RODAS DE LANÇAMENTO DO “RIO DE MEMÓRIAS PATAK MAYMU” CELEBRAM A FORÇA DAS MULHERES INDÍGENAS EM BELÉM DURANTE COP30
26 de novembro de 2025
As rodas de lançamento da publicação e do vídeo Rio de Memórias Patak Maymu reuniram um público diverso durante Cúpula dos Povos, na COP 30, em Belém (PA). Realizados no Tapiri Ecumênico e Inter-religioso, na Casa Maraká e no Espaço Chico Mendes, os encontros reafirmaram o compromisso do Patak Maymu com a visibilidade, a autonomia e o protagonismo das mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado.
As rodas, realizadas em diferentes espaços da cidade, transformaram cada encontro em um território de troca e afirmação política. No Tapiri, o clima foi de acolhimento e escuta profunda, marcando o início de uma circulação afetiva das memórias reunidas na obra.
Na Casa Maraká, a noite foi marcada por falas potentes das mulheres indígenas que fizeram parte da história do Patak Maymu e que compartilharam como o projeto fortaleceu suas trajetórias, seus territórios e sua presença em espaços de decisão e na comunicação.
Já no Espaço Chico Mendes, o diálogo se voltou para as pautas de autonomia, defesa da floresta e justiça climática, conectando a experiência das coautoras às lutas mais amplas dos povos indígenas no Brasil.



Vozes que tecem caminhos
Em cada roda, as mulheres coautoras da publicação trouxeram reflexões sobre seus territórios, os impactos das mudanças climáticas e a urgência de fortalecer a educação indígena, além de destacar a importância do apoio contínuo às mulheres em seus processos de luta e formação. Esses temas se conectaram diretamente à força do Rio de Memórias Patak Maymu, reafirmando que comunicar também é proteger, reivindicar e construir presença.
No Tapiri, contamos com a participação de Socorro Baniwa, coordenadora da Rede de Mulheres Indígenas do Estado do Amazonas – Makira E’ta. Em sua fala destacou a importância de dar visibilidade às narrativas das mulheres indígenas e da relevância da publicação para fortalecer suas vozes e trajetórias.



Na Casa Maraká, estiveram presentes Anna Terra Yawalapiti (representando as Mulheres do Xingu), Tailani Wajuru (comunicadora), Luara Sapará (comunicadora) e Watatakalu Yawalapiti (representando a ANMIGA).
No Espaço Chico Mendes, o diálogo contou com Mayla Karajá (comunicadora), Cleocimara Piratapuya, Anna Terra Yawalapiti e Socorro Baniwa, em uma roda marcada pela troca de experiências e perspectivas das mulheres indígenas.

Beatriz Tuxá, analista de comunicação da CESE e mediadora das rodas, e Ana Paula Lima, assessora de projetos e formação da CESE e assessora do Patak Maymu, estiveram presentes nos três momentos, Tapiri, Casa Maraká e Espaço Chico Mendes, garantindo continuidade aos debates e fortalecendo o caráter coletivo da iniciativa.
O projeto sempre foi construído de forma colaborativa e coletiva, e o momento de lançamento refletiu essa mesma essência: um encontro de vozes, perspectivas e trajetórias que sustentam e ampliam a força das lutas, articulações e expressões dos povos indígenas.
Durante uma das rodas Mayla Karajá, comunicadora indígena, conselheira do CNPI e integrante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e da Articulação dos Povos Indígenas do Tocantins(Arpit), destaca que ocupar espaços públicos sendo mulher indígena significa enfrentar diariamente o machismo, inclusive na comunicação: “A gente lida em cada um desses espaços com machismo, e dentro da comunicação não é diferente. Então, nos fortalecemos ao lado de mulheres guerreiras que nos inspiram. Estar na mesma mesa com mulheres tão fortes e potentes é uma honra”, afirmou.
Ela destacou também as diferenças estruturais entre a comunicação indígena e a não indígena:

“O nosso trabalho é essencial porque a comunicação não indígena é diferente da comunicação indígena. O que levamos de fora da aldeia para dentro dos nossos territórios é outro tipo de informação. E temos também o papel de levar aos não indígenas a nossa verdade por meio dos nossos olhares e palavras.”
Mayla ressaltou que, mesmo comunicando suas realidades com honestidade, as mulheres indígenas continuam enfrentando racismo e preconceito. Sobre o projeto, reforçou: “O Patak Maymu veio para fortalecer a nossa comunicação. Trouxe oficinas, um olhar sensível para a subjetividade dos povos indígenas e compreendeu que precisamos de uma metodologia diferenciada. Foi uma troca; a CESE também aprendeu conosco.”
Memórias que conectam territórios
Para Cleocimara Reis Gomes, do povo Piratapuya (AM) e coordenadora do Departamento de Mulheres Indígenas do Rio Negro (DMIRN/FOIRN), o projeto amplia a compreensão coletiva sobre desafios compartilhados entre diferentes regiões.

“Venho de um território imenso, no Rio Negro, no Amazonas. Representamos 23 povos, 17 línguas faladas e mais de 750 comunidades. Esse momento com a CESE, através do Patak Maymu, nos fortalece porque, quando estamos no território, achamos que somente o nosso povo enfrenta violências, falta de gestão territorial, impactos das mudanças climáticas, questões de saúde indígena e educação escolar indígena.”
Ao encontrar mulheres de outros povos, explica, torna-se evidente que os desafios são comuns.“ Quando nos reunimos com mulheres de outros territórios, percebemos que nossos desafios são os mesmos, infelizmente.”
Ao longo desses anos, o Rio Patak Maymu – A Voz da Natureza, tem testemunhado a força e a resiliência das mulheres indígenas. Seus esforços geram frutos, transformando realidades e inspirando outras mulheres a trilhar caminhos de autonomia, defesa territorial e fortalecimento comunitário. Essa iniciativa é uma realização da CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço, com apoio e financiamento da União Europeia.
Barqueata: um ato fluvial de resistência e defesa dos territórios
Junto ao Tapiri Ecumênico e Inter-religioso, o Patak Maymu também esteve presente na Barqueata realizada em Belém durante a COP30, um grande ato fluvial que marcou a abertura da Cúpula dos Povos. Reunindo milhares de pessoas em mais de 200 embarcações, entre povos indígenas, comunidades tradicionais e movimentos sociais. A Barqueata percorreu a Baía do Guajará como uma expressão coletiva de resistência e afirmação dos territórios diante dos impactos socioambientais. Foi um momento de denúncia às falsas soluções climáticas e de reivindicação por justiça climática e social.



Um rio que segue correndo
A publicação e o vídeo dão corpo às narrativas que emergem desses encontros, celebrando o protagonismo das mulheres indígenas, e reafirmando a força da memória como ferramenta de luta. Cada roda realizada em Belém se somou a esse fluxo, ampliando a rede de mulheres que defendem a vida, a floresta e seus modos de existir.


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Acesse gratuitamente a versão digital da publicação e assista o vídeo, para navegar por essas narrativas e memórias que seguem vivas e em movimento.