Entre os dias 20 e 22 de outubro de 2023, aconteceu em Salvador – Bahia o 2º Baianão Ecumênico sob a coordenação do CEBIC (Conselho Ecumênico Baiano de Igrejas Cristãs). No contexto do Tempo da Criação, o Baianão teve como tema: E Deus colocou o ser humano no jardim para cultivá-lo e preservá-lo (Gn 2.15)
O encontro reuniu representantes de comunidades de fé do estado da Bahia para compartilhar vivências acerca do cuidado com a criação. Estiveram presentes mais de 100 pessoas de diversas denominações cristãs, movimentos sociais e organizações baseadas na fé, como: Presbiterianos Unidos, Presbiterianos do Brasil, Episcopais Anglicanos, Luteranos, Batistas, Católicos Romanos, Comunidade da Trindade, Focolares, CEBI-Bahia, Koinonia e a Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE. O Baianão Ecumênico também recebeu pessoas do Candomblé e da Umbanda que se somaram à nossa diversidade religiosa para mais uma vez mostrar que o diálogo e o respeito mútuo é possível e desejável entre nós.
Tempo da Criação
O 2º Baianão Ecumênico chega no contexto da celebração do Tempo da Criação. É um período estabelecido pelo Conselho Mundial de Igrejas, de 1º de setembro a 4 de outubro, que representa um compromisso coletivo e ecumênico de oração e ação pela casa comum. Foi uma herança da celebração da liturgia ortodoxa instituída pelo Patriarca Dimitrios I em 1989 de oração pela criação. Você pode conferir na íntegra a Oração do Tempo da Criação 2023 nesse link.
O tema é extremamente relevante em um mundo onde os interesses capitalistas impõem um modelo de desenvolvimento que coloca em risco a sobrevivência do planeta. A ação de organizações comprometidas com uma melhor convivência entre as pessoas e o meio ambiente é fundamental na mitigação dos efeitos já visíveis dessa crise climática planetária.
Ecumenismo e a natureza
Os(as) participantes do 2º Baianão foram convidados(as) a um compromisso com o meio ambiente desde o primeiro dia de evento. Além da distribuição de garrafas, para evitar o uso de copos descartáveis, um dos destaques foi o QR Code que dava acesso à programação do evento e à galeria de fotos oficiais em tempo real, em substituição ao papel. Algumas das fotos você pode conferir nesse link.
Todo o encontro, desde a apresentação dos grupos, passando pelas místicas e divisões de tarefas, foi guiado a partir dos 4 elementos da natureza (água, terra, fogo e ar). O Irmão Henrique, da Comunidade da Trindade, destacou: “Deus colocou cada um e cada uma no jardim para cultivar e preservar. Estamos aqui nesse fim de semana, convidados pelo CEBIC, para preservar o jardim que Deus nos confiou e nos chamou para ser jardineiros(as). Estamos na Terra para respeitá-la e conviver harmoniosamente sem violentá-la. Nosso Deus nos fala pelo vento, nos lava pela água, nos gera pela terra e nos ilumina pelo fogo”.
Conhecer para cuidar da casa comum
Alguns dos destaques do Baianão foram as palestras formativas dos(as) assessores(as) convidados(as). A primeira delas foi “O Cuidado das Terras e das Águas”, sob a responsabilidade de Roberto Malvezzi, da Comissão Pastoral da Terra, mais conhecido como Gogó. Ele discutiu, a partir de uma perspectiva cientifica e ecumênica, alguns dos efeitos que a ação humana predatória tem tido sobre o meio ambiente: “É preciso compreender que nós todos somos irmãos e irmãs. O encontro reflete isso: a vida é ecumênica. Estamos reunidos e deixando claro que somos, antes de mais nada, um só, estamos todos entrelaçados”
Da Rede Amazonizar, organização ecumênica que conecta diversidades de fé e comunidades tradicionais amazônicas, Isabel Dessana e Pr. Yuri contribuíram com a discussão “Um olhar sobre a Amazônia-conflitos e resistências” de forma virtual. A fala de Isabel Dessana chamou atenção para a emergência climática que os povos indígenas da região sofrem, em especial com a seca dos rios da Amazônia Legal. Já o Pastor Yuri deu destaque à importância do fomento de alianças no cuidado desse bioma tão crucial para a vida no planeta: “Os fundamentalismos religiosos têm contribuído para a falta de fiscalização ambiental na Amazônia. A receita então é alimentar redes colaborativas na causa ambiental. Enquanto comunidades de fé, damos as mãos para os parceiros de boa vontade que respeitem os direitos humanos e combatam as situações de opressão”.
As oficinas oferecidas no encontro sobre energias renováveis (MAB-Movimento dos Atingidos por Barragens); Impactos ambientais na Ilha de Maré (Movimento de Pescadores e Marisqueiras da Ilha de Maré); Agroecologia e Agro Floresta ( Terra Aram) e Reciclagem (Nós da Criação) foram um ponto forte do encontro, apresentando conflitos e estratégias de enfrentamento.
Plantando o compromisso com o futuro
No último dia, cada igreja e organização presente foi convidada a escrever um compromisso concreto a partir de tudo que viu e ouviu para levar para sua comunidade de fé e ou seu grupo de atuação. Como soma de tudo o que foi trocado e simbolizando os compromissos a serem seguidos por todas as organizações que estiveram presentes, foi plantada em grupo uma árvore.
Sônia Mota, diretora executiva da CESE, destaca: “O Baianão traduz isso. A união entre os povos, as igrejas e organizações. Agradecemos a Deus, que planta em nós o desejo de trabalhar pelo diálogo, acolhendo diversas tradições de fé para juntos/as e trabalhar pelo cuidado com a Casa Comum”.
O reverendo anglicano Bruno Almeida, representante do CEBIC, ressoa esse sentimento: “Eu acho que o Baianão foi uma experiência muito boa. A gente conseguiu ter um bom número de pessoas de diversas partes da Bahia, de diversas tradições religiosas diferentes, sensibilizando as pessoas para o tema do cuidado com a casa comum, o cuidado da criação de Deus. Experiências, afetos e construção de oportunidades para a vida em comum e em respeito à toda criação”