CESE 50 anos: semeando boas sementes e regando a esperança

“Mas, os humildes receberão a terra por herança e desfrutarão pleno bem-estar

Salmos 37.11

Este é um dos sonhos de Deus para a humanidade, revelado através da voz do salmista. Este sonho alimentou um grupo de pessoas comprometidas com uma fé profética e libertadora, quando há 50 anos, se reuniram para fundar a CESE. Naqueles anos de ditadura militar, foi uma ousada articulação ecumênica nacional e internacional de resistência ao autoritarismo político, de denúncia dos crimes contra os Direitos Humanos e de anúncio profético de uma sociedade livre, democrática, econômica e socialmente justa, que fez surgir esta organização que assumiu a tarefa de ser um serviço diaconal das igrejas numa sociedade excludente.

Naquele momento, a CESE já nasceu conjugando o verbo esperançar.

Foi conjugando o esperançar que acalentou o sonho de fortalecer pequenas iniciativas em suas lutas por direitos e criou o Fundo de Pequenos Projetos para apoiar projetos-sementes de grupos e movimentos populares. Já então se sabia que a força, as respostas e as soluções estão na resistência e na organização do povo que teima em ter fé na vida.

Esperançou quando viu que a possibilidade de resistência seria maior se, além de grupos, também apoiasse Redes que atuam em articulação conjunta, aumentando a capilaridade das lutas pela defesa de direitos.  Assim, contribuiu para o fortalecimento e o surgimento de muitas Redes por este país afora, e deu visibilidade às experiências diversificadas.

Esperançou também quando descobriu que apoiar movimentos e grupos populares exigia apostar em formação, diálogo e articulação num exercício dialógico de aprender e fazer em conjunto.

Ao longo de todos esses anos, a CESE compreendeu que, para manter o sonho, alimentar a utopia e continuar conjugando o verbo esperançar, é fundamental não esquecer as profecias que alimentaram gerações passadas e continuar participando do diálogo ecumênico e inter-religioso em suas ações na defesa, promoção, garantia e efetividade dos Direitos Humanos.  Não menos importante é ouvir amorosa e atentamente os povos originários e populações tradicionais e aprender com eles para enfrentar os fundamentalismos religiosos, políticos e econômicos.

Conjugar o verbo esperançar é o que mais temos feito e, por isto, sobrevivemos a uma ditadura militar, a um golpe que derrubou uma presidenta legitimamente eleita e a quatro anos de desgoverno, perseguições e mortes.

Nessa caminhada por tantos territórios e no encontro com corpos de onde brotam experiências de vida tão diversificadas, ampliamos nosso olhar, ajustamos nossos passos e abraçamos novas pautas. Os aprendizados e desafios são contínuos. Por isso, continuamos a conclamar as igrejas a virem junto com a gente, ampliando nossa ousadia profética para que as novas agendas de Direitos Humanos, que se apresentam no século XXI, encontrem eco entre nós.  Agradecemos e convidamos todas os que nos apoiam a continuar acreditando em nosso trabalho, porque ainda temos muito o que esperançar.

Celebramos nossos 50 anos agradecendo aos profetas e profetisas que nos antecederam. E ao celebrar essa nossa história afirmamos nosso compromisso com uma sociedade democrática e de direitos. Com 50 anos continuamos a esperançar, pois acreditamos que ainda podemos contribuir   na construção da democracia que queremos.

Que não nos falte a fé profética, a ousadia das lutadoras e lutadores do povo e a necessária e atenta crítica por parte de quem nos acompanha. Comprometemo-nos a continuar caminhando e esperançando juntos/as no mutirão pelo Reino de Deus, que se concretiza na paz como fruto da justiça e culmina no amor.