A Igreja Batista do Pinheiro chegou aos seus 53 anos de existência em meio a uma luta de 5 anos resistindo ao crime ambiental e social resultado da exploração de sal-gema da mineradora Braskem há mais de 40 anos em Maceió, Alagoas.
Nossa resistência e permanência no bairro do Pinheiro, um dos 5 bairros afetados por esse crime, é orientada por pesquisadores, técnicos e pela própria Defesa Civil de Alagoas, que por diversas vezes vistoriou nosso espaço de culto, e desde 2021 tem assegurado que o nosso território é seguro e permanece longe de qualquer risco de afundamento até o presente momento. A resistência da IBP em um território em ruínas é o nosso grito permanente de denúncia profética do maior crime socioambiental em solo urbano do mundo causado pela Braskem em Maceió.
O que estamos acompanhando nos últimos dias, desde o dia 28 de novembro, é mais um triste capítulo desse pesadelo, dos danos gerados pelo crime da mineradora. O possível colapso da mina 18 na região do Mutange, já desocupado há pelo menos 2 anos, causará danos graves e incalculáveis à Laguna Mundaú (conhecida popularmente como Lagoa Mundaú) e ao seu ecossistema. As populações mais vulneráveis do Bom Parto e dos Flexais protestam há meses por uma realocação digna e segura para seus moradores. A Braskem, a Defesa Civil e a Prefeitura de Maceió foram irresponsáveis mantendo a população naquela região, garantindo ausência de risco. Agora, na iminência do colapso de uma das minas, esta mesma população está sendo retirada com força policial às pressas e jogadas em escolas públicas, de forma apressada e indigna. Na mesma situação estão os pescadores daquela região que já sofrem nos últimos anos com as consequências da poluição e do crime ambiental na Lagoa Mundaú, com a escassez da sua principal fonte de sustento, e agora com a proibição completa e talvez até permanente de pescar naquele perímetro. O que estamos presenciando é mais um desdobramento do racismo ambiental praticado por um conluio entre empresa privada e gestão pública, os detentores do poder que decidem quais existências importam mais e quais devem viver, padecer ou morrer.
Solidarizamo-nos mais uma vez com as dores e as rachaduras emocionais das mais de 60 mil pessoas diretamente atingidas pelo crime da Braskem, famílias, empresários, equipamentos de saúde, escolas, igrejas católicas, igrejas evangélicas, terreiros de candomblé, centros espírita, comunidades de fé, espaços de convivência e acolhimento que foram obrigados/as a ceder às precárias condições de negociação desta empresa e abandonar seus territórios físicos, afetivos e simbólicos.
Sim, Maceió está afundando, mas não como dizem as mídias sensacionalistas e as correntes de desinformação que tentam aterrorizar a população em mais um capítulo, até porque quem está aterrorizado não consegue se mobilizar, não é mesmo?
Maceió está afundando há mais de 40 anos pela exploração irresponsável e gananciosa de sal-gema que resultou na subsidência de um território central da nossa capital. A capital alagoana está afundada pela ganância da mineradora Braskem legitimada pelos nossos órgãos públicos que tem sido conivente com um crime ambiental sem precedentes, afundando junto com a lentidão do processo de responsabilização e criminalização da Braskem por todos os prejuízos causados às populações e territórios atingidos.
A primeira nota formalizada e veiculada pela Pastoral Ambiental da Igreja Batista do Pinheiro só reitera e reforça a resistência profética dessa comunidade de fé que vem lutando como a mulher grávida com dores de parto do capítulo 12 de Apocalipse contra um dragão vermelho que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre as suas cabeças sete diademas.
O Dragão é a Braskem, esta empresa que enquanto coloca a cidade de Maceió em polvorosa e amedrontada sem saber o que está por vir e quais serão as consequências aqui num pedacinho do Nordeste do Brasil, está se apresentando em estandes como empresa verde e sustentável durante a 28º Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas em Dubai, onde o mundo está reunido para coordenar ações globais climáticas, intimidando ativistas e boicotando iniciativas de mobilização e denúncia do maior crime ambiental em área urbana do mundo.
Seguiremos na resistência como a mulher grávida com dores de parto do Apocalipse, inspirados e inspiradas no exemplo de Jesus de Nazaré, seguros e seguras na fé do Deus Conosco que tem chorado essas lágrimas de sal de mãos dadas com a nossa comunidade.
Pastoral Ambiental e Juventude da Igreja Batista do Pinheiro
01 de Dezembro de 2023