Tempo da Criação
23 de setembro de 2024
´Pra. Romi Bencke – Secretária Executiva do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs / CONIC
Entre os dias 1 de setembro a 04 de outubro, o movimento ecumênico global celebra o tempo da Criação. Instituído em 1989 pelo Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Dimitrius I, a proposta foi acolhida pelo Conselho Mundial de Igrejas e pela Igreja Católica Romana. Mais do que ser uma data oficial para que pessoas cristãs do mundo todo celebrem a Criação como expressão do amor de Deus, o Tempo da Criação tem como objetivo responsabilizar pessoas de fé para o cuidado da Casa Comum.
Este ano, o tema do Tempo da Criação é “Esperançar e agir com a Criação”. Este tema nos provoca a olhar para os eventos climáticos e para as consequências dos crimes ambientais em nosso país. Nas últimas semanas, o Brasil tem sido encoberto por nuvens de fumaça em consequência de queimadas, que, ao que tudo indica, são criminosas. Aproximadamente 60% do país está encoberto por nuvens de fumaça toxicas. Como consequência das queimadas, as chuvas que caíram nas regiões sul e sudeste foram “chuvas preta”, carregadas de toxicidade.
Enquanto a natureza nos comunica o seu esgotamento causado pelo modelo econômico baseado na exploração ilimitada dos recursos naturais, acompanhávamos os relatos das violências contra comunidades indígenas. A perseguição aos povos indígenas tem relação com o Marco Temporal. O agro não suporta a ideia de os povos indígenas terem suas terras demarcadas.
A aniquilação dos povos originários e das florestas revelam muito das escolhas econômicas e políticas feitas pelo Brasil. Os povos originários são os guardiões das florestas e das águas. Há muito tempo eles alertam os não indígenas sobre a urgência de estabelecermos relações de não exploração e agressão com o planeta. Ao invés de ouvir este chamado, escolhemos ignorar e aprofundar as agressões, retirando dos indígenas o seu direito ao território e negando aos biomas o seu direito de existir.
Substituímos a diversidade das matas e dos rios pela monocultura e mudamos o curso dos rios para a irrigação. Aos poucos, matamos a terra com o uso intensivo de veneno, contaminamos e destruímos rios. Com isso, seguimos com o projeto colonialista de extermínio dos povos indígenas e de aniquilação do planeta.
A Terra, conforme anunciado pelos cientistas do clima, atingiu seu ponto de não retorno. A floresta Amazônica e, com ela, os demais biomas estão sucumbindo.
A reação do governo diante das queimadas é tímida, talvez por causa do processo eleitoral em curso. Agir em favor dos biomas exige que olhemos para a mineração e a monocultura. Talvez isso não seja interessante neste momento.
Neste Tempo da Criação, resta-nos a escolha entre garantir que gerações futuras tenham o direito a um planeta ou seguir colocando o lucro acima das diferentes formas de vida? A escolha por um ou outro caminho determinará nossa chance de futuro.
VEJA O
QUE FALAM
SOBRE NÓS
Conheço a CESE desde 1990, através da Federação de Órgãos para Assistência Social (FASE) no apoio a grupos de juventude e de mulheres. Nesse sentido, foi uma organização absolutamente importante. E hoje, na função de diretor do Programa País da Heks no Brasil, poder apoiar os projetos da CESE é uma satisfação muito grande e um investimento que tenho certeza que é um dos melhores.
Há vários anos a CESE vem apoiando iniciativas nas comunidades quilombolas do Pará. A organização trouxe o empoderamento por meio da capacitação e formação para juventude quilombola; tem fortalecido também o empreendedorismo e agricultura familiar. Com o apoio da CESE e os cursos oferecidos na área de incidência política conseguimos realizar atividades que visibilizem o protagonismo das mulheres quilombolas. Tudo isso é muito importante para a garantia e a nossa permanência no território.
A luta antirracista é o grande mote das nossas ações que tem um dos principais objetivos o enfrentamento ao racismo religioso e a violência, que tem sido crescente no estado do Maranhão. Por tanto, a parceria com a CESE nos proporciona a construção de estratégias políticas e de ações em redes, nos apoia na articulação com parcerias que de fato promovam incidência nas políticas públicas, proposições institucionais de enfrentamento a esse racismo religioso que tem gerado muita violência. A CESE nos desafia na superação do racismo institucional, como o grande vetor de inviabilização e da violência contra as religiões de matrizes africanas.
Somos herdeiras do legado histórico de uma organização que há 50 anos dá testemunho de uma fé comprometida com o ecumenismo e a diaconia profética. Levar adiante esta missão é compromisso que assumimos com muita responsabilidade e consciência, pois vivemos em um país onde o mutirão pela justiça, pela paz e integridade da criação ainda é uma tarefa a se realizar.
Quero muito agradecer pela parceria, pelo seu histórico de luta com os povos indígenas. Durante todo o tempo que fui coordenadora executiva da APIB e representante da COIAB e da Amazônia brasileira, nós tivemos o apoio da CESE para realizar nossas manifestações, nosso Acampamento Terra Livre, para as assembleias locais e regionais. Tudo isso foi muito importante para fortalecer o nosso protagonismo e movimento indígena do Brasil. Deixo meus parabéns pelos 50 anos e seguimos em luta.
Parabéns à CESE pela resistência, pela forte ancestralidade, pelo fortalecimento e proteção aos povos quilombolas. Onde a política pública não chega, a CESE chega para amenizar os impactos e viabilizar a permanência das pessoas, das comunidades. Que isso seja cada vez mais potente, mais presente e que a gente encontre, junto à CESE, cada vez mais motivos para resistir e esperançar.
A gente tem uma associação do meu povo, Karipuna, na Terra Indígena Uaçá. Por muito tempo a nossa organização ficou inadimplente, sem poder atuar com nosso povo. Mas, conseguimos acessar o recurso da CESE para fortalecer organização indígena e estruturar a associação e reorganizá-la. Hoje orgulhosamente e muito emocionada digo que fazemos a Assembleia do Povo Karipuna realizada por nós indígenas, gerindo nosso próprio recurso. Atualmente temos uma diretoria toda indígena, conseguimos captar recursos e acessar outros projetos. E isso tudo só foi possível por causa da parceria com a CESE.
Nós, do SOS Corpo, mantemos com a CESE uma parceria de longa data. Temos objetivos muito próximos, queremos fortalecer os movimentos sociais porque acreditamos que eles são sujeitos políticos de transformação. Seguiremos juntas. Um grande salve aos 50 anos. Longa vida à CESE
A relação de cooperação entre a CESE e Movimento Pesqueiro é de longa data. O apoio político e financeiro torna possível chegarmos em várias comunidades pesqueiras no Brasil para que a gente se articule, faça formação política e nos organize enquanto movimento popular. Temos uma parceria de diálogos construtivos, compreensível, e queremos cada vez mais que a CESE caminhe junto conosco.
A CESE foi criada no ano mais violento da Ditadura Militar, quando se institucionalizou a tortura, se intensificaram as prisões arbitrárias, os assassinatos e os desaparecimentos de presos políticos. As igrejas tiveram a coragem de se reunir e criar uma instituição que pudesse ser um testemunho vivo da fé cristã no serviço ao povo brasileiro. Fico muito feliz que a CESE chegue aos 50 anos aperfeiçoando a sua maturidade.