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Diálogo e articulação com movimentos sociais Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso

Troca de conhecimentos, saberes e afetos marcam o Tapiri Ecumênico e Inter-religioso na Cúpula dos Povos – COP30

24 de novembro de 2025

De 11 a 16 de novembro, as instalações da Catedral Anglicana de Santa Maria, em Belém, receberam a décima edição do TAPIRI ecumênico e inter-religioso.

Que Tapiri é esse?

Segundo Sônia Mota, diretora executiva da CESE, a palavra indígena TAPIRI, que significa ‘palhoça onde se abrigam caminheiros/as’, é um lugar temporário, onde não se fixa morada, mas onde se trocam conhecimentos, saberes e afetos, que busca construir redes de resistência e cuidado. ”A iniciativa Tapiri, portanto, é esse espaço de comunhão, de aprendizado coletivo que partiu da seguinte provocação: “Como é que os fundamentalismos políticos, econômicos e religiosos se unem para retirar direitos dos povos e dos territórios da Amazônia? Quais são suas implicações para todas as pessoas e ecossistemas amazônicos? ”Indagou Sônia, na abertura do encontro que reuniu lideranças de diversas organizações baseadas na fé, comunidades quilombolas, tradicionais de terreiro, movimentos sociais, organizações e coletivos populares, juventudes e povos indígenas do Brasil e do mundo que uniram suas vozes para relatar suas vivências, violações sofridas e resistências, compartilhando experiências e apontando desafios no âmbito da Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP30.

Organizado por um coletivo de entidades ecumênicas, inter-religiosas e de defesa de direitos, o Tapiri é uma iniciativa itinerante, coordenada pela CESE que já percorreu, desde 2022, 9 estados da Amazônia Legal. O grupo de articulação ecumênica e inter-religiosa Tapiri tem denunciado, nos últimos anos, os impactos dos fundamentalismos e do racismo religioso na vida dos povos e comunidades tradicionais.

A edição de 2025 ampliou o escopo para uma perspectiva global, trazendo vozes internacionais do Canadá, Nova Zelândia, Austrália e outros países da América Latina para dialogar com as realidades brasileiras, tendo como pano de fundo a COP30 e suas implicações para um futuro menos desigual e ambientalmente sustentável para todas as pessoas e ecossistemas.

Os seis dias de atividades incluíram exposição sobre a trajetória do TAPIRI, rodas de diálogos, mesas de debate, intervenções culturais, lançamento de publicações; participação do grupo em uma simbólica barqueata pelo Rio Guamá, participação na Marcha dos Povos pelo Clima, uma grande vigília em praça pública e uma celebração ecumênica e inter-religiosa que encerrou a semana. Cerca de 1.000 pessoas passaram pelo espaço Tapiri na Cúpula dos Povos, levando e deixando palavras de fé, justiça, resistência e esperança. Toda programação foi exibida ao vivo pelo YouTube da CESE.

Ao agradecer a todos que contribuíram com  a construção do encontro, Sônia Mota relembrou que o Tapiri foi um sonho antigo, e que vê-lo se concretizar a partir do trabalho de tantas pessoas é muito gratificante. Já Vinicius Benites Alves (CESE) relembrou a riqueza dos encontros do Tapiri nos estados da Amazônia e como a vivência nos territórios marcou as pessoas envolvidas. Bianca Daébs (CESE) sintetizou a experiência ao longo desses anos em uma frase: “O Tapiri é um legado muito maior do que a gente pode dimensionar.”

Alguns destaques dos 6 dias de programação

Roda de Diálogo do PAD – Processo de Articulação e Diálogo integrada ao TAPIRI:

O dia 11 foi marcado por trocas profundas e inspiradoras sobre os rumos da cooperação internacional, a justiça climática e os saberes indígenas na proteção da vida e dos territórios. O evento reuniu mais de 200 participantes entre lideranças religiosas, comunicadores/as populares, organizações da sociedade civil e mulheres indígenas do Brasil, da América Latina e da Oceania. A programação foi aberta pela Roda de Diálogo “Panorama Atual das Políticas de Cooperação Internacional: União Europeia, EUA, China e o Papel das Fundações Privadas”. O debate trouxe uma análise crítica sobre as estratégias de atuação desses atores globais e os impactos de seus financiamentos na autonomia das OSCs brasileiras.

Foram discutidas as diferenças entre os modelos de cooperação da União Europeia, dos Estados Unidos e da China, bem como o papel crescente das fundações privadas e fundos filantrópicos internacionais na definição de agendas e prioridades no campo social e ambiental. O diálogo destacou a importância de fortalecer parcerias horizontais, promover solidariedade entre povos e garantir autonomia e soberania às organizações da sociedade civil no Sul Global. Ao final da Roda de Diálogo coordenada pelo PAD, os mais de 180 participantes construíram de forma coletiva uma carta do encontro. Acesse a carta aqui.

A mesa “Não há justiça climática sem justiça na comunicação”, coordenada pela WACC – Associação Mundial para a Comunicação Cristã, ressaltou o papel essencial da informação livre, plural e responsável na construção de um planeta mais justo. O debate destacou que a crise climática não é apenas ambiental ou técnica, mas também política e comunicacional. Foi enfatizado que territórios historicamente marginalizados são os mais afetados pelos impactos do clima, mas seguem invisibilizados pela grande mídia. A CESE, que tem se destacado na promoção de uma comunicação contra hegemônica e comprometida com os direitos humanos, apresentou experiências de enfrentamento aos fundamentalismos, ao racismo religioso e à defesa do Estado laico, reafirmando a importância da comunicação como instrumento de incidência política e transformação social.

A mesa “Vozes da Terra: troca de saberes indígenas sobre clima e diversidade” (foto acima) reuniu representantes indígenas do Brasil, da América Latina e da Nova Zelândia, em uma conversa potente sobre a preservação dos territórios e o uso das tecnologias como ferramentas de denúncia e proteção. Entre as participantes estavam Tainá, da Brigada Guardiões com Maruana, que destacou o protagonismo das mulheres indígenas na vigilância territorial e no cuidado com a floresta; Joxante, do povo Gavião, médico formado pela UFPA; e Larissa Gama, da etnia Baré, de Santa Izabel do Rio Amazonas. O grupo discutiu a importância de fortalecer espaços de diálogo como o Tapiri Ecumênico, que permitem visibilizar denúncias — como as relacionadas às queimadas — e articular ações coletivas em instâncias como a Cúpula dos Povos.

Encerrando o dia, um momento de celebração e memória marcou o lançamento da publicação e do vídeo “Rio de Memórias Patak Maymu”. A obra resgata trajetórias e experiências de mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado, protagonistas na defesa dos territórios, dos direitos coletivos e da continuidade dos saberes ancestrais. Acesse a publicação aqui.

Mesas temáticas:

”Do Tapiri à ação: diálogos inter-religiosos para enfrentar o racismo ambiental, violações de direitos e fortalecer a participação popular” – abertura oficial do TAPIRI em 12 de novembro

Depois da bênção com Ninawa Inu Pereira Nunes Huni Kui, Cacique Geral no Território Henê Bariá Namakiá – Aldeia Iskuyá Yuxibú (AC) e da intervenção cultural com as Suraras do Tapajós, a diretora-executiva da CESE, Sônia Mota, compartilhou como surgiu o espaço Tapiri. Bianca Daébs, também da CESE, relembrou que quando a entidade começou a fazer o Tapiri, algumas pessoas diziam que não seria possível reunir pessoas de diferentes religiões e diferentes organizações para debater numa mesma mesa sem que houvesse confusão. E a experiência provou ser não apenas possível, como também muito potente. ”A cada Tapiri era um novo desafio, mas o resultado era indescritível. As palavras não conseguem conter nem traduzir o que foi essa experiência”, salienta.

Como parte da memória dessa jornada, a CESE lançou a publicação “O território sagrado e suas vozes que clamam com fé”. Fruto da iniciativa Tapiri, o material compila relatos colhidos em comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas e terreiros e documenta como as violações de direitos humanos estão diretamente ligadas ao avanço de fundamentalismos religiosos e seus impactos na justiça socioambiental. Acesse a publicação aqui.

A mesa “Justiça climática, democracia e direito à vida: diálogos inter-religiosos por justiça ambiental” promoveu um rico diálogo inter-religioso sobre os desafios e caminhos da justiça climática, abordando a relação entre fé, democracia e defesa da vida. Conduzida pelo Padre Dário Bossi, da Red Iglesias e Minería, a roda trouxe falas que convergiram para a necessidade de reconstruir uma espiritualidade ecológica, capaz de sustentar práticas sociais e políticas em defesa da Casa Comum.

Mesa “Justiça climática, democracia e direito à vida: diálogos inter-religiosos por justiça ambiental”

A Bispa Marinez Bassotto, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), salientou a importância da unidade para a construção de mudanças profundas na sociedade: Diálogo e respeito são as bases de uma sociedade transformada e transformadora.”

Luiz Felipe Lacerda, do Observatório de Justiça Socioambiental Luciano Mendes de Almeida (OLMA), destacou que a COP se realiza nos marcos dos 10 anos da encíclica Laudato Si’ e do Acordo de Paris. De lá para cá, no entanto, o que temos visto não é apenas uma crise climática, mas também uma crise civilizatória, em que a natureza é vista como mercadoria e a humanidade se apartou dela. Nesse sentido, Lacerda apontou o diálogo inter-religioso como “uma ferramenta potente para reforçar essa democracia fragilizada e polarizada e conectar as pessoas com o sagrado da natureza”.

Já Dom Vicente Ferreira, membro da Comissão de Ecologia Integral e Mineração da CNBB, apresentou um pouco de como a Igreja Católica tem se comprometido com o tema da Ecologia Integral. O bispo salientou a disputa de narrativas em torno da questão ambiental, já que o capitalismo tenta cooptar esse discurso para si e oferecer alternativas “verdes” para os problemas que ele mesmo cria. “A economia que mata não pode dizer que ela tem as soluções e que ela é verde”, destacou.

A mesa também contou com as contribuições do Pastor Josias Vieira, fundador do movimento cristão evangélico Nós na Criação, e do Procurador da República Felício Pontes, que também é assessor da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM). Ao longo de toda a roda, o diálogo inter-religioso foi reafirmado como caminho essencial para a construção de uma democracia ecológica, fundamentada no respeito à diversidade, na solidariedade e na defesa da vida.

Mediada pelo promotor Raimundo Moraes (MPPA), a mesa “Deslocamentos humanos na Amazônia: perspectiva da vida a partir das experiências dos refugiados, da sociedade civil e do governo em Belém-PA: desafios, oportunidades, soluções e ações” trouxe a questão dos fluxos migratórios a partir de diferentes experiências na região amazônica. O promotor foi enfático ao apontar a questão ética e humana envolvendo o tema do refúgio e da migração, destacando que os deslocamentos fazem parte da condição humana no planeta.

Josefina Jimenez, do Conselho Warao Ojiduna (CWO), compartilhou que a migração de pessoas da Venezuela para o Brasil começou a ganhar força a partir de 2018, mas que para povos originários, como os Warao, as fronteiras não existem. “Como indígenas, nós não temos fronteiras. Nós somos povos originários. Onde quer que a gente vá, somos povos originários, mas sempre respeitando a outra cultura”, destacou.

Já Larissa Martins, do Comitê Municipal para Migrantes, Refugiados e Apátridas, da Secretaria Executiva dos Direitos Humanos de Belém, reforça em sua fala que “migrar é um direito humano e que nenhum ser humano deveria ser considerado ilegal”. Num território como a Amazônia, a questão dos fluxos migratórios tem sido cada vez mais evidenciada, seja pelos conflitos, seja pelos impactos das mudanças climáticas.

A mesa ”Água, Terra e Soberania: como grandes projetos e mudanças climáticas ameaçam povos indígenas e tradicionais – resistência, agroecologia e reparação na Amazônia, América Latina e Oceania” trouxe importantes reflexões sobre o modo como o capitalismo e sua avidez por lucro impactam diretamente na sobrevivência da humanidade e da natureza, e ressaltou o papel fundamental dos povos tradicionais na preservação da vida. As falas também trouxeram críticas à privatização de recursos naturais, abordando os impactos desse processo nos territórios de povos e comunidades tradicionais.

Uma das experiências compartilhadas é a de Suzan, do povo Maori (Nova Zelândia) e membra da Comunhão Anglicana, que compartilhou a relação profunda e indissociável do seu povo com a natureza. “Nosso compromisso com a Terra está vivo, ele é intergeracional, ele é emocional e vale a pena proteger. Há um ditado maori que diz que ‘se a Terra está bem, o futuro está bem’. A terra não é só um recurso, é parte de nós, nos nutre fisicamente, espiritual e culturalmente”.

Mesa Água, Terra e Soberania: como grandes projetos e mudanças climáticas ameaçam povos indígenas e tradicionais – resistência, agroecologia e reparação na Amazônia, América Latina e Oceania

Já Josana Serrão, do Movimento de Pescadoras e Pescadores Artesanais (MPP) de Santarém (PA) e da Rede Eclesia Pan-Amazônica (REPAM), salientou o caráter estrutural do capitalismo e sua responsabilidade na crise ambiental e climática que estamos vivendo. “Se todas as mudanças estão acontecendo e estão atingindo diretamente nossos corpos, territórios e maretórios, enfim, a nossa Casa Comum, tudo isso é fruto de um poder econômico que só busca crescer e tirar proveito do nosso trabalho, se aproveita das nossas riquezas”, apontou.

Soraya Tupinambá, do Processo de Articulação e Diálogo Internacional (PAD/Brasil),destacou a relação que os povos indígenas têm com a natureza e de que estas comunidades nos ensinam que a melhor maneira de enfrentar a emergência climática é protegendo o planeta. “Como os povos indígenas dizem, a Terra é a mãe de todas as lutas, e é esse o primeiro direito que tem que ser assegurado e que está sendo violado em todo o mundo pelo agronegócio, pela mineração, pelas grandes obras de infraestrutura. Essa é a grande ameaça ao planeta, porque destrói um modo de vida que conserva a própria natureza.”

O reverendo Shaneequa Brokenleg, responsável pelo Ministério dos Povos Indígenas da Igreja Episcopal dos Estados Unidos, destacou que a igreja tem muito a aprender com os povos indígenas. “Nossa teologia, nossos modos de vida, como a gente pensa a terra e sua relação com ela. Por isso, não basta sermos apenas aliados dos povos originários, precisamos abrir mão dos nossos privilégios e agir ativamente na proteção dos seus direitos e na defesa do planeta.

A mesa “Terra, Axé e Resistência: racismo religioso e ambiental, megaprojetos e a luta por soberania nos terreiros e territórios quilombolas do Brasil”. Com a bênção de Mãe Nalva de Oxum, do Ilê Axé Yabá Omí (PA), e a intervenção cultural de Odé Lomi, a tarde de quinta-feira trouxe debates atravessados pela força ancestral e espiritual que move o Tapiri. Na articulação entre Terra, axé e resistência, o que as falas evidenciaram foi a violência estrutural provocada pelo racismo ambiental, que afeta o direito à vida e à coletividade dos povos tradicionais. Além disso, o debate reforçou a atuação dos povos e comunidades tradicionais como verdadeiros guardiões da natureza, e que, apesar da violência que enfrentam, a resistência segue sendo a palavra de ordem para seguirem em frente.

Mesa “Terra, Axé e Resistência: racismo religioso e ambiental, megaprojetos e a luta por soberania nos terreiros e territórios quilombolas do Brasil

Mameto Nangetu, do Instituto Nangetu (PA), denunciou o racismo ambiental envolvido no próprio processo de construção da COP 30. “Os espaços de onde a gente tirava folhas, onde a gente ia nos igarapés colher água pura, a COP, o governador do estado do Pará, não deu a mínima para os povos”, destacou.

Mãe Nalva de Oxum também questionou: “Que COP é essa?”. A liderança salientou a relação indissociável dos povos de terreiro com a natureza.  “A gente cuida da terra, das folhas, do ar. Oxum não mora na água, Oxum é a água. Se mata o rio, mata o orixá Oxum; se mata o orixá Oxum, me mata.

Mãe Carmem Sheila, do FONSAMPOTMA e do Instituto Afrobrasileiro Conceição (AP), destacou a importância da roda de conversa para denunciar o racismo ambiental que tenta apagar e silenciar suas vozes. “Hoje o Tapiri nos abre a porta para nos reunirmos e reafirmar a nossa luta ancestral e urgente. A luta do povo de terreiro e de comunidades quilombolas pelo direito à terra, pela liberdade religiosa e pela preservação dos nossos territórios. Essa luta é, acima de tudo, uma questão de justiça social, ambiental e racial.”

Já Joércio Pires, do Quilombo Santa Rosa dos Pretos, em Itapecuru Mirim (MA), compartilhou como seu quilombo, um território de 348 anos e que hoje abriga mais de mil famílias, vem sendo afetado por projetos desenvolvimentistas nos últimos anos. “Esse desenvolvimento, para nós, é pensado como des-envolvimento, porque no nosso território o que a gente vive é o envolvimento, que é construído a partir do processo de troca, de respeito, de partilha”. A mesa também contou com as contribuições de Rita Lopes, do Quilombo Rio Preto, de Lagoa do Tocantins (TO); Juliana Soares, da FLD; e Aondê Yra Airequecê, Alta Sacerdotisa Wicca da Tradição Diânica do Brasil.

Parafraseando os versos de Gonzaguinha, Paulo Ricardo Sampaio, do ISER, abre a mediação da mesa ‘Do presente ao futuro: juventude, mulheres e LGBTQIAPN+ na luta por justiça climática e reparação social: como as mudanças climáticas aprofundam desigualdades e exigem respostas urgentes no Brasil’, cantando que “acredita na rapaziada, nas mulheres e nas pessoas LGBTQIAPN+”. Com a força e ousadia da juventude, o  painel discutiu o engajamento dos movimentos sociais de mulheres, jovens e pessoas LGBTQIAPN+ na luta por direitos, bem como os impactos das mudanças climáticas sobre esses e outros grupos em seus territórios.

mesa ’Do presente ao futuro: juventude, mulheres e LGBTQIAPN+ na luta por justiça climática e reparação social: como as mudanças climáticas aprofundam desigualdades e exigem respostas urgentes no Brasil’

Nelita Frank, da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB/RR), ressalta que, no processo de mobilização para a Marcha das Mulheres Negras, o tema do racismo ambiental e seus impactos na vida das mulheres indígenas e negras têm ganhado centralidade, sobretudo pelo avanço da violência contra esses sujeitos. “Em Roraima, se mata indígenas simplesmente por serem indígenas, assim como no Brasil as mulheres são mortas simplesmente por serem mulheres.”

Já Elton Carvalho, do Levante Popular da Juventude, compartilhou algumas das experiências construídas pelos jovens em Roraima, a exemplo do cursinho popular para pessoas em situação de vulnerabilidade, e trouxe alguns desafios enfrentados, como a intolerância religiosa e a violência contra indígenas. Nesse sentido, o jovem aponta a organização popular como caminho para enfrentar esses problemas. “A gente precisa se escutar, mas, a partir disso, construir uma ação coletiva. A grande mensagem da Cúpula dos Povos é que ‘A Resposta Somos Nós’.

Sara Braga, da CPT do Acre, salientou que os jovens não são sujeitos do futuro, mas sim do agora. “Eu não quero ser do futuro, eu quero ser do hoje. A juventude é o presente – do campo, da CPT, da CESE, do Levante, de todo o canto.”

Quem também compartilhou suas experiências na mesa foram Breno Vinicius, do Coletivo Somar LGBTQIA+ (RO), e Amanda Simpatia, do movimento 100 Mil Jovens pela Água, protagonizado pela Rede Ecumênica da Água (REDA).

A discussão da mesa ”Justiça Climática e Direitos na Amazônia: Como organizações podem  contribuir para enfrentar violações, racismo ambiental e garantir participação popular?” partiu da caracterização da atual crise que vivemos como socioecológica e humanitária, em que o avanço do capital, aliado ao racismo e ao patriarcado que o estruturam, aprofunda as desigualdades. Nesse sentido, as falas trouxeram o papel das organizações da sociedade civil, movimentos religiosos, instituições públicas e organismos internacionais no enfrentamento das violações socioambientais e do racismo ambiental na Amazônia, apontando caminhos para fortalecer a participação popular.

Mesa ”Justiça Climática e Direitos na Amazônia: Como organizações podem  contribuir para enfrentar violações, racismo ambiental e garantir participação popular?”

A professora Socorro Chaves, da UFAM e da organização Renovar Nosso Mundo, ressaltou o papel da floresta amazônica como mecanismo de regulação da temperatura do planeta, e como os povos originários foram essenciais para ela ter se mantido de pé até hoje. Por isso, ao apontar os debates que estão sendo realizados na COP, destaca que “a transição energética não pode se dar sem o respeito, sem ouvir os povos que são os verdadeiros guardiões e os mestres que cuidaram dessa floresta pra nós”.

Já a professora Alcidema Magalhães, do Comitê Dorothy/UFPA destacou que a centralidade da nossa luta é contra o capital, e que é necessário que igrejas e organizações fortaleçam com centralidade a luta das mulheres, que são as mais afetadas pela crise socioambiental. “A gente precisa colocar no centro desse debate sobre a questão climática, que para nós é urgente, as mulheres. Como elas estão sendo atingidas por esses impactos socioambientais, porque elas estão sendo afetadas de formas muito diferentes, sobretudo as mulheres da classe trabalhadora, pobres, negras, ribeirinhas, que estão nas aldeias, quilombos. Então temos que pensar em como vamos fortalecer a luta das mulheres”, destacou.

Já Athena Peralta, do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), questiona alternativas que estão sendo pensadas para supostamente combater a crise climática, como as estratégias de compensação de carbono. Para ela, é necessário “olhar para trás, para o que aconteceu com nossas raízes”, e que a relação com o meio ambiente precisa ser de troca. “A solução é simples: é estabelecer uma relação de coexistência com a natureza.”

Quem também contribuiu com essa discussão foi Martha Jarvis Comunhão Anglicana (ACC/ONU), Elianildo Nascimento (URI), Goreth Dunningham (Brahma Kumaris) e Raimundo Moraes, membro do Ministério Público do Pará. Apesar dos desafios impostos pela aceleração das mudanças climáticas e pelo cenário contínuo de violações, a mesa reafirmou que a transformação é possível por meio da ação coletiva, da defesa dos territórios e do compromisso firme com a promoção dos direitos.

A fé, quando vivida com inteireza, é também propulsora de caminhos de comunhão e de combate às injustiças. Nesse sentido, a mesa: “Fé, justiça climática e democracia: caminhos ecumênicos para  enfrentar o racismo ambiental e garantir direitos” trouxe falas que demonstram como as vivências de cada um dos/as convidados/as, nos seus mais diversos espaços de atuação, demonstram o entrelaçamento entre espiritualidade, democracia e a luta por direitos.

Mesa: “Fé, justiça climática e democracia: caminhos ecumênicos para  enfrentar o racismo ambiental e garantir direitos”

Sonia Mota, diretora executiva da CESE, denuncia o crescimento dos diversos fundamentalismos, dentro e fora dos espaços religiosos, apontando que, se antes se usavam fogueiras para queimar os corpos dissidentes, “hoje eles usam outras formas de cercear nossa voz, de paralisar nossos corpos. É nos tirando da nossa frente de batalha, tirando dos nossos espaços de atuação.”

Já José Vitor, do Movimento Negro Evangélico, compartilhou que sua relação com a luta se deu antes do seu encontro com a espiritualidade, mas que hoje caminham juntos. O jovem apontou o distanciamento dos espaços religiosos da luta por direitos e salientou que o modus operandi do movimento fundamentalista é de cooptação das instituições e ataque a temas caros para o povo. Ele também ressaltou a necessidade do enfrentamento ao racismo para termos uma sociedade verdadeiramente igualitária. “Sem justiça racial, não vamos ter democracia.”

Camila Chagas, de Koinonia, compartilhou algumas de suas experiências com a igreja e o ecumenismo vivido em sua família. Articulando espiritualidade com a atuação no Direito, ela entendeu que foi o exercício da escuta que a permitiu entender que as comunidades já identificam os problemas e têm saídas para as questões que estamos vivendo hoje. Por isso, somos nós que precisamos ouvi-las. “Estamos falando das mudanças climáticas, mas as comunidades já estão denunciando isso faz tempo”, salientou.

Maurício Andrade, bispo da Diocese Anglicana de Brasília, salientou a necessidade de descolonizar a nossa fé e também apontou o caminho da escuta e do diálogo. “A gente precisa escutar, precisamos não chegar com as respostas. A gente precisa construir as respostas com as comunidades, com os povos originários.” A mesa também contou com as contribuições de Cibele Kuss, da FLD, e Neddy Astudillo, da Rede de Fé Latino-americana pela Justiça Climática. Ao fim do debate, foi realizada a leitura do documento final do Tapiri, que sintetizou os dias de atividades e destacou os principais pontos discutidos.

Grupo musical Rebeldia Cabana no Tapiri
Grupo Iaçá

Lançamento de vídeos e publicações

A sessão foi um momento de apresentação de diversos lançamentos de vídeos e publicações relacionados à justiça climática, direitos humanos, proteção da Amazônia, prevenção de abusos nas igrejas, economia de comunhão, direitos da natureza e iniciativas ecumênicas e inter-religiosas.

Entre os materiais apresentados estavam produções do Movimento 100 Mil Jovens pela Água, Conselho Mundial de Igrejas, Franciscans International, IRI Brasil, REPAM, Fundação Luterana de Diaconia, OLMA, Brahma Kumaris, entre outras organizações e coletivos.

Destaque para o  lançamento da publicação e do vídeo das primeiras experiências do Projeto Dabucury: Compartilhando Experiências e Fortalecendo a Gestão Etnoambiental das Terras Indígenas da Amazônia Brasileira, uma iniciativa da CESE e da Coiab, com apoio do Fundo Amazônia/ BNDES a fim de  apoiar projetos de gestão territorial e ambiental indígena, no intuito de avançar na implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI). A publicação reúne caminhos, aprendizados e resultados de iniciativas indígenas de gestão territorial e ambiental em toda a Amazônia Legal. Acesse a publicação aqui e o vídeo aqui.

Vinícius Benites Alves, lançando a publicação das primeiras experiências do projeto DABUCURY

Exposição: ”Território sagrado e suas vozes que clamam com fé”

A Exposição trouxe às instalações da Catedral Anglicana, na entrada do Tapiri, o caminho percorrido pela articulação ecumênica e inter-religiosa pelos 9 estados da Amazônia. Composta por depoimentos dos grupos participantes e pelo contexto de cada estado visitado, a exposição é uma memória viva das escutas marcantes dos povos amazônicos desde 2022.

Articulação TAPIRI na Barqueata

A Barqueata do Rio Guamá foi um evento realizado no dia 12 de novembro de 2025, como parte da Cúpula dos Povos, durante a COP30, em Belém. Mais de 200 embarcações participaram da barqueata, que percorreu a Baía do Guajará, passando por pontos turísticos da cidade, como o Porto Futuro II, Estação das Docas e o Mercado Ver-o-Peso. A turma do Tapiri (cerca de 60 pessoas) se somou à manifestação, levando suas bandeiras e faixas. Segundo a organização da Cúpula, o evento foi uma forma de manifestação e protesto, reunindo movimentos populares e comunidades locais para discutir questões ambientais e sociais relacionadas à Amazônia e à COP30. A barqueata foi um momento de celebração e reivindicação, destacando a importância dos direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais.

Vígila pela Terra

A Vigília pela Terra na capital paraense, organizada pelo ISER, ocorreu no âmbito do Tapiri Ecumênico e Inter-religioso. Foi um ato de oração e denúncia. Ali, lideranças religiosas e espirituais, representantes de povos originários e comunidades tradicionais, movimentos sociais, artistas, ativistas ambientais, pessoas e comunidades de fé dançaram, cantaram e bradaram que Terra não é recurso: é encantamento.

Participação na Marcha dos Povos pelo Clima

Belém foi ocupado, segundo a organização, por mais de 70 mil pessoas na manhã do dia 15 para a Marcha Global dos Povos pelo Clima, que, diferente dos espaços oficiais da COP30, reuniu a diversidade de povos e demandas da sociedade civil em defesa de justiça climática. Com o lema ‘A resposta somos nós’, movimentos sociais percorreram 4,5 quilômetros até a Aldeia Cabana, espaço simbólico que representa a luta e resistência na região amazônica, em homenagem à Revolta da Cabanagem. Com os estandartes dos Mártires da Floresta, a articulação Tapiri se somou à Marcha, relembrando os que tombaram em defesa do território amazônico.

Celebração Ecumênica e Inter-religiosa na Catedral Anglicana de Santa Maria

A celebração ecumênica e inter-religiosa encerrou com muita emoção o Tapiri na COP30. Uma semana de encontros potentes marcados por vozes das resistências no território amazônico pela justiça climática.

Finalizamos a décima edição do Tapiri em Belém, onde ele nasceu no Fórum Social Panamazônico.

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