Com apoio da CESE, através do Programa de Pequenos Projetos, a Associação Territorial de Agroecologia dos Povos da Cabruca e da Mata Atlântica (Teia dos Povos) organizou um mutirão agroflorestal na Aldeia-Escola-Floresta do povo Tikmuun Maxakali, em Teófilo Otoni, Minas Gerais. A iniciativa, executada em dezembro de 2022, continua dando frutos para a soberania alimentar dessa população.
O mutirão se baseou no plantio e troca de mudas vindas do Assentamento Terra Vista, do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) em Arataca. Além disso, as rodas de conversa para a valorização das formas de cultivo tradicional fincaram uma rede agroecológica que perdura até hoje.
“Nós fomos para colaborar, colocar nossa experiência, mostrar como saímos da extrema pobreza e construímos uma riqueza que dinheiro nenhum compra. Vemos hoje implementações e desenvolvimentos no trabalho feito, novos viveiros. Fornecemos as mudas e eles continuam cuidando”, diz Joelson Ferreira, agricultor do Assentamento Terra Vista que coordenou as ações de plantio no mutirão.
MAXAKALI: HISTÓRIA DE RESISTÊNCIA
O povo Tikmuun Maxakali ocupa tradicionalmente áreas ribeirinhas entre os estados do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia, no entorno dos rios Jequitinhonha, Pardo, Jucuruçu, Itanhém e São Mateus. Hoje em dia, após sucessivas invasões por fazendeiros, seu território diminuiu de 200 mil para 6 mil hectares, distribuídos em 4 aldeias.
Nessa situação, as 2707 pessoas dessa comunidade muitas vezes não conseguem obter o necessário para a sua subsistência e para uma vivência digna. Não há água, terra, ou sementes suficientes, além de enfrentarem outras questões logísticas.
Somado a isso está a insegurança com que vivem nos territórios, tanto jurídica quanto física e simbólica. Durante a pandemia, a questão atingiu um auge e houve a necessidade dos grupos se deslocarem cerca de quatro vezes entre locais diferentes, para se protegerem.
Parte do povo ocupa hoje uma área da Fazenda Itamunheque, em Teófilo Otoni, Minas Gerais. O local é chamado de Aldeia-Escola-Floresta, nome pensado pelas lideranças Isael Maxakali e Sueli Maxakali. O título indica um espaço em que seria possível tanto a troca de saberes agrícolas tradicionais, como a preservação da memória.
REDE AGROECOLÓGICA
Foi a partir dessas necessidades que a Teia dos Povos, que existe desde 2013 no fortalecimento da agricultura popular em diferentes organizações, realizou uma série de intercâmbios para entender essa realidade. Um dos caminhos para as trocas com a comunidade indígena foi o da agroecologia.
Esse sistema de plantio está baseado no uso consciente dos recursos, promovendo a segurança e soberania alimentar aliadas com a preservação ambiental e o reflorestamento. É algo já incorporado ao conhecimento tradicional desse povo e que está diretamente ligado ao seu modo de vida.
Durante o mutirão, as atividades práticas contribuíram para o diálogo de experiências entre o saber indígena e o conhecimento dos agricultores da Teia dos Povos. Hoje em dia já é possível ver uma mitigação da situação de insegurança alimentar que existia: “Começamos com as vivências. Convidamos eles para vir ao assentamento Terra Vista e levar algumas mudas, ramas de batata, mandioca, mudas frutíferas. A cada 15 dias, eles mandavam as fotos de como estava o trabalho. De lá pra cá já foram dois mutirões e agora estamos construindo 300 hectares de floresta com eles”, destaca Joelson.