Associação de Brigadistas Krahô Kiwi Pi recupera espécies nativas do Cerrado no Tocantins
31 de outubro de 2024
Jatobá, buriti, bacaba, mangaba, pequi e oiti têm algo em comum: são espécies nativas do Cerrado e estão ameaçadas por incêndios predatórios e criminosos. Mesmo nesse cenário adverso, uma iniciativa da Associação de Brigadistas Krahô Kiwi Pi, situada na Aldeia Manoel Alves, Terra Indígena Krahô, próxima ao município de Itacajá (TO), trabalha na recuperação dessas espécies através de um viveiro de mudas.
Com apoio da CESE, por meio do Programa de Pequenos Projetos, a Associação de Brigadistas Krahô Kiwi Pi fortaleceu a produção de mudas de espécies nativas contribuindo para a preservação de frutas essenciais ao Cerrado. Além disso, o projeto desenvolvido pelos Krahô promoveu a educação ambiental de jovens e da comunidade, fortalecendo o respeito e a proteção ao bioma.
“A cada ano, enfrentamos grandes perdas de biodiversidade por causa dos incêndios. Este projeto veio no momento certo, pois estávamos perdendo fruteiras nativas como a mangaba e o oiti. A criação do viveiro nos permite recuperar essas espécies, recolhendo as sementes antes que sejam destruídas pelo fogo”, explica Cristiano Cristiano Alves Gomes Krahô, assessor da Associação de Brigadistas Krahô Kiwi Pi.
O Cerrado, atualmente o bioma mais desmatado do Brasil, sofre com os efeitos das mudanças climáticas, intensificadas pelo modelo de exploração predatória do agronegócio. Cristiano Krahô, expressa preocupação com o impacto da expansão agrícola na região:
“No nosso território, não havia tantos projetos de soja nem tantos fazendeiros ao redor. Hoje, estamos cercados por vastas plantações que transformam o ambiente em um deserto sem vida, onde nem mesmo aves são vistas. Esse avanço trouxe alterações climáticas e desafios que antes não enfrentávamos, como a redução da oferta de água e a diminuição da produção de frutos pelas árvores nativas.”, diz Cristiano.
Segundo Cristiano, o território do povo Krahô foi duramente impactado pelos incêndios em 2024, intensificados pela demora na contratação das brigadas de combate. Ele enfatiza que a contratação tardia dos brigadistas impediu o manejo adequado do fogo, uma prática tradicional que ajuda a prevenir incêndios descontrolados, que prejudicam a sobrevivência do Cerrado, assim como a vida sociocultural dos povos indígenas, que nele vivem.
Os brigadistas indígenas estão vinculados ao programa do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), o PrevFogo, que é um programa do governo brasileiro voltado para a prevenção e o combate a incêndios florestais, sendo parte do Sistema Nacional de Prevenção e Controle de Incêndios Florestais. São eles/as os/as responsáveis pela prevenção e combate aos incêndios florestais nos territórios indígenas.
O Cerrado é o bioma mais desmatado do Brasil, com uma taxa alarmante que representa 61% do total de desmatamento nacional, segundo o Relatório Anual de Desmatamento 2023 do MapBiomas. Em 2023, o desmatamento na região cresceu 67,7%, atingindo mais de 1,1 milhão de hectares, com grande parte da destruição ocorrendo na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).
Diante deste contexto alarmante, o papel das brigadas indígenas é de suma importância para a prevenção e combate aos incêndios florestais, incluindo atividades relacionadas a campanhas educativas, monitoramento e pesquisa. A Associação dos Brigadistas Kiwi Pii conta hoje com 30 indígenas, e exerce um papel fundamental na região.
O povo Krahô da Aldeia Manoel Alves busca agora ampliar parcerias com outros atores locais, como a Prefeitura local e a Funai, para dar continuidade ao projeto.
“Continuamos a produzir mudas e, agora, com o início do período chuvoso, estamos prontos para transferi-las para áreas afetadas. Este projeto com o viveiro é essencial para nós, pois permite que o Cerrado e suas fruteiras nativas sobrevivam para as próximas gerações.”, declara Cristiano.
O viveiro da Associação Krahô Kiwi Pi continua sendo um símbolo de resistência, assegurando a existência de espécies ameaçadas e contribuindo para o sustento do povo Krahô diante das mudanças climáticas e das ameaças ao Cerrado.
“Estamos buscando apoio para produzir mudas de laranja, mexerica e outras frutas, diversificando o viveiro. A ideia é oferecer essas mudas às aldeias e comunidades, para que possam plantar ao redor de suas casas. Queremos disponibilizar frutas que ainda não têm nas aldeias, como a laranja e mexerica, doando em lotes para cada comunidade, junto com as mudas de espécies nativas do Cerrado e das matas”, vislumbra Cristiano para o futuro.
Programa de Pequenos Projetos
Desde a sua fundação, a CESE definiu o apoio a pequenos projetos como a sua principal estratégia de ação para fortalecer a luta dos movimentos populares por direitos no Brasil.
Quer enviar um projeto para a CESE? Aqui uma lista com 10 exemplos de iniciativas que podem ser apoiadas:
1. Oficinas ou cursos de formação
2. Encontros e seminários
3. Campanhas
4. Atividades de produção, geração de renda, extrativismo
5. Manejo e defesa de águas, florestas, biomas
6. Mobilizações e atos públicos
7. Intercâmbios – troca de experiências
8. Produção e veiculação de materiais pedagógicos e informativos como cartilhas, cartazes, livros, vídeos, materiais impressos e/ou em formato digital
9. Ações de comunicação em geral
10. Atividades de planejamento e outras ações de fortalecimento da organização
Comecei a aproximação com a organização pelo interesse em aprender com fundo de pequenos projetos. Sempre tivemos na CESE uma referência importante de uma instituição que estava à frente, na vanguarda, fazendo esse tipo de apoio com os grupos, desde antes de outras iniciativas existirem. E depois tive oportunidade de participar de outras ações para discutir o cenário político e também sobre as prioridades no campo socioambiental. Sempre foi uma troca muito forte.
A CESE completa 50 anos de testemunho de fé ativa no amor, faz jus ao seu nome. Desde o início, se colocou em defesa dos direitos humanos, denunciou atos de violência e de tortura, participou da discussão de grandes temas nacionais, apoiou movimentos sociais de libertação. Parabéns pela atuação profética, em prol da unidade e da cidadania. Que Deus continue a fazer da CESE uma benção para muitos.
Minha história com a CESE poderia ser traduzida em uma palavra: COMUNHÃO! A CESE é uma Família. Repito: uma Família! Nos dois mandatos que estive como presidente da CESE pude experimentar a vivência fraterna e gostosa de uma equipe tão diversificada em saberes, experiências de fé, histórias de vida, e tão unida pela harmonia criada pelo Espírito de Deus e pelo único desejo de SERVIR aos mais pobres e vulneráveis na conquista e defesa dos seus direitos fundamentais. Louvado seja Deus pelos 50 anos de COMUNHÃO e SERVIÇO da CESE! Gratidão por tudo e para sempre!
A família CESE também faz parte do movimento indígena. Compartilhamos das mesmas dores e alegrias, mas principalmente de uma mesma missão. É por um causa que estamos aqui. Fico muito feliz de poder compartilhar dessa emoção de conhecer essa equipe. Que venham mais 50 anos, mais pessoas comprometidas com esse espírito de igualdade, amor e fraternidade.
Quero muito agradecer pela parceria, pelo seu histórico de luta com os povos indígenas. Durante todo o tempo que fui coordenadora executiva da APIB e representante da COIAB e da Amazônia brasileira, nós tivemos o apoio da CESE para realizar nossas manifestações, nosso Acampamento Terra Livre, para as assembleias locais e regionais. Tudo isso foi muito importante para fortalecer o nosso protagonismo e movimento indígena do Brasil. Deixo meus parabéns pelos 50 anos e seguimos em luta.
Eu acho extraordinário o trabalho da CESE, porque ela inaugurou outro tipo de ecumenismo. Não é algo que as igrejas discutem entre si, falam sobre suas doutrinas e chegam a uma convergência. A CESE faz um ecumenismo de serviço que é ecumenismo de missão, para servir aos pobres, servir seus direitos.
A gente tem uma associação do meu povo, Karipuna, na Terra Indígena Uaçá. Por muito tempo a nossa organização ficou inadimplente, sem poder atuar com nosso povo. Mas, conseguimos acessar o recurso da CESE para fortalecer organização indígena e estruturar a associação e reorganizá-la. Hoje orgulhosamente e muito emocionada digo que fazemos a Assembleia do Povo Karipuna realizada por nós indígenas, gerindo nosso próprio recurso. Atualmente temos uma diretoria toda indígena, conseguimos captar recursos e acessar outros projetos. E isso tudo só foi possível por causa da parceria com a CESE.
Conheço a CESE desde 1990, através da Federação de Órgãos para Assistência Social (FASE) no apoio a grupos de juventude e de mulheres. Nesse sentido, foi uma organização absolutamente importante. E hoje, na função de diretor do Programa País da Heks no Brasil, poder apoiar os projetos da CESE é uma satisfação muito grande e um investimento que tenho certeza que é um dos melhores.
A relação de cooperação entre a CESE e Movimento Pesqueiro é de longa data. O apoio político e financeiro torna possível chegarmos em várias comunidades pesqueiras no Brasil para que a gente se articule, faça formação política e nos organize enquanto movimento popular. Temos uma parceria de diálogos construtivos, compreensível, e queremos cada vez mais que a CESE caminhe junto conosco.
A CESE foi criada no ano mais violento da Ditadura Militar, quando se institucionalizou a tortura, se intensificaram as prisões arbitrárias, os assassinatos e os desaparecimentos de presos políticos. As igrejas tiveram a coragem de se reunir e criar uma instituição que pudesse ser um testemunho vivo da fé cristã no serviço ao povo brasileiro. Fico muito feliz que a CESE chegue aos 50 anos aperfeiçoando a sua maturidade.