“Por muito tempo, meus antepassados foram impedidos de expressar suas manifestações culturais. Este aqui é um espaço nosso. Um encontro para celebrar nossa ancestralidade.” A fala é de Jeisy Holanda. A jovem quilombola vive no Quilombo Custaneira, em Paquetá (PI). Entre os dias 7 e 9 de junho, o território recebeu o encontro “Ancestralidade e vivências: VIII Encontro Nacional de Casas de Terreiros de Comunidades Quilombolas”.
Com maioria absoluta de quilombolas, cerca de 1500 pessoas de mais de 200 comunidades do Piauí e também de outros estados como Goiás, Bahia, Maranhão e Distrito Federal passaram pelo Quilombo para celebrar suas ancestralidades. A iniciativa recebeu apoio da CESE através do Programa de Pequenos Projetos.
O encontro teve como principal objetivo proporcionar um momento de escuta aos mais velhos, de repasse e reafirmação dos saberes quilombolas. Um momento de troca cultural entre comunidades, terreiros e mesmo docentes e discentes do meio acadêmico. Um momento celebrativo e formativo da cultura negra.
Jeisy é Secretária da Associação de Desenvolvimento Rural Quilombola de Custaneira, responsável pela realização do evento juntamente com a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ-PI). Ela, que foi uma das organizadoras do evento, pontua a importância de ver os mestres da academia ouvindo o que seus mestres e ancestrais têm a dizer.
“Quando estamos em outros espaços, nós é que temos nossas vozes limitadas. Foi incrível eles estarem aqui como ouvintes, interessados em conhecer nossos saberes.” Nesse contexto, entram as diversas rodas que foram realizadas ao longo do encontro, com temas como “O Saber Ancestral confluindo pelo tempo em diálogo com a natureza” ou mesmo sobre agroecologia, sustentabilidade e plantas medicinais.
“Tivemos as oficinas sobre o uso das palhas. Essa foi voltada mais para as crianças que sentaram e ali aprenderam um trançado, tiveram contato com essa cultura, com essa forma de artesanato que vem se perdendo. E a palha está envolvida não somente no artesanato, mas na nossa vida como um todo. Desde a moradia à forma de renda e à própria medicina natural”, explica Jeisy.
Apesar do nome do encontro enfatizar a relação com as Casas de Terreiros, ela afirma que o encontro não encerra na religiosidade. “Garantimos o espaço para a gente construir e conversar sobre direitos humanos, aquilo que a gente quer e como podemos avançar em pautas que são fundamentais para o nosso povo.”
Jeisy fala da importância de ter conseguido apoio da CESE para a realização da oitava edição do encontro. “Tudo que a gente conseguiu até o encontro do ano passado foi através da luta, da resistência e da teimosia de nossas comunidades. Então eu acredito que o apoio da CESE vem como providência da ancestralidade mesmo. Para que a gente entenda que estamos no caminho certo. Que temos apoio de instituições que se importam e respeitam a nossa causa”, finaliza.