Contemplado no Programa de Pequenos Projetos da CESE, iniciativa da Rede Sergipana de Agroecologia colocou na agenda a agricultura familiar e a soberania alimentar
A CESE contribuiu para o fortalecimento da agenda da agroecologia e da agricultura familiar em 2022 através do suporte oferecido a projetos da sociedade civil organizada e dos movimentos sociais com essa pauta. Contemplado pelo Programa de Pequenos Projetos, o “Ato Público – Pela Soberania Alimentar no Campo e na Cidade” foi realizado no dia 10 de setembro de 2022, em praça pública, no centro comercial de Aracaju/SE, como ação coordenada pela Rede Sergipana de Agroecologia.
De acordo com Jorge Rabanal, membro da equipe da Secretaria Operativa da ReSeA, “o Ato representou a culminância do processo de incidência política realizado pela ReSeA em 2022. A ação teve como principais objetivos fortalecer a agenda da campanha de mobilização ‘Agroecologia nas Eleições’, conduzida pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) em todo o Brasil e retomar o Plano Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica de Sergipe (PEAPO-SE), lançando luz às temáticas da Soberania Alimentar, Arte, Cultura e Comunicação, Combate ao uso de Agrotóxicos e conservação das Sementes Crioulas”. Ele acrescenta que a iniciativa foi fruto de um amplo e participativo processo que teve início na Plenária Estadual da ReSeA, realizada no dia 15 de junho em Aracaju/SE, com uma representativa participação das organizações, movimentos sociais e instituições de ensino, pesquisa e extensão.
O evento contou com a realização da Feira Agroecológica e Cultural, além de uma diversidade de atividades acontecendo em conjunto, tais como apresentações artísticas e culturais, almoço agroecológico para as/os feirantes e equipe organizadora, roda de conversa com a participação de representantes dos movimentos sociais e de candidatas e candidatos ao pleito eleitoral de 2022. A produção de povos e comunidades tradicionais foi valorizada e se destacou no Ato Público, que ainda promoveu a arrecadação de doações de alimentos e produtos junto aos feirantes, produzindo cestas que foram entregues ao movimento de ocupação urbana que estava presente.
Segundo Jorge, “a Feira Agroecológica e cultural representou um importante espaço local e identitário para a compra, venda e troca de alimentos frescos e beneficiados, artesanatos, biocosméticos, plantas medicinais, cultivos e sementes provenientes dos territórios sergipanos. Dessa forma, a cultura camponesa intrinsecamente agroecológica foi divulgada através do seu saber fazer produtivo, alimentar e cultural por meio das bancas de feira e de apresentações culturais”.
Ainda compôs a programação o Território do Brincar, que consistiu num espaço para o acolhimento das crianças com atividades artísticas. “Na Agroecologia, a criança é mais que bem-vinda, ela é também construtora do conhecimento. É voz ativa, impulso criativo, é corpo brincante. Por isso, é dela também o espaço político de diálogos e tomadas de decisões sobre os rumos do país quanto à alimentação, à saúde e à educação, entre outros direitos fundamentais. Nesse sentido, no nosso Ato, educadoras conduziram o Território do Brincar, um espaço estimulante para que as crianças pudessem aprender juntas, se expressarem livre e criativamente, por meio de atividades artístico-pedagógicas” explica Amanda Moura, integrante da articulação.
O Território do Brincar, além de ser um espaço acolhedor e estimulante para as crianças, é também uma proposta de suporte à participação das mães e dos pais nos espaços políticos, visto que muitas vezes as famílias, especialmente as mulheres, deixam de participar da política por não terem uma rede de apoio, cuidado e confiança à sua volta. “Por isso, é muito importante valorizarmos e fortalecermos a construção desse espaço nas nossas atividades”, afirma a liderança da rede.
O evento cumpriu seu papel de construir um ambiente político para a assinatura da carta compromisso da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) junto às candidaturas progressistas e populares aos cargos executivos e legislativos, estaduais e federais de Sergipe. Nesse mesmo espaço, fortaleceu os processos de comercialização agroecológica vinculados aos camponeses e camponesas sergipanas, colocou em evidência a cultura do campo, intrinsecamente agroecológica, associada ao saber fazer produtivo, alimentar e cultural por meio das bancas de feira e de apresentações culturais.
RESEA – Desde 2006, a Rede Sergipana de Agroecologia (ReSeA) atua a partir da articulação de organizações e movimentos sociais que trabalham pelo fortalecimento da agroecologia, da agricultura familiar e promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional em Sergipe. De acordo com Amanda, “a constituição da ReSeA foi motivada, também, pelo processo preparatório para o II Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), promovido pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), e realizado naquele mesmo ano. Desde então, a Rede vem seguindo seu propósito político e pedagógico, promovendo espaços de diálogos e convergências entre a diversidade de grupos, coletivos, instituições de ensino, pesquisa e extensão e organizações populares do campo e da cidade, com o compromisso de fortalecer e evidenciar as experiências agroecológicas e construir subsídios para a elaboração de políticas públicas”
Segundo Priscila Viana, integrante da rede, a relação com a CESE foi valiosa para viabilizar a atividade e marca o início da relação de parceria entre as duas entidades. “Tivemos o apoio financeiro da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) e do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (SINPAF/EMBRAPA). Também contamos com o engajamento de companheiras e companheiros da ReSeA, que contribuíram por meio de cotas lançadas a partir de um “Convite à Solidariedade” feito pela Rede” explica a ativista.
“Sempre existiu um reconhecimento do trabalho da CESE junto a bandeira política da Agroecologia, como existia uma convivência de movimentos quanto da participação dos Fóruns promovidos pela ANA, a exemplo das reuniões nacionais que era possível realizar a troca de experiências no âmbito da organização popular. Apesar do reconhecimento político, nunca tivemos a oportunidade de propor uma parceria e enxergando a Temática do Ato que reivindicava a Soberania Alimentar no campo e na cidade, vimos como pertinente inaugurarmos o casamento desta valorosa pauta com um horizonte propositivo em fortalecer a organização popular da população camponesa e dos trabalhadores da cidade, que puderam reconhecer o papel político do alimento que consumimos” conclui Priscila.
AGROECOLOGIA – O Ato Público foi construído paulatinamente, envolvendo organizações parceiras da ReSeA. Houve todo um trabalho coletivo e horizontalizado, visando colocar na agenda pública a questão agroecológica. “Entendemos que tratar do tema da soberania alimentar na esfera pública é fundamental para popularizar o debate referente à produção e consumo saudável de alimentos. Nesse sentido, o Ato Público foi uma grande oportunidade de mobilização, articulação e diálogo junto à sociedade civil organizada. A população sergipana teve uma compreensão melhor sobre a importância da criação, execução e fortalecimento de políticas públicas que apoiem a agricultura familiar, a agroecologia e promovam a soberania e segurança alimentar dos povos do campo, das águas, das florestas e das cidades, reforçando o princípio de que a Agroecologia é a convergência entre ciência, prática e movimento político” explica Amanda Moura.
Divididos em grupos de trabalho, os integrantes da rede realizaram cinco reuniões gerais de forma virtual, com média de 12 participantes. Essas encontros serviram para produzir o evento e orientar os passos estratégicos: definir a forma de participação dos movimentos, as indicações das candidaturas apoiadas pelos movimentos, construção da programação, definição das fontes para arrecadação de fundos, questões estruturais e metodológicas.
Mais que dar visibilidade à agenda da agroecologia, o ato visou desencadear ações de incidência política e traçar estratégias para os movimentos. Segundo Amanda Moura, “através da Roda de Conversa com representações dos movimentos sociais, em conjunto com as candidaturas ao pleito eleitoral de 2022, foi possível aproximar a pauta agroecológica dos movimentos socioterritoriais de Sergipe do momento político eleitoral vivenciado através da campanha de mobilização Agroecologia nas Eleições 2022”. A Roda de Conversa criou o ambiente político para a assinatura da carta compromisso da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) junto às candidaturas progressistas e populares aos cargos executivos e legislativos, estaduais e federais de Sergipe.