Há cinquenta anos, no contexto da ditadura militar e de inúmeras violações de Direitos Humanos, nascia no Brasil a Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE, inspirada no princípio cristão que prioriza vida digna e abundante e na Declaração Universal dos Direitos Humanos que servia como referência para garantir o mínimo de dignidade para as pessoas mais vulneráveis social e economicamente.
Fundada a 13 de junho de 1973, em Salvador, na Bahia, com a participação da Igreja Católica Apostólica Romana, representada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, da Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo, da Igreja Metodista e da Missão Presbiteriana do Brasil Central, com o apoio do Conselho Mundial de Igrejas – CMI, a CESE surge como um sinal de esperança ao adotar o ecumenismo de serviço voltado para a defesa de direitos: um serviço politizado para atender às demandas dos movimentos sociais e apoiar medidas efetivas que contribuam para transformar a situação das populações mais marginalizadas e excluídas do país.
Desse modo, a CESE inaugurou um novo conceito de diaconia e de filantropia, superando o assistencialismo e atuando nas causas dos principais problemas sociais, cumprindo sua missão de fortalecer movimentos sociais, movimento ecumênico e inter-religioso, grupos populares e outras organizações, empenhadas nas lutas por transformações políticas, econômicas, sociais e ambientais que conduzam a estruturas em que prevaleça democracia com justiça, na perspectiva dos direitos humanos e da integridade da casa comum.
Ao longo dessas cinco décadas, a CESE tem se empenhado para cumprir sua missão com muita dignidade e responsabilidade. O Programa de Pequenos Projetos tem espalhado as boas sementes do Ecumenismo para Direitos Humanos, apoiando iniciativas comunitárias e movimentos sociais em todo o Brasil, de modo especial nas regiões Norte e Nordeste, onde os recursos governamentais e das grandes agências chegavam com muita dificuldade.
Além do Programa de Pequenos Projetos, a CESE tem proporcionado formações e produzido subsídios na área de Direitos Humanos, tornando-os acessíveis para movimentos sociais, Igrejas e Organizações Baseadas na Fé. , Neste 10 de dezembro, data em que celebramos o Dia Internacional dos Direitos Humanos, destacamos a histórica Cartilha Universal dos Direitos Humanos que, desde 1973 até hoje, já teve mais de dois milhões de exemplares distribuídos.
Esta cartilha, tendo como texto base a Declaração Universal dos Direitos Humanos e artigos do PIDESC – Pacto Internacional Sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, referenciados por textos bíblicos, busca reafirmar que a violação aos Direitos Humanos é uma afronta ao próprio Deus. Sobre essa reedição, a Diretora Executiva da CESE, Pra. Sônia Mota, disse que:
“A evidente afinidade entre a Declaração, os pactos e a interpretação bíblica que nos aponta para a Boa Nova do Evangelho libertador de Jesus Cristo tem servido de estímulo para que esta publicação seja lida e estudada em comunidades. A dimensão universal da cartilha é mais que verdadeira e necessária. Afinal, muitos dos dilemas do mundo, como o racismo, a intolerância, a banalização da morte e vítimas de guerras, não diferem tanto de nossa própria realidade, com as chacinas de sem terras, indígenas e quilombolas no ‘Brasil profundo’ e o extermínio de jovens negros nas periferias urbanas. Sucedem-se crimes socioambientais pela avidez de um produtivismo desenfreado contra nossas florestas e recursos naturais, ditado, especialmente, pela expansão insustentável do agronegócio e da mineração. Um tempo de guerra, sem paz, agravado pela instabilidade política com elementos evidentes de estado de exceção que, esperamos, seja logo superada pela vontade democrática das imensas maiorias, pessoas de bem.”
A Fala da Diretora Executiva demonstra a atualidade dos temas tratados na cartilha, ao tempo que deixa evidente os motivos pelos quais o Ecumenismo para Direitos ainda é tão importante e necessário em nosso contexto.
Assim, a CESE reafirma o compromisso de seguir cumprindo sua missão, na perspectiva profética que denuncia as violações de Direitos Humanos e afirma sua crença de que é possível a construção coletiva de um mundo mais justo para todas as pessoas.