Entre os dias 1º a 5 de outubro de 2025, a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) realizou uma visita de acompanhamento ao projeto “Regando a semente multicultural na TI Tirecatinga”, executado pela Associação Thutalinansu, na Terra Indígena Tirecatinga, município de Sapezal (MT), com o apoio do Projeto Dabucury.
A atividade teve como objetivo fortalecer as ações de implementação do Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA) da comunidade contribuindo para o aprimoramento das estratégias de gestão e sustentabilidade local. A agenda também incluiu um encontro com a equipe da Operação Amazônia Nativa (OPAN), em Cuiabá, parceira histórica no acompanhamento indigenista e assessoria técnica à associação e integrante da Rede de Parcerias do Projeto Dabucury.
Representando a CESE, Rochele Fiorini, assessora de projetos e formação, participou das atividades junto à equipe da OPAN e às lideranças da Associação Thutalinansu, reafirmando o compromisso institucional com o fortalecimento das mulheres e jovens indígenas, a valorização cultural e a gestão sustentável do território.

Rede de Parcerias do Projeto Dabucury
A visita começou em Cuiabá – Mato Grosso, com uma reunião na sede da OPAN, que contou com a participação de Giovanny Vera (assessor), Ivar Busatto (coordenador-geral) e Edemar Treuherz (indigenista). O grupo analisou o contexto regional e o andamento do projeto, destacando avanços e desafios enfrentados pela comunidade e pela Associação Thutalinansu.
“Foi um momento importante de diálogo e de escuta sobre o papel da assessoria técnica da OPAN, a atuação junto à associação e o fortalecimento da governança comunitária”, destacou Rochele Fiorini.

Na Terra Indígena Tirecatinga, a força das mulheres indígenas
A equipe seguiu viagem até a Terra Indígena Tirecatinga, onde foi recebida pela presidente da associação, Cleide Terena, pela vice-presidente Suyane Terena e pela Claudiane, que são pontos focais do projeto. Na ocasião, a comunidade realizou o lançamento do calendário ecológico, produzido pela Associação Thutalinansu em parceria com a OPAN. O evento contou a participação de diversas pessoas da comunidade e incluiu também uma feira de artesanato organizada pelas mulheres indígenas que fazem parte do projeto.


Durante a mesa de abertura, Rochele Fiorini apresentou o papel da CESE na parceria com a Associação Thutalinansu, destacando os avanços e desafios do projeto. A presidente da associação, Cleide Terena, enfatizou a importância do artesanato como expressão de resistência e identidade.
“A nossa associação proporciona o bem-viver das mulheres e o fortalecimento da cultura. Quando falamos em artesanato, não falamos apenas de um produto, mas de um modo de cuidar do território — das fibras, das sementes, dos rios e dos animais que nos alimentam. É através desses trabalhos que mantemos viva nossa ancestralidade e repassamos aos jovens o valor da nossa cultura”, afirmou Cleide.
Ela também destacou os desafios enfrentados no território, cercado pelo avanço do agronegócio:
“Nosso território está cercado por grandes plantações, mas nós resistimos. As mulheres do Tirecatinga mantêm viva nossa cultura, nossos alimentos e nossos saberes. É uma luta diária para existir, e o apoio da CESE e da Coiab nos dá força para continuar com dignidade e esperança”.
Expedições, formação e replanejamento coletivo
A agenda seguiu com visitas às aldeias participantes do projeto, além de uma reunião com a diretoria da associação e a equipe da OPAN. O encontro foi dedicado à escuta das lideranças, à análise dos contextos locais e à reorganização do cronograma das atividades do projeto.
Foi realizada uma dinâmica participativa para revisar o calendário do projeto, considerando os fatores internos e externos que impactam a execução. “Com esse exercício, buscamos alinhar o planejamento às realidades do território e fortalecer a autonomia da associação na gestão dos recursos e na prestação de contas”, explicou Rochele.



Durante a visita, José Ângelo, assessor da Associação Thutalinansu, compartilhou sua trajetória de apoio ao grupo e a relevância de fortalecer o protagonismo feminino no território.
“Comecei a trabalhar com as mulheres há alguns anos, percebendo que, nas associações existentes, as decisões eram majoritariamente dos homens. Entendemos que as mulheres precisavam ter voz, espaço e autonomia. Desde 2018, a Associação Thutalinansu tem se tornado uma referência, desenvolvendo projetos culturais, ambientais e alimentares. É a única associação que atua diretamente dentro da comunidade com esse foco, e isso é um marco para o povo Nambikwara”, destacou Ângelo.
Artesanato, território e futuro
A vice-presidente da associação, Suyane Terena, reforçou que o projeto vem fortalecendo o elo entre o artesanato e a preservação territorial.
“Quando falamos de artesanato, falamos do nosso território. As matérias-primas vêm das margens dos rios Buriti e Papagaio, e é por isso que o projeto Dabucury tem nos ajudado tanto, porque une a valorização cultural à proteção do meio ambiente”, explicou.
Suyane destacou que o projeto também tem aproximado gerações:
“É muito bonito ver as escolas envolvidas. As crianças aprendem com os mais velhos e os anciãos, compreendendo como era no passado e como queremos estar no futuro. O projeto nos incentiva, fortalece e nos ajuda a cuidar melhor do nosso território”.


Sobre o Projeto
O projeto Regando a Semente Multicultural na TI Tirecatinga, foi contemplado na categoria Urucum do primeiro edital do Dabucury, e tem como propósito promover a proteção, valorização e a sustentabilidade da TI Tirecatinga através do fortalecimento dos conhecimentos tradicionais, das capacidades técnicas de uso dos recursos naturais e da governança, assegurando a conservação do meio ambiente e o bem-estar das comunidades indígenas no território.
A iniciativa executada pela Associação Thutalinansu reafirma o papel das mulheres indígenas como guardiãs do território, da cultura e da biodiversidade. Com ações que unem resgate cultural, artesanato, vigilância ambiental e educação territorial, a iniciativa se consolida como um exemplo de autonomia e protagonismo feminino na gestão comunitária.
O Projeto Dabucury: Compartilhando Experiências e Fortalecendo a Gestão Etnoambiental das Terras Indígenas da Amazônia Brasileira, é uma iniciativa da CESE e da Coiab com apoio do Fundo Amazônia/BNDES.