“500 velas para Meio Milhão de vidas” por memória e justiça

No último final de semana, o Brasil ultrapassou oficialmente o trágico número de 500.000 mil mortes por Covid -19. Diante desse terrível marco, organizações ecumênicas e inter-religiosas que integram a campanha #SilêncioPelaDor e o coletivo #RespiraBrasil realizaram o ato “500 velas para Meio Milhão de vidas”, com o objetivo de afirmar a vida humana e prestar homenagem às vítimas que tiveram suas vidas interrompidas, muitas delas precocemente, pela negligência do governo e falta de políticas públicas.

Em Salvador, a ação foi organizada pelo CEBIC – Conselho Ecumênico Baiano de Igrejas Cristãs; CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço; e FEACT – Fórum Ecumênico ACT Brasil, e aconteceu neste domingo (20), na Sagrada Colina, em frente a Basílica do Senhor do Bonfim. O ato público envolveu esforços de organizações parceiras em seguir os protocolos de distanciamento social e recomendações sanitárias, como a utilização de máscara PFF2 e álcool em gel, para manter a saúde e segurança das pessoas presentes.

Família Souza da Comunidade da Trindade de Salvador: Odijas, Cleia e Cris

Além de representantes das instituições organizadoras, participaram do ato integrantes de movimentos sociais e organizações populares, membros de igrejas, turistas e pessoas que passavam pela localidade – que puderem fazer sua denúncia, viver o seu luto e oferecer orações e energias positivas para aqueles/as que choram por seus entes queridos/as. Para Irmã Jacira Queiroz, da Associação das Educadoras das Escolas Comunitárias (AEEC), foi um momento de comunhão e compaixão. A freira acendeu sua vela e descreveu a importância dessa simbologia nesse período de pandemia: “O ato da luz, das chamas das velas, é para trazer iluminação e fé. Nos trazem forças e energias solidárias para que outras vidas não sejam ceifadas.”.

O que se viu neste ato foram várias manifestações de fé irmanadas pela empatia e pela compressão da dor. Solidariedade com todos/as que perderam familiares e amigos/as. Uma ação silenciosa que pediu não só para que as pessoas expressassem sua sensibilidade, mas também demonstrassem sua indignação pela falta de controle da pandemia e suas consequências sistêmicas de uma sociedade marcada pelo crescimento das desigualdades, do racismo e das violências.

Clique na foto para assistir a intervenção de Taciane Campos – REPROTAI

Taciane Campos Rodrigues, jovem negra integrante da Rede de Protagonistas em Ação de Itapagipe (REPROTAI), realizou uma intervenção no local com questionamentos sobre culpados/as pelos tombamentos dos corpos, em sua maioria negros, causados pelo descaso e negacionismo dos governantes. Muito emocionada, Taciane narrou sobre a perda de pessoas da sua comunidade e do agravamento dos problemas sociais: “É uma indignação muito grande, porque essas mortes poderiam ter sido evitadas. Se houvesse maior responsabilidade do governo federal não haveria esse genocídio. Sem falar nas pessoas que estão morrendo de fome”, conclui a jovem.

Sônia Dias Ribeiro – Visão Mundial

Em números totais de mortes por coronavírus, o Brasil segue em segundo lugar no ranking mundial, com uma média de 2 mil mortes por dia, atrás apenas dos Estados Unidos. Para Sônia Dias Ribeiro, educadora da Visão Mundial, essa situação é alarmante que traz sequelas físicas e psicológicas: “Domingo é  o dia em que simbolicamente as famílias se reúnem. E hoje, isso não é mais possível. 500.000 pessoas morrem, significa que 500.000 de famílias brasileiras estão enlutadas e incompletas. Por conta da omissão do governo, a vida não terá o mesmo sentido. E esse ato foi para nos solidarizarmos e pedirmos força para quem ficou. É muito importante para que a gente deixe marcado como luto e como luta”, descreve Sônia.

O ato “500 velas para Meio Milhão de vidas” foi realizado em diferentes capitais, além de cidades do interior, reunindo milhares de pessoas em todas as regiões do Brasil.

Assista aqui a cobertura do ATO com depoimentos: