Transformar dor em indignação, luto em luta permanente. Esses foram um dos objetivos do Ato Inter-religioso “Memorial Vivo às vítimas da Covid-19”, realizado nesta terça-feira (29), em Salvador (BA), em respeito e homenagem às pessoas que perderam a vida por causa da pandemia. A ação é uma iniciativa conjunta de instituições ecumênicas, igrejas e comunidades de fé que compõe a campanha #SilêncioPelaDor e o coletivo #RespiraBrasil, organizada pelo Conselho Ecumênico Baiano de Igrejas Cristãs (CEBIC) e pela CESE, com apoio do Fórum Ecumênico ACT Brasil (FEACT).
Para marcar os 473 anos de Salvador, e os dois anos da morte da primeira vítima do coronavírus na Bahia, as entidades religiosas organizaram um plantio de um Bosque de Árvores no Parque São Bartolomeu, lugar marcado por grandes lutas e resistências das populações indígenas e negras, para fazer memórias às pessoas que partiram e para simbolizar o novo florescer. Cada tradição religiosa prestou a sua homenagem, com ritos, cantos e bênçãos.
“Perdemos muitos parentes vítimas de um atentado que se alastrou em nosso país. Enquanto indígenas acreditamos que nunca morremos. Nós somos plantados, renascemos e encantamos. Esse ato simboliza o encantamento e a força dos nossos ancestrais, que nos dá coragem para seguir caminhando contra o genocídio do nosso povo.”, afirma Cecília Pataxó, do extremo sul da Bahia, em referência a negligência e o desrespeito de autoridades políticas diante da pandemia.
Nesse sentido, Pe. Lázaro Muniz, da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, reforça os números de óbitos da Covid e descreve a importância da ação: “Hoje são aproximadamente 30 mil mortes no estado e quase 660 mil no país. Perdas que poderiam ter sido evitadas e que foram negligenciadas. É um ato de homenagem, mas também de denúncia.”. E Henrique Peregrino da Trindade, membro do CEBIC reforça: “Fazer a memória é fazer história. Não existe história sem memória. Queremos que o Memorial Vivo seja um marco para entrar na história que muitas vidas foram perdidas por falta de políticas públicas. É preciso visibilizar e despertar uma nova consciência, não apenas na pandemia, mas diariamente, nesse contexto desigualdades e injustiças que acometem o povo brasileiro. ”, declara o peregrino.
Além das reivindicações, a manhã foi marcada por oração, reflexão e fé. Um compromisso com a luta pela vida e por justiça, onde representações do Candomblé, Umbanda, Espiritismos, da Espiritualidade Indígena, e de Matriz Cristã demonstraram a possibilidade de esperançar por uma sociedade melhor, através do diálogo e respeito à diversidade.
No encerramento, Bianca Daébs, reverenda da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil e Assessora para Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da CESE, pontou que os tempos difíceis, reforçado por estruturas injustas, pode ser quebrado em nome dessa relação amorosa, respeitosa e consciente: “O CEBIC é extremamente grato ao sagrado que habita em nós e nas nossas profissões de fé. Realizamos essa solenidade irmanados/as no compromisso solidário de paz, justiça e luta por equidade para todos/as nessa cidade e nesse país.”, concluiu a Bianca.
Ao final da solenidade, o Pastor Amorim Júnior, da Igreja Presbiteriana Unida, também descreveu a relevância do encontro:
Foi um momento belíssimo!
O aniversário da cidade de São Salvador da Bahia (e Baía) de Todos os Santos mais significativo que já vivi.
Esta cidade bela e perigosa, cheia de encantos, mistérios, injustiças e contradições.
Naquele Templo vivo, que é o Parque São Bartolomeu, e nossas memórias profundas de resistência e luta pela vida dos tupinambás, do povo negro (do Quilombo do Orubu às comunidades fé de matriz afro-brasileira), das lutas do 2 de julho e das lutas do povo trabalhador e criativo da Suburbana, Pirajá e adjacências.
Muito especial, logo ali, ao som das águas das cachoeiras e dos pássaros, um Pentecostes de diversas matrizes de fé, com suas diversas línguas e gestos, na presença consoladora e renovadora do Espírito Santo de Amor, que faz novas todas as coisas.
Momento de encontros e reencontros, de recomeços e abraços.
Árvores da vida plantadas para esperançar a superação de intolerâncias, injustiças, violências.
Que seja uma viva inspiração para continuarmos, e cada vez mais contribuirmos, com com fé e fraternura, para que a vocação que está no nome de nossa cidade se realize, cidade de cura e redenção.
Assim seja!
O Ato Inter-religioso “Memorial Vivo às vítimas da Covid-19” conta com apoio do mandato da vereadora Marta Rodrigues; do Parque São Bartolomeu; da Secretaria Municipal de Sustentabilidade e Resiliência (Secis) da Prefeitura de Salvador; e da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder).
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