CESE recebe movimento negro para diálogo sobre conjuntura

Roda de Diálogo - CESE e Movimento Negro

A CESE recebeu em sua sede, nesta quinta-feira (28), representações do movimento negro da Bahia. A proposta do encontro é semelhante ao do realizado a cada biênio com movimentos sociais de maneira geral. É nestes momentos que a organização busca ouvir dessas lideranças quais pontos estão sendo priorizados na sua atuação. Uma estratégia para manter o máximo de alinhamento com a luta dos movimentos populares.

Participaram do encontro representantes de diferentes espaços do Movimento Negro Unificado (MNU), ODARA – Instituto da Mulher Negra, Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe (Reprotai), Rede de Mulheres Negras do Nordeste e também da Bahia, Fórum de Entidades Negras da Bahia, Rede de Mulheres de Terreiro, Instituto Steve Biko, Terreiro Axé Abassá de Ogum, Movimento dos Trabalhadores Sem Teto da Bahia (MSTB) e KOINONIA.

Este é um debate que fomenta e orienta o planejamento da CESE para o ano de 2025 no que diz respeito às suas estratégias de ação como a comunicação estratégica, formações, diálogo e articulação e, especialmente, o apoio a projetos. O encontro foi marcado, acima de tudo, por um debate político.

Segurança pública, educação, sistema prisional, a presença de facções criminosas nas comunidades, racismo judiciário e ambiental, fome, o extermínio da juventude negra, grilagem de terras, comunicação e disputa de narrativas, fortalecimento das juventudes acesso a creches, o aumento do feminicídio de mulheres negras, agravamento da violência policial, mudanças climáticas, genocídio do povo preto. Esses vários outros foram pontos debatidos durante esse encontro.

movimento negro: desafios e perspectivas

Gabriela Ramos, do Instituto Odara, abriu as discussões trazendo à tona uma contradição da própria esquerda. “Na minha concepção, o ultraconservadorismo tem sido de direita e de esquerda”, fazendo referência a uma linha de concepção teórica que não valoriza os saberes ancestrais do povo negro. Representando a Rede de Mulheres Negras do Nordeste, Valdecir Nascimento complementou a fala.

“Nós, negros, sempre estivemos subjugados a essa ordem brancocêntrica, racista, sexista. Somos o estado mais letal à população negra. Vivemos, aqui, uma experiência que ninguém tá falando: Mãe Bernadete, uma mulher negra de 70 anos, assassinada brutalmente, na frente dos netos. Nenhuma pessoa branca no Brasil vai viver essa experiência.”

Raimundo Bujão, representando o Fórum de Entidades Negras da Bahia, destacou a importância do tambor para o movimento negro. “O batuque reúne. E ali se abre para outras discussões. Se não fossem os tambores, o movimento negro na Bahia não estaria onde está hoje. Os blocos afro, a percussão, a música negra muda a conjuntura. Trouxe consciência, fez com que as pessoas se despertassem para as suas histórias.”

Suely Santos, da Rede de Mulheres Negras da Bahia, afirmou que o movimento negro está mudando uma fotografia. “As cotas mudaram a cara das universidades. Projetos premiados internacionalmente e espaços de ensino nomeados em referência à cultura preta.” Mas ela denuncia o que considera ser consequência dessa nova fotografia. “Inclusive, a retirada de recursos das universidades acontece porque a gente entrou”.

Moacir Pinho, da Coordenação Estadual dos Povos Tradicionais e de Matrizies Africanas do MNU, manifestou sua preocupação com a segurança alimentar para o orí e para o corpo.

“Um levantamento feito por universidades encontrou centenas de terreiros em Salvador. São barraquinhos, pessoas passando necessidade, e os projetos não chegam para essas menores, só para as Casas grandes. Isso é muito caro para nós, porque a cultura afro nasce dessa fonte geradora. A culinária, alimentação, tudo. E essa estrutura não foi formada aleatoriamente por pessoas escravizadas. É uma estrutura política.”

O encontro afirmou que o movimento negro – as organizações, grupos e movimentos – têm resistido de forma organizada, com força, solidariedade e sabedoria, fruto da experiência e acúmulo histórico do campo democrático e popular. A II Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, que acontecerá no dia 25 de novembro de 2025, em Brasília, é um dos grandes exemplos disso.