Curso de Incidência Política reúne movimentos para fortalecer lutas sociais. Iniciativa promove troca de saberes e construção de estratégias de impacto político.
Na atual conjuntura de desafios sociais, ambientais e políticos, o fortalecimento da incidência política é essencial para que organizações e movimentos possam fazer frente às desigualdades e injustiças enfrentadas. Com esse propósito, aconteceu entre os dias 25 e 29 de novembro o Curso de Incidência Política: Fortalecendo Grupos Urbanos. Durante cinco dias, os participantes vivenciaram uma intensa jornada de troca de experiências, aprendizado coletivo e construção de estratégias para superar desafios que acometem esses grupos.
Os movimentos participantes atuam em temas diversos como direito à moradia e à cidade, defesa de territórios, desencarceramento, justiça socioambiental, proteção de rios, agroecologia, soberania alimentar, educação, combate à intolerância religiosa, além de questões de raça e gênero. Representantes de organizações como Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba, Associação São Jorge Filho da Goméia, Coletivo Força Tururu, Fórum Popular de Mulheres, Frente de Luta por Moradia Digna, Liberta Elas, Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos, Pacová – Articulação de Cooperação do Campo à Cidade, Rede Sergipana de Agroecologia (ReSeA) e Somos Todos Muribeca compartilharam experiências e construíram novas estratégias para suas lutas.
Desafios do Contexto
O curso abordou os principais desafios enfrentados pelos movimentos sociais, como a criminalização e perseguição de povos originários, quilombolas e comunidades tradicionais, a retração de políticas públicas que aumentam desigualdades e dificultam o acesso a direitos básicos, além de barreiras como o racismo e a exclusão no acesso à educação. Os debates reforçaram a urgência de enfrentar essas questões de forma coletiva, desenvolvendo estratégias integradas e adaptadas às realidades locais.
“Estar aqui é entender que não estamos sozinhos. É acolhimento e fortalecimento coletivo,” relatou Lavinia Pinheiro Varjão, da Pacová – Articulação de Cooperação do Campo à Cidade.
As discussões apontaram também para as barreiras internas enfrentadas pelos movimentos, como falta de recursos, adoecimento mental, insegurança de lideranças e a necessidade de suporte jurídico. Apesar das dificuldades, ressaltaram a importância da colaboração e da construção de redes.
Durante os dias de atividades os participantes mergulham em uma jornada de aprendizado, reflexão e ação. O objetivo é fortalecer estratégias de incidência política e promover um diálogo transformador entre os diferentes campos de atuação.
Ferramentas e Estratégias de Impacto
Foram abordados temas como o uso de tecnologias e redes sociais para amplificar as lutas, a importância de mensagens claras e segmentadas, além da educação popular como motor de transformação social.
Benedita Nascimento, do Fórum Popular de Mulheres, enfatizou: “A comunicação é uma ferramenta essencial para os movimentos, e precisamos usá-la para que nossas narrativas cheguem às pessoas”.
Vanessa Pugliesi, assessora de projetos da CESE, destacou a relevância da comunicação como estratégia de luta: “Precisamos pensar estrategicamente sobre como lidamos com a mídia para contar nossas histórias e combater narrativas falsas.”
Iniciativas de educação popular antirracista e arte como forma de incidência política também foram apontadas como potências transformadoras.
Resultados e Projeções
Os grupos estudaram estratégias para incidir politicamente e mobilizar ações em seus territórios. Exemplos práticos incluíram desde diálogos com setores políticos e ocupações estratégicas até discussões sobre políticas públicas. “Aprendemos que as táticas variam conforme as necessidades de cada território. Essa troca foi essencial para construirmos novos caminhos”, afirmou Leandra Santana, integrante do Coletivo Força Tururu.
A diversidade de vozes presentes no curso são um lembrete poderoso de que, juntos, somos mais fortes. Como destacou Pery Rocha, da Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba: “As nossas raízes são as mesmas, mesmo que os galhos sejam diferentes. Lutamos pela mesma coisa: justiça social.”
A sensação de união e gratidão esteve presente no encerramento. Benedita destacou: “Voltar às ruas e lutar por uma sociedade mais justa é nosso compromisso. Vamos multiplicar esse conhecimento em nossos territórios.”
Parcerias e Impacto
Essa formação integra o programa “Virando o Jogo”, apoiado por Misereor, ministrado pela CESE no Brasil em parceria com a Wilde Ganzen. A iniciativa reafirma que a luta é coletiva e se fortalece com a diversidade de vozes.
Cristiano Sales, do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos, resumiu: “A comunicação só acontece quando o outro entende. Nossa missão agora é transformar o que aprendemos em ações efetivas.”