Com a chegada da primavera, a CESE convidou igrejas, movimentos sociais, organizações ecumênicas e populares para semear boas sementes e regar a esperança em roda de diálogo.
O escritório da CESE recebeu dezenas de pessoas para ouvirem as inspirações proféticas da pastora feminista Odja Barros e do biblista e professor Edmilson Schinelo. Convidada e convidado para a iniciativa, Odja e Edmilson se reuniram no dia 19 de setembro, em Salvador (BA), na roda de diálogo do lançamento da 23 ª Edição da Campanha Primavera para a Vida, que esse ano trouxe como tema: ‘Semeando boas sementes, regando a esperança – “A Paz é fruto da justiça” (Isaías 32, 17), em alusão a trajetória de 50 anos da organização.
Esse ano, de modo especial, a Campanha Primavera Para a Vida ocorre no contexto do 50º aniversário da CESE. São cinquenta anos semeando boas sementes e regando a esperança no solo do Brasil. “Em cinco décadas de trabalho continuamos a esperançar, pois acreditamos que ainda podemos contribuir na construção de país mais justo. A força que vem do chão do povo, as lutas populares, a ousadia a das lutadoras e lutadores nos compromete a continuar caminhando e esperançando.”, afirmou Sônia Mota, diretora executiva da CESE, durante a abertura.
“Estamos comemorando a campanha da primavera. Um misto de alegria, mas também de dor, porque é muito difícil a luta por direitos no Brasil”, anunciou Edmilson Schinelo, na tentativa de jogar luz sobre o cenário do país. O biblista rememorou o assassinato do casal, Sebastiana e Rufino, rezadores Guarani Kaiowá que morrem carbonizados em um incêndio criminoso. “Um templo foi queimado com a sacerdotisa e o sacerdote dentro. Uma barbaridade, assim como foi com Mãe Bernadete, Marielle Franco e tantas lideranças que foram sucumbidas na resistência.”, descreve Schinelo.
Focando no campo das confissões de fé, o professor abordou o crescimento das intolerâncias e a necessidade superar a visão colonial sobre os corpos e as vidas das pessoas: “Onde há uma casa de reza há vida, um espaço sagrado do povo Guarani. E faz tempo que esses indígenas do Mato Grosso Sul estão enfrentando constantes ataques. O mesmo acontece com os terreiros de candomblé. São fenômenos do pentecostalismo católico e evangélico que demonizam as religiões e espiritualidades tradicionais, e que resultam em tantas violências.”, e apontou para a necessidade de rearticulação popular para disputa de narrativas, enquanto cristão:
“Deus espera de nós cristãos três coisas: Primeiro, que a gente pratique a justiça. E para fazer isso precisamos pressionar e cobrar por políticas públicas, independente do governo. Segundo, que amemos de verdade e uma dessas práticas é a solidariedade. E por fim, caminhar com humildade, no sentido de reaprender através da educação. Com as crianças, por exemplo, o quanto a diversidade é importante e necessária. Ou disputando narrativas nos espaços religiosos e também comunicacionais.”, reforça Schinelo que também é colaborador junto ao CEBI (Centro de Estudos Bíblicos).
Ao ler o texto que a CESE se inspirou como tema da Campanha Primavera para a vida “Semeando boas sementes, regando a esperança – “A Paz é fruto da justiça” (Isaías 32, 17), Odja Barros lembrou a rediscussão da dimensão de lutas identitárias (por exemplo, negras, feministas, indígenas, quilombolas): ”Não semeamos do mesmo jeito. As sementes podem até ser a mesma, mas os terrenos e as condições de semeaduras não são. Para alguns grupos vai ser muito mais difícil semear boas sementes.”, afirma a teóloga.
Ao interpretar o texto bíblico de Isaías 32, a partir da hermenêutica da suspeita, Odja narra como a linguagem profética e poética da Bíblia descreve o que seria um reinado de justiça e paz, trazido por um rei justo, e também uma passagem dirigida para que as mulheres sossegadas e tranquilas se levantem. Para ela, o livro do Profeta serve para chamar atenção em não confiar nas alianças políticas dos governos e que a esperança não será trazida por chefes de estados e governantes: “Nós mulheres, indígenas, quilombolas, povo negro, grupos de um modo é que faremos nossa semeadura. As boas sementes do direito e da justiça não viram de cima.”, afirma.
Para a pastora feminista, o tema da campanha que traz como divisa: “A paz é fruto da justiça’’ (Isaías 32:17) chama os leitores/as para o desassossego: “Paz sem voz, não é paz. É medo! Nada de ficar em paz, na tranquilidade e conforto, seja em qualquer governo.”, alerta. E lembra a recente movimentação da Marcha das Margaridas que reuniu mais de 100 mil mulheres desassossegadas em Brasília para mostrar que continuam firmes na luta pelos direitos, pela democracia e por justiça social: “Elas nos ensinam o que seria hoje a metodologia de Isaías, de como podemos acolher esse chamado. Precisamos estar desassossegadas”, exemplifica Odja.
Tanto para Odja como para Edmilson a Campanha Primavera para a Vida da CESE cumpre o papel do chamar para reflexão, de associar a temática da justiça, paz e integridade da criação às demandas da sociedade. Para o biblista é uma iniciativa que tem uma espiritualidade forte e impulsiona: “Nos faz reacender a paixão por transformação. Nos apaixonar de novo, a partir de um novo ciclo.”. Para a teóloga “ A campanha é guardiã da semente, que produz vida e direitos. É semeadura desassossegada porque nada que vem de cima será sombra e abrigo. Pelo contrário, é o grito que movimenta porque a luta não pode parar.”, conclui.
Na data, a CESE lançou a publicação Campanha Primavera para a Vida 2023 para inspirar as comunidades de fé a refletirem sobre um tema que relacione fé, esperança e a nossa luta cotidiana por justiça e equidade. Uma nova ferramenta para discussão coletiva também com organismos ecumênicos, movimentos sociais e organizações populares.
Sobre a publicação:
Faz parte da tradição da campanha da primavera da CESE a construção coletiva de subsídios teológicos para inspirar as comunidades de fé a refletirem sobre um tema que relacione fé, esperança e a nossa luta cotidiana por justiça e equidade. Assim, surge a publicação que este ano tem a temática da campanha: Semeando boas sementes, regando a esperança e traz como divisa: “A paz é fruto da justiça’’ (Isaías 32:17).
Uma nova ferramenta para discussão coletiva que pode contribuir para reflexões entre igrejas, organismos ecumênicos, movimentos sociais e organizações populares.
Os artigos são assinados por representações das Igrejas que compõe a CESE e parceiros/as da organização: Kezzia Cristina Silva e Waneska Bonfim (Diaconia); Pastora Carla Suzana Kruger e Pastor Renato Kuntzer (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil); Edmilson Schinelo (Centro de Estudos Bíblicos); Reverendo Adriano Portela (Igreja Episcopal Anglicana do Brasil); Bárbara Aguiar, Erika Farias, Juliene Albuquerque, Nathalia Teixeira, Rafaela D’tony, e Rayane Lin (Coletivo Vozes Maria); Reverendo Vitor Sousa (Igreja Presbiteriana Unida do Brasil); e Luís Padilha (Igreja Presbiteriana Independente do Brasil).
A publicação é composta ainda por “Histórias de vidas e resistências que regam a esperança”: Clarissa Trevas (Liberta Elas/PE); Makota Celinha (Centro Nacional de Africanidade e Afro-Resistência Brasileira – CENARAB/MG); Valdecir Nascimento (Rede de Mulheres Negras do Nordeste); Leandro dos Santos (Comunidade de Cocalinho e Guerreiro/MA); Tailani Wajuru Povo Wajuru/RO); Jorge Lima (GT das Juventudes Rurais do Bico do Papagaio/TO); e Padre Luiz Claudio da Silva (Comunidade de Santa Terezinha/MT).
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