Ato em solidariedade a Brumadinho mobiliza organizações populares e ecumênicas em Salvador

Para registrar a data dos 30 dias do crime-tragédia de Brumadinho, organizações populares e ecumênicas articularam o “Ato em solidariedade às vítimas de Brumadinho e em defesa do Rio São Francisco”, nesta segunda (25/02), no Campo da Pólvora (Nazaré, Salvador-BA). A mobilização, que integrou um calendário nacional de lutas, foi realizada em memória dos mortos; em solidariedade às famílias; e como forma de denúncia dos crimes da mineração e anúncio da esperança.

Acompanhada do som de bumbos, a procissão presente circundou a Praça do Campo da Pólvora, arrastando retalhos de tecidos – uma representação de um rio enlameado, com fauna e flora devastadas. Cânticos e expressões poéticas do Levante Popular da Juventude também ecoaram durante o ato – como forma de denúncia do crime socioambiental de Brumadinho e anúncio do Rio São Francisco que se sonha, revitalizado.

Organizado por entidades ecumênicas e inter-religiosas, pastorais sociais, Via Campesina, sindicatos e pela Frente Brasil Popular, o ato contou com a presença de uma diversidade de atores sociais, que se manifestaram diante do crime tragédia. “Este é o compromisso dessa gente de fé, independentemente da religião, povo de fé que defende nosso Planeta Terra e o vê como uma Casa Comum, onde todos e todas se comprometem a lutar por Justiça. É nosso compromisso com Jesus de Nazaré, com o Deus da Vida, da Justiça e da Esperança que nos faz vir para as praças públicas e não nos calar até emergir aquilo que o profeta Isaías disse. Nesse país, ‘a justiça e a paz andarão de mãos dadas’”, sonha Sônia Mota, pastora da Igreja Presbiteriana Unida e diretora executiva da CESE.

“Uma agressão aos rios é uma agressão à vida. Que esse crime, essa catástrofe, essa tragédia não aconteça mais e que a gente possa enquanto sociedade se organizar e lutar por justiça”, pondera Ana Gualberto, de Koinonia (à esq)

A pastora Célia Gil Pereira (Igreja Episcopal de Confissão Luterana do Brasil) elencou os pontos da nota emitida pelos bispos da Bacia do São Francisco: 1) que todas as famílias atingidas por esse desastre recebam justa indenização; 2) que os responsáveis respondam por seus crimes; 3) que a partir de agora, as instâncias responsáveis tomem medidas preventivas em relação às outras situações semelhantes em Minas Gerais e em outras regiões do país que passam pelos mesmos perigos; 4) que esse acontecimento desperte o clima de solidariedade em todas e todos nós; 5) diante do perigo que passa o nosso Rio São Francisco, que as autoridades competentes tenham força para investir na sua revitalização.

A reincidência da mineradora Vale foi apontada por Moisés Borges, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). “A Vale a BHP Billiton mataram 19 pessoas em Mariana em 2015; mataram toda a Bacia do Rio Doce e agora voltaram a cometer um crime de maior proporção, matando mais de 300 pessoas em Brumadinho (sete dessas vitimas são baianas)”.

Atuação ecumênica na região

O Fórum Ecumênico Brasil Aliança ACT (FEACT) está trabalhando na região de Brumadinho, atendendo 760 famílias atingidas, na perspectiva de Apoio Psicossocial de Base Comunitária. Também está entregando, para 150 famílias, água, alimentos de proteína e materiais de higiene para mulheres e crianças.

Nos próximos três meses, FE ACT vai atuar com parceiros e lideranças comunitárias na coordenação das ações. Uma equipe de facilitadoras e facilitadores, promotoras e promotores e lideranças locais vai garantir a implementação da resposta humanitária, estabelecendo comitês operacionais para a gestão adequada das atividades.

Para sua atuação, FE ACT recebeu apoio do Fundo de Resposta Rápida da Aliança ACT, uma coalisão com sede em Genebra (Suíça), que reúne 151 organizações, como a CESE, baseadas na fé e igrejas, trabalhando juntas em mais de 125 países.

Crime-tragédia de Brumadinho

O modelo de desenvolvimento e mineração predatória que produziram o rompimento da barragem em Mariana (2015) e arruinou o Rio Doce, hoje protagoniza mais uma violação ambiental e dos direitos humanos – também em Minas Gerais, mas com impacto nacional. O rompimento da barragem da Vale liberou 12 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério no Córrego do Feijão e a lama tóxica já atravessou sete quilômetros, atingindo o Rio Paraopeba, um dos afluentes do Rio São Francisco. Existe a preocupação de que, em breve, o material irá contaminar o maior rio do Nordeste.

O rompimento da barragem em Brumadinho já é o maior desastre com vítimas humanas fatais da história da mineração do Brasil – se os desaparecidos forem contabilizados como mortos. Até o momento, são 169 mortes confirmadas e 141 pessoas desaparecidas.