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O último relatório da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (02 de outubro) registrou que 837 indígenas faleceram em decorrência da Covid-19 e 34.608 mil deles de 158 povos foram contaminados. O Mato Grosso do Sul, que abrange a segunda maior população de povos originários no Brasil, guarda outra particularidade que agudiza a existência e saúde dessas comunidades: o agronegócio (principal fonte de renda dos indígenas que se deslocam à cidade, mas também principal fonte de contato pelo coronavírus).

Foi o agronegócio o principal responsável pela entrada do vírus em diversas aldeias do Estado. Na Reserva Indígena de Dourados, a doença entrou por meio de uma funcionária indígena de um frigorífico da JBS. Já em Caarapó, os dois primeiros infectados na aldeia Teý’ikue eram trabalhadores da cana-de-açúcar, conforme apurou a Repórter Brasil.

Com aldeias populosas e sem o rápido afastamento dos indígenas que são a força de trabalho do agronegócio no Mato Grosso do Sul, o coronavírus encontrou o cenário perfeito para se disseminar rapidamente. Ao contrário de aldeias da Amazônia, as comunidades Guarani e Kaiowá são próximas a centros urbanos ou a plantações e a frigoríficos. Muitos deles trabalham em atividades consideradas essenciais, como coleta de lixo, na área de saúde e também no agronegócio.

A região de Dourados tornou-se o epicentro da pandemia no Estado, com quase 2.000 infectados, dos quais 136 são indígenas, segundo dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Desse total de contaminados indígenas, 33 são empregados do frigorífico da JBS, conforme informou o Ministério Público do Trabalho. “90% dos casos em Dourados estão relacionados [direta ou indiretamente] à JBS”, afirma o procurador da República, Delfino de Almeida.

Essa realidade desastrosa de rápida contaminação, associada à histórica luta por demarcação de territórios e ausência de políticas públicas, vulnerabilizam ainda mais a existência dos povos da região. A Comissão Regional de Justiça e Paz de Mato Grosso do Sul solicitou e recebeu ajuda emergencial da CESE para apoio aos indígenas Guarani Kaiowa afetados pela Covid-19.

O apoio foi destinado a cerca de 200 famílias dessa etnia, de forma a contribuir para a redução do contágio do coronavírus entre as comunidades indígenas da região da Grande Dourados. Itens de higiene pessoal, álcool em gel e produtos para confecção de máscaras constam da lista de distribuição.

“Aqui no Mato Grosso do Sul os Guarani kaiowa estão numa situação difícil de lidar, constata Edivaldo Bispo, secretário executivo da Comissão. A vulnerabilidade dos povos indígenas é a fome e a Covid acentuou esse problema e da saúde juntos aos povos”. Nesse sentido, em ações conjuntas ao Centro de Estudos Bíblicos regional, foram realizadas paralelamente campanhas de arrecadação de alimentos, agasalhos, cobertores e ajuda em dinheiro para compra de alimentos e materiais de higiene, informa.

Essa fome, no entanto, tem várias causas, aponta Edivaldo. Uma delas trata-se das demarcações das terras indígenas. “A principal violação dos direitos humanos é a garantia constitucional aos seus territórios, o reconhecimento das demarcações. Esse direito não garantido tem como consequência a violação de vários outros, como direito à alimentação, a saúde, à educação, às suas religiosidades. A gente tem visto aqui até ataques às suas casas de reza. A terra para eles é tudo”, finaliza o secretário-executivo da Comissão Regional de Justiça e Paz de Mato Grosso do Sul, em esperança-ação para o fortalecimento desses povos nesse período de pandemia global.

(Com informações da Repórter Brasil)