CESE promove encontro entre jornalistas da imprensa independente e comunicadores/as populares da Amazônia

Os desafios para cobertura jornalística nos territórios da Amazônia, as possibilidades de parcerias entre veículos não hegemônicos e as tantas redes de comunicadores/as populares que vêm se formando dentro dos movimentos, a segurança das fontes entrevistadas e que estão envolvidas em conflitos e a democratização de editais para comunicadores/as.

Estes foram alguns dos principais pontos discutidos durante a roda de diálogo virtual “Comunicação Estratégica: narrativas e saberes dos povos da Amazônia”, promovida pela CESE, com apoio da Fundação Ford, na última quinta-feira (26).

O encontro contou com participação de comunicadores/as populares de organizações da Amazônia e as jornalistas Flávia Quirino, da regional do Distrito Federal do jornal Brasil de Fato; Nicoly Ambrosio, da Amazônia Real; Natalie Hornos, do observatório De Olho nos Ruralistas; e o jornalista Luis Brasilino, do Le Monde Diplomatique Brasil

A ideia desta atividade foi que estes públicos conversassem entre si, mas invertendo um pouco a lógica do trabalho jornalístico: quem ficou responsável por fazer as perguntas, desta vez, foram os representantes das comunidades, e os/as jornalistas, por respondê-las. A atividade teve por objetivo costurar acordos e fomentar um diálogo que favorecesse ambos os públicos.

Dentre os principais destaques do diálogo, esteve o avanço de um grande movimento de criação de redes de jovens comunicadores em diferentes estados da Amazônia – que integram, inclusive a Rede de Jovens Comunicadores da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). Foi incentivada, sobretudo, a possibilidade de parcerias entre essa juventude e os veículos independentes, viabilizando uma atuação mais cooperativa.

Os/as jornalistas pontuaram algumas das principais diferenças acerca da atuação e, principalmente, das condições financeiras entre esta mídia independente e a imprensa hegemônica – um vetor de desigualdades múltiplas entre elas. O debate também girou em torno de discussões sobre uma eventual mudança na lógica de cobertura dentro da Amazônia com a ampliação do acesso a internet e a disputa pela audiência neste contexto.

A segurança das fontes e de jornalistas – tanto física, quanto digital – que cobrem conflitos foram pontos debatidos, melhores formas de abordagem ao adentrar territórios, necessidade de um planejamento bastante antecipado na cobertura jornalística, por conta da logística imposta pelas especificidades do território amazônico – custos com deslocamento até as comunidades, alimentação, contratação de profissionais, e outros.

Para além da imprensa contra hegemônica, também foi destacada a importância dos veículos regionais, com a constatação de que é preciso haver um mapeamento de quais organizações e jornais locais podem trabalhar em conjunto, e de que forma – seja ajudando com informações verídicas que vêm diretamente dos territórios, no fornecimento de provas e elementos para subsidiar a notícia, fazendo algum tipo de articulação entre repórteres e fontes, etc.

Patrícia Gordano, coordenadora do setor de Comunicação da CESE, destacou a importância da atividade no sentido de viabilizar o acesso desses comunidcadores/as aos veículos, como uma estratégia de ampliar suas denúncias.

“Nem todas as organizações contam com uma pessoa que se dedique exclusivamente à comunicação, mas produzem muito conteúdo e encontram dificuldade em fazer suas mensagens chegarem aos veículos. É isso que buscamos com esse encontro: facilitar o acesso desses grupos aos jornais, viabilizar essa articulação e valorizar a Comunicação”, afirmou.