No mês em que celebramos a 12° edição do Julho das Pretas, uma agenda de ação coletiva idealizada pelo Odara, Instituto da Mulher Negra na Bahia, e que atualmente conta outras organizações de mulheres negras na sua construção, destacamos iniciativas fundamentais das mulheres negras no combate ao racismo e sexismo tão estruturantes na sociedade brasileira. Vale mencionar, que essa agenda faz menção ao 25 de Julho, Dia Internacional da Mulher Negra Afro Latina Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela.
Através de encontros formativos e uma agenda de incidência, uma iniciativa promoveu ações em algumas comunidades quilombolas do estado da Bahia, visando discutir e propor transformações sociais a partir da reflexão sobre empoderamento social e político na vida das mulheres negras urbanas e quilombolas. Com o intuito de promover compreensão e interpretação das vivências dessas mulheres negras, a ação reuniu um grupo feminino de diferentes idades e comunidades do estado da Bahia, organizada pelo Coletivo Rota dos Quilombos e Instituto Renascer, junto à Associação Protetora dos Desvalidos (SPD), a ação contou com o apoio da CESE através do Programa de Pequenos Projetos.
Por meio de reuniões menores, chamados de pré-encontros, onde as participantes puderam através de escuta ativa se preparem para o 6º Encontro Internacional de Mulheres Urbanas e Quilombolas (EIMUQ), realizado em Salvador em 2022, com a participação de aproximadamente 100 mulheres.
“Nos reunimos por meio de círculos, cirandas ou giras como chamamos, acreditamos que todas estas mulheres têm algo a compartilhar a partir de suas vivências. Foram momentos de escuta muito importantes para todas nós, permitindo a inclusão e o debate das experiências de cada uma, visando produzir reflexões e promover organização e participação ativa nas políticas locais, estaduais e nacionais”, comenta Lígia Margarida, do Instituto Renascer e Coletivo Rota dos Quilombos, uma das organizadoras do evento.
A ação teve desdobramentos cruciais para a articulação dessas mulheres e impulsionou a participação política de algumas mulheres quilombolas, candidaturas floresceram e o engajamento de mulheres negras nos partidos se intensificou, demonstrando a força mobilizadora da iniciativa. A busca por educação superior também atraiu jovens de comunidades quilombolas do interior para Salvador (BA), evidenciando a consciência política como ferramenta fundamental na conquista de direitos.
Lindaura Tereza da Silva, agente comunitária e quilombola do município de Rio das Contas (BA), participou de uma das edições da EIMUQ. Para ela, o empoderamento político das mulheres negras representa um processo de reconhecimento, valorização e fortalecimento da identidade, autoestima e capacidade de ação. Como ela diz: “Em uma sociedade que historicamente nos marginalizou e subjugou, o empoderamento significa romper com as estruturas de opressão, reivindicar nosso lugar de fala e construir uma sociedade mais justa e inclusiva para todas.”
O Encontro Internacional de Mulheres Urbanas e Quilombolas (EIMUQ) continua sendo uma ação importante de articulação política entre diversas mulheres negras. Em 2024, o Coletivo Rota dos Quilombos e o Instituto Renascer se preparam para a sua 8ª edição, que ocorrerá no quilombo União dos Palmares, em Alagoas, entre os dias 18 e 21 de julho.
Julho das Pretas
Para a assessora de projetos de formação da CESE, Marcella Gomez, o Julho das Pretas é uma agenda fundamental para a defesa de direitos:
A CESE tem apoiado ações que atendam as demandas das mulheres negras, alcançando um total de 338 projetos, totalizando um investimento de R$3.465.120,40 e beneficiando aproximadamente 103.974 mil mulheres negras, espalhadas por diversos estados do Brasil. Desde a 1ª edição do Julho das Pretas, a organização apoiou 73 projetos específicos para esta agenda, totalizando 29.194 beneficiárias.
Nestas cinco décadas de atuação, a organização tem reafirmado o seu compromisso e fortalecido ações voltadas a este grupo em seus diversos contextos, territorialidades e pluralidades, comprometendo-se com a luta antirracista no país, em consonância com seu compromisso institucional de combate ao racismo e sexismo. Isso visa contribuir para a superação dessas estruturas desiguais e avançar na promoção da justiça para mulheres e meninas negras brasileiras.