De 09 a 13 de setembro, aconteceu em Brasília a Oficina de Comunicação Patak Maymu. A formação reuniu 20 comunicadoras indígenas de organizações dos 11 estados de abrangência do projeto “Patak Maymu: Autonomia e participação das mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado na defesa de seus direitos”. A atividade foi realizada pela CESE, com apoio e financiamento da União Europeia.
Oficina de Produção Textual conduzida por Andreza Baré e de Audiovisual conduzida por Priscila Tapajowara.
Durante os dias de formação presencial, os módulos dados foram Produção Textual e Audiovisual, ministrados por Andreza Baré e Priscila Tapajowara. As comunicadoras trocaram experiências e aprenderam conceitos básicos sobre produção textual, criação de conteúdo para as redes sociais, manuseio de câmera e edição. O objetivo da oficina é o fortalecimento da comunicação indígena, empoderamento e autonomia para que as comunicadoras participantes apoiem suas bases e organizações, utilizando a comunicação como ferramenta de luta para defesa de seus territórios de forma estratégica e segura, unindo conhecimentos tradicionais a novas tecnologias para fortalecer a luta.
A representante da Coordenação da Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia (Agir), Tailani Wajuru do povo Wayoro, estado de Rondônia, falou sobre a necessidade de começar a pesquisar e aprender sobre seus direitos para ajudar seu povo, usando as redes como ferramenta de denúncia: “Meu pai dizia que para falar o que a gente sofre, você não precisa falar bonito, é só falar o que está acontecendo”.
Aconteceu também um momento experimental com projeção em parede, em que elas puderam escolher e testar cores e texturas para que pudessem ter contato com outros formatos de comunicação.
Oficina de projeção, conduzida pela jornalista e cineasta Raquel Alvarez
Antes do módulo presencial, a oficina ocorreu no formato online nos dias 28 de julho a 25 de agosto, com os módulos de Produção textual, Mídias sociais, Audiovisual e Segurança digital. Tendo por objetivo a qualificação das participantes, para produção de conteúdo próprio, comunicar a luta de seus povos e de seus territórios, dando voz às suas narrativas. Demarcando nas redes sociais a presença de seus povos, organizações e associações.
Milena Gavião, do estado do Maranhão, comunicadora da Brigada Voluntária Feminina do Povo Gavião, ressaltou a importância de ser jovem comunicadora e poder participar dessa formação: “Os módulos dados online foram muito proveitosos, trazendo mais conhecimento na área, para mim”, disse Milena.
Comunicação como ferramenta para defesa de direitos
Roda de conversa: Comunicação como ferramenta para defesa de direitos
A comunicação sempre esteve presente para os povos indígenas através da oralidade, dessa forma as memórias e os saberes tradicionais ancestrais são passados por gerações.
Comunicar é escuta, troca, partilha, dialogo, sentir, falar, é organizar e compartilhar ideias. Essas comunicadoras populares utilizam a tecnologia como estratégia para visibilidade, reconhecimento, respeito, como ferramenta de salvaguarda cultural e também para romper preconceitos e estereótipos gerados pela falta de informação nos principais veículos de comunicação.
Luene Karipuna, comunicadora popular, representante da Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão (Amim)
“O meu território me formou, minha academia é meu território. Não tenho formação acadêmica na área”, disse Luene Karipuna do povo Karipuna, estado do Amapá, da Associação das Mulheres Indígenas em Mutirão (Amim). Luene falou também da importância de trabalhar em rede, em colaboração e fazer uma comunicação segura.
Através da câmera do celular essas mulheres mostram a realidade vivenciada por seus povos, dando visibilidade a suas pautas. A comunicação indígena tem sido uma arma estratégica de luta. Quando o texto, o audiovisual e a fotografia se encontram, o resultado é a abertura do olhar para novos caminhos e possibilidades.
Cobertura colaborativa: III Marcha das Mulheres Indígenas
Um dos momentos da Oficina de Comunicação foi a cobertura colaborativa da III Marcha das Mulheres Indígenas. A marcha é uma conquista de muitas mulheres de diversos povos que lutam diariamente por visibilidade e voz para suas pautas.
Organizada pela Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), a III Marcha das Mulheres Indígenas, com o tema “Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade pelas Raízes Ancestrais” aconteceu nos dias 11 a 13 de setembro de 2023, em Brasília (DF).
A formação teve foco na cobertura colaborativa da marcha, onde as participantes pudessem colocar em prática todo conteúdo visto durante a oficina. Foi feito também um Plano de Comunicação para organizar as pautas de cobertura. O objetivo foi capacitá-las para que pudessem ser colaboradoras ativas na criação de notícias e conteúdos relacionados a eventos dentro e fora das comunidades indígenas.
Ednalva Palamido Rondon cobrindo a III Marcha das Mulheres Indígenas
Ednalva Palamido Rondon, do povo Kurâ Bakairi no Mato Grosso, representante da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (Umiab), falou da importância de estar pela primeira vez em uma oficina de comunicação: “Essa é minha primeira experiência, esse projeto fez eu abrir minha mente e amadurecer mais, agora eu estou mais confiante. Antes eu ficava nervosa, perdia as falas, agora estou mais tranquila”.
Essas oficinas visam promover democratização da mídia, incentivando uma variedade de vozes a contribuir para outras formas de narrativas. Essas mulheres tem uma ferramenta muito importante, para defesa da existência dos povos originários que é a comunicação.
Essa ação faz parte de uma das atividades do projeto “Patak Maymu que é voltado para o fortalecimento, protagonismo e autonomia das mulheres indígenas da Amazônia e do Cerrado a partir de atividades de formação e articulação que acontecerão ao decorrer dos três anos de vigência do projeto.
Sobre o Projeto
O projeto Patak Maymu tem a duração de 36 meses. Nesse período, acontecerão atividades de formação, comunicação e apoio a projetos, buscando contemplar a diversidade das mulheres indígenas e organizações mistas, incluindo a juventude e indígenas no contexto urbano.
O projeto tem 11 estados de abrangência: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. E conta com a parceria da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira – UMIAB, Takiná -Organização de Mulheres Indígenas de Mato Grosso, Mulheres Indígenas Xakriabá, e Guarani kaiowá e Fundo Indígena da Amazônia Brasileira – Podáali.
Essa iniciativa fortalece a capacidade de articulação das organizações entre si e com outros segmentos a partir das atividades de formação e articulação que acontecerão em encontros inter-regionais e microrregionais.
É uma iniciativa da CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço, com apoio e financiamento da União Europeia.