereira, uma dupla de artesãos do bairro Uruguai.
Veja abaixo um pouco da celebração final do Prêmio Zanetti de Direitos Humanos.
Fala das vencedoras do Prêmio Zanetti
Diana Apinajé, da Associação Pyka Mex, falou sobre a sua emoção em receber o prêmio. “É muito importante que a CESE fortaleça a luta dos povos indígenas. Criei essa Associação com apoio do meu tio e estou conhecendo o mundo através dela. Estou muito emocionada para voltar para a minha aldeia com este prêmio”, celebrou a indígena.
O grupo realizou, em 2023, formações voltadas para a comunicação, conceitos de mudanças climáticas, justiça climática, elaboração de projetos socioambientais, formas de incidência política, etc. Foram 20 jovens dentre quilombolas, indígenas, pescadores/as tradicionais, agroextrativistas, assentadas e acampadas da reforma agrária, entre outros. A cerimônia de formatura do curso foi feita com base nos rituais da tradição Apinajé.
Ela recebeu o prêmio das mãos de Lucyvanda Moura, assessora de Projetos e Formação da CESE.
Frente de Luta por Moradia Digna
Laíssa Limeira, representando a FLMD, falou um pouco sobre a trajetória do movimento em Fortaleza e sobre a sua sensação de gratidão. “Nós lidamos com forças muito poderosas. Este prêmio mostra que a luta da Frente e das comunidades vale a pena. É um reconhecimento que o nosso trabalho tem sentido. Estamos no caminho certo”, afirmou a liderança.
A Frente busca concretizar as Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) na capital cearense. Todo esse histórico de luta já conquistou a eleição dos novos conselhos gestores das ZEIS – inclusive integrados pela FLMD – e a tramitação e aprovação dos Projetos de Lei Complementares que definem a normatização especial de 10 das 12 ZEIS prioritárias na Câmara Municipal de Fortaleza.
Vanessa Pugliese, também da Assessoria de Projetos e Formação da CESE, foi quem entregou o prêmio à FLMD.
Mura do Careiro da Várzea
Representando os indígenas Mura do Careiro da Várzea, Herton Rodrigues conta que o maior legado da luta do seu povo é a criação do Movimento Resistência. “Estou emocionado desde que saí da minha aldeia. Nós éramos uma organização de professores. Hoje somos dezenas de aldeias e temos apoio de organizações como Foirn, Apib, Coia, Apiam, Omim. Mais de 700 pessoas participaram da nossa assembleia. Em uma época de estiagem, muitas se deslocaram a pé por quilômetros para dizer não à mineração.”
A Organização de Lideranças Indígenas Mura do Careiro da Várzea protagonizou iniciativas essenciais para barrar a atuação da mineradora Potássio do Brasil Ltda., responsável pelo Projeto Autazes, que visa a mineração de Cloreto de Potássio em Autazes (AM). Em 2015, a mineradora chegou a perfurar uma área que era um cemitério ancestral do povo Mura e colher artefatos.
Herton recebeu o prêmio das mãos de Lúcia Ferreira, secretária de Projetos da CESE.
O Festival do Umbu
Vindo lá da Vila dos Pauzinhos, na Zona Rural de Campo Formoso (BA), Risalva Souza falou sobre a ausência de políticas públicas para sua comunidade e a grande fortuna do seu povo: o umbu! “Tenho lembranças dos meus pais carregando umbu nos ombros, na cabeça. Até mesmo as crianças. Era a sobrevivência do nosso povo. Como a renda era pouca, a tradição foi caindo. Hoje mudamos isso e o III Festival está vindo aí!”, celebrou a agricultora.
O Festival do Umbu tem ganhado título de maior evento da região. Um evento de grande impacto para a região em aspectos econômicos, socio-organizativos, produtivos e políticos. Estimulou a comunidade a fortalecer o grupo de produção e a realização de outras atividades, para além da dinamização da comunidade, que é historicamente pacata e excluída da grande maioria das políticas públicas.
Juçara Ferreira, também secretária de Projetos da CESE, foi quem entregou o prêmio à agricultora.
Menção Honrosa
A Cooperativa Ujamaa é uma organização comunitária de juventude negra e educadores/as comunitários/as de Salvador (BA). O projeto “Faremos Palmares de Novo”, que recebe esta menção honrosa, promoveu a troca de conhecimentos em torno da memória, história e ancestralidade negras. A iniciativa se deu através de formações que utilizaram linguagens artístico-culturais para estimular a comunidade e os grupos a refletirem sobre o extermínio da juventude negra, o combate ao racismo religioso e aluta pela dignidade da população negra.
Em sua fala, Apoena Ferreira referenciou grupos e movimentos negros de Salvador e enfatizou sua honra. “Ser a única organização de Salvador e única que recebeu esse prêmio tencionando o enfrentamento ao genocídio da juventude e do povo preto é muito importante pra gente. Nós sabemos de outras organizações que poderiam estar aqui no nosso lugar, então, para nós, é a maior honra! Saudamos a Articulação do Centro Antigo de Salvador, Grupo de Mulheres do Alto das Pombas, o pessoal da Gamboa, entre outros”.
Pedro Maia homenageou companheiros que tombaram na trajetória da Cooperativa. “Não estamos em um contexto de ditadura, mas homens como eu continuam muito propensos a se tornarem vítimas de tortura ou de execuções sumárias. Jonathan Guerra e Wesley Pitu foram executados pela polícia – um ajoelhado, o outro, enquanto dormia na casa da sogra. Eles poderiam estar aqui vendo o resultado do seu trabalho, recebendo esta premiação no nosso lugar. Faço aqui esta menção honrosa”.
Eles receberam o prêmio das mãos de Caroline Zanetti, filha de José Carlos Zanetti, que era um grande entusiasta da luta das juventudes.
Prêmio Zanetti de Direitos Humanos
O Prêmio Zanetti de Direitos Humanos marcou o encerramento das celebrações pelos 50 anos da CESE, comemorados ao longo de todo o ano de 2023. Esta iniciativa é também uma homenagem a José Carlos Zanetti, com sua inspiradora trajetória de luta e resistência ao lado dos movimentos sociais, causa que balizou toda a vida do nosso “Amoroso Revolucionário” e inesquecível colega da equipe CESE.
A noite de premiação também fez alusão ao Dia Internacional de Direitos Humanos. “O encerramento das nossas celebrações de 50 anos da CESE só poderia ser dessa forma: homenageando o nosso grande Zanetti, aquele que encampou todas as lutas. Os direitos humanos são a centralidade de tudo, no chão das lutas, na defesa dos territórios! Eram, sem dúvida, a sua grande bandeira”, exclamou a diretora da CESE, Sônia Mota.
Eliana Rolemberg, ex-diretora executiva da CESE, pontuou que essas são experiências que melhor representam o esperançar dos Direitos Humanos. “Vivemos num contexto muito controvertido de racismo ambiental, religioso, violência de gênero, ódio. Percebemos nessas iniciativas o esperançar. Mas um esperançar mobilizador. Pelos Direitos Humanos. Pela democracia do nosso país.”
A noite de premiação também contou com a presença de Evanilson Alves e Sandro Sussuarana, do Sarau da Onça.
