Na manhã de hoje (22), dezenas de pescadores, pescadoras, marisqueiras e quilombolas foram às ruas e ocuparam a sede do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, em Salvador, para cobrar plano de contingência para o óleo não chegar às praias e comunidades pesqueiras da Bahia. A iniciativa é organizada pelo Movimento de Pescadores e Pescadoras e contou com o apoio de estudantes, professores e organizações da sociedade civil.
As primeiras manchas de óleo surgiram no final do mês de agosto, na Paraíba, e gradativamente a substância foi atingindo todos os estados da região Nordeste. O impacto social e ambiental ainda é incalculável, e até o momento não se sabe ao certo a origem do problema e quem são os responsáveis “Queremos saber de onde foi esse óleo, o que ocasionou e quais serão as alternativas para as populações que dependem do mar para sobreviver.“, afirma Eliete Paraguaçu – Ilha de Maré (BA) e integrante do Movimento de Pescadores e Pecadoras (MPP).
Além de cobrar urgência nas investigações, o grupo apresenta outras preocupações com os impactos do petróleo no meio ambiente, na vida das pessoas e na segurança alimentar: “De forma irresponsável, sem critério e sem envolvimento com a categoria, o Estado e o município lançaram nota para não consumir o pescado. E a categoria que vive da renda, da extração e da comercialização do pescado? Como essas pessoas ficam? ”, questiona Marizélia Lopes, mais conhecida como Nega, uma das lideranças do movimento.
Nas dependências do órgão federal, foi lida a “CARTA ABERTA EM DEFESA DA VIDA, DOS PESCADORES E PESCADORAS ARTESANAIS, DAS PRAIS, DOS ESTUÁRIOS, DA VIDA MARINHA” para que medidas emergenciais sejam tomadas a fim de garantir a dignidade das comunidades pesqueiras que se encontram nessa situação. Para acessar a carta aberta clique aqui.
Antes de chegar ao IBAMA, o movimento ocupou às ruas e realizou uma manifestação, iniciada às 9h00, na praia de Amaralina.
No final da manhã, o superintendente do Ibama, Rodrigo Alves, conversou com os/as manifestantes, e se comprometeu em apoiar as pautas apresentadas pelo movimento, agindo na intermediação com os órgãos públicos.
O Baixo Sul do estado também foi afetado com a contaminação
A atividade pesqueira artesanal de Taperoá, no Baixo Sul do estado também está com suas praias e mangues cobertas de óleo. Bárbara Ramos, marisqueira da comunidade de Graciosa, em Taperoá alerta que na comunidade cerca de 95% são pescadores e pescadoras que estão em contato com esse óleo. ” Trabalhamos agachadas e em contato com essa água que não sabemos ao certo o quanto está contaminada. Não sabemos o que está acontecendo com nossa saúde. Não conseguimos vender nosso pescado. A notícia se espalhou e não conseguimos mais gerar renda com nossa atividade. Quanto tempo isso vai durar? Como vamos sobreviver? Isso nos remete ao que aconteceu no Baixo Sul, uma grande mortandade de caranguejo por contaminação há 18 anos atrás”.
Óleo retirado no Baixo Sul da Bahia
Pescadoras e Marisqueiras também estão com suas atividades comprometidas em outros estados do Nordeste
As marisqueiras de Pernambuco estão sentindo as consequências do óleo que assola o litoral do estado, principalmente as áreas de mangue. As mulheres da praia de Suape, no Cabo de Santo Agostinho, sobrevivem do marisco, mas o óleo está cobrindo suas raízes. Segundo Gicleia da Silva, do MPP/PE, da Ilha de Cocaia ( conhecida como Ilha de Tatuoca) a luta dos pescadores e pescadoras é diária. A retirada do óleo está sendo feita a mão. ”Não sabemos quando vamos conseguir voltar a mariscar, quando os pescadores e pescadoras poderão pescar. Como vamos sobreviver, como as mulheres vão garantir a sobrevivência de suas famílias? ”
Praia de Suape – Pernambuco
Nota da CESE:
ÁGUAS DA RESISTÊNCIA: AS MANCHAS DE ÓLEO CHEGARAM ÀS ÁGUAS DO NORDESTE DENUNCIANDO O DESCASO COM A NOSSA CASA COMUM
A CESE se solidariza com os (as) mais de 150 mil pescadores, pescadoras e marisqueiras artesanais que sofrem com mais uma tragédia ambiental causada pelas manchas de óleo, de origem ainda desconhecida, que assolaram 2.100km do litoral nordestino e se une a outras vozes que exigem:
• Retomada das esferas de controle, monitoramento e fiscalização ambiental extintos pelo atual governo;
• Atuação efetiva dos órgãos públicos para impedir que a chegada do óleo contamine outras áreas litorâneas, ilhas e manguezais;
• Apuração das responsabilidades, punição dos culpados e as devidas reparações socioambientais e
• Indenização de milhares de pescadores (as) e marisqueiras que já estão com suas atividades interrompidas há mais de 30 dias, sem possibilidade de venda de seus pescados e mariscos.
Assim, a CESE reafirma seu compromisso com os direitos na sua integralidade, com o desenvolvimento sustentável e a justiça socioambiental e se coloca em solidariedade aos movimentos e organizações sociais que estão atuando nas áreas afetadas recolhendo o material, denunciando o descaso do governo federal e levando apoio e orientação às populações atingidas.
CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço
25 de outubro de 2019